terça-feira, 28 de junho de 2011

TABAS DE POTY SOTERRADAS

Passei em volta do Machadão e vi que a área está quase toda cercada. Dá uma tristeza ver que o Machadão está prestes a ser implodido. Fica parecendo aquele paciente que está prestes a ir para a faca numa cirurgia que já se sabe que ele não resistirá.
Sandro Alves, Candelária

Modernidade é a preservação da História. Destruir suas marcas, um crime de abandono ao futuro.
Eduardo Alexandre
Foto: Argemiro Lima, Novo Jornal
Aqui jaz uma cidade
Adriano de Sousa
Novo Jornal, 27 de junho de 2011

Cercaram o meu campo de memórias na Jerimunlândia com o muro metálico do esquecimento.

Arrancaram a grama onde nossos parcos poetas de chancas federais (Alberi, Souza, Danilo Menezes, Dedé de Dora, Sérgio Poti, Marinho Apolônio, Hélcio Jacaré, Odilon) escreveram os versos que nós, os beletristas de esquina, jamais lograremos replicar.

Apagaram as luzes primordiais que, por duas décadas, constelaram tardes de domingo e, por outras duas, alumiaram com sombras a decadência do ludopédio nesta terra do irremediável já-teve.

O cercamento é o prelúdio ao drama final inscrito com letras cúpidas na página da paisagem indiferente.

A suavidade clara dos tapumes é enganosa.

Há ali, em estado de latência e metáfora que só a alma roubada pode captar, o negror áspero do arame farpado – subtexto a gritar mais alto que as justificativas dos filisteus que nunca bateram um escanteio na vida.

São escravos do tempo físico. Cegos do tempo histórico. Ignoram que o futuro começa no passado, e que não há modernidade – mesmo essa, duvidosa, que se veste com as grifes da despersonalização – descolada da tradição.

Vanguarda, senhores das picaretas & outras gazuas, é a retaguarda que deu certo.

Naquelas linhas harmoniosas, desenhadas pelo arquiteto à revelia das razões do vento que soprava do mar para atabalhoar quipas e beques desavisados, eu sempre soube quem fui, e fui sempre quem eu era.

Geraldino ou arquibaldo, um dínamo de paixões juvenis cultivadas timidamente, sem outro alarde que o do coração acelerado pelas trivelas boçais do Negão, que não distinguiam os grandes dos pequenos; pelos 1-2 fulminantes de Silva & Marinho no esquadrão oitentista de 104 gols; pela bicicleta improvável de Sérgio Alves num ABC x América já deste século – rasgo de gênio, temporão, em dias corroídos pela mediocridade.

Um epitáfio perfeito – e profético.

Aqui jaz. E nunca mais.

Sim, a nostalgia é a subversão do tempo linear; é o tempo congelado nos cimos que a razão não alcança.

Mas, quem ousaria falar de racionalismos, se o que se vê no bota-abaixo geral é o obscurantismo impondo decisões ditadas pela lógica escrota do negocismo, sem nenhum vínculo com a razão iluminista?

No futuro, quando os arqueologistas escavarem as fundações da Meganatalópolis que soterra a Cidade do Sol que soterrou a Fazenda Iluminada que soterrou a Noivinha do Sol que soterrou a Cidade dos Reis que soterrou a Província Com Ar de Chacra que soterrou a Nova Amsterdã que soterrou a Ciudad de Santiago que soterrou a Taba de Poty-Mais-Grande – hão de encontrar, numa bolha de tempo em suspensão, camadas e camadas de memórias superpostas em caótico alumbramento.

E nelas os rostos & os nomes, as cores & as formas, os risos & as lágrimas, os lances & os relances que, por um breve interlúdio, fizeram do colosso da Lagoa Nova o poema de concreto armado em que a cidade se reconhecia na festa comum de ser ela mesma.

E que agora vai abaixo porque nos faltou, nos falta e nos faltará quem lesse no deslizar de uma bola sobre o tapete verde a identidade (mesmo que tosca) de uma gente e a grandeza (ainda que mínima) de um lugar.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

FESTA MACABRA

Publicado na seção Feira Livre, o artigo Festa Macabra, de Demétrio Magnoli e Adriano Lucchesi, implode a farsa montada em parceria por escroques encastelados na FIFA, supercartolas que saqueiam o País do Futebol desde o século passado, corruptos acampados em ministérios, vigaristas promovidos a chefes de governo e políticos de quinta, todos patrocinados por empreiteiros que só não vendem a mãe quando a mercadoria já morreu. Copa do Mundo é o nome oficial da coisa. Podem chamá-la de Copa da Roubalheira que ela atende.

Festa macabra

ARTIGO PUBLICADO NO ESTADÃO DESTA QUINTA-FEIRA

Demétrio Magnoli e Adriano Lucchesi

“Há uma percepção crescente de que a aritmética da Copa do Mundo é um tanto instável”, escreveu o Times de Johannesburgo um mês depois do triunfo da Espanha nos campos sul-africanos. “Temos estádios em excesso para nosso próprio uso. Talvez devêssemos exportar estádios para o Brasil, que fará sua Copa do Mundo?”. A constatação estava certa; a sugestão, errada. O Brasil, país do futebol, terá o mesmo problema que a África do Sul, país do rúgbi. Aqui, como lá, a festa macabra da Fifa é um sorvedouro implacável de recursos públicos.

Mafiosos usam a linguagem da máfia. Confrontado com evidências de corrupção na organização que dirige, Sepp Blatter avisou que tais “dificuldades” seriam solucionadas “dentro de nossa família”. As rendas de radiodifusão e marketing da Fifa ultrapassaram os US$ 4 bilhões no ciclo quadrienal encerrado com a Copa da África do Sul. O navio pirata já se moveu para o Brasil, onde a Fifa articula com seus sócios a rapina seguinte.

O brasileiro João Havelange planejou a globalização do futebol, expandindo a Copa para 24 seleções, em 1982, e 32, em 1998. Blatter concluiu a transformação, rompendo a regra de rodízio de sedes entre Europa e América. Como constatou a Sports Industry Magazine, sob um processo milionário de licitação do direito de hospedagem, as ofertas nacionais assumiram “a forma de promessas de mais e mais pródigos novos estádios para os jogos e novos hotéis luxuosos para uso dos dirigentes da Fifa e de fãs endinheirados”. A Copa é um roubo: as despesas são pagas com dinheiro público, de modo que a licitação “constitui, de fato, um esquema de extração de renda concebido para separar os contribuintes de seus tributos”.

O saque decorre da conivência de governos em busca de prestígio e de negociantes em busca de oportunidades. Na Europa a rapinagem é circunscrita por uma cultura política menos permeável à corrupção e pela existência prévia de modernas infraestruturas hoteleiras, esportivas e de transportes. Por isso a Fifa seleciona seus próximos alvos segundo critérios oportunistas de vulnerabilidade. Encaixam-se no perfil África do Sul e Brasil, países emergentes que ambicionam desfilar no círculo central do mundo, assim como a semiautoritária Rússia, sede de 2018, e a monarquia absoluta do Qatar, que bateu a Grã-Bretanha na disputa por 2022.

Antes das Copas, consultores associados às redes mafiosas produzem radiosas profecias sobre os efeitos econômicos do evento. Depois, quando emergem os resultados efetivos, eles já estão entregues à fabricação de ilusões no porto seguinte. A África do Sul gastou US$ 4,9 bilhões em estádios e infraestruturas, que gerariam rendas imediatas de US$ 930 milhões derivadas do afluxo de 450 mil turistas, mas só arrecadou US$ 527 milhões dos 309 mil turistas que de fato entraram no país.

O verdadeiro legado positivo da Copa de 2010 foi a mudança de paradigma no sistema de transporte público urbano, pela introdução de ônibus, em corredores dedicados, e do Gautrain, trem rápido de conexão com o aeroporto de Johannesburgo. Os ônibus enfrentavam selvagem resistência dos sindicatos de operadores de peruas, superada pelo imperativo urgente do evento esportivo. O Gautrain serve exclusivamente à classe média, com meios para adquirir bilhetes cujos preços excluem a população pobre. Mas o argumento de que sem uma Copa, não se realizariam obras necessárias de mobilidade urbana equivale a uma confissão de incompetência da elite dirigente.

Eventos esportivos globais tendem a gerar ruínas urbanas, mesmo em países mais inclinados a zelar pelo interesse público. Japoneses e sul-coreanos ainda subsidiam a manutenção das arenas da Copa de 2002. As dívidas contraídas para as obras da Olimpíada de Atenas e da Eurocopa de 2004 aceleraram a marcha rumo à falência da Grécia e de Portugal. A África do Sul incinerou US$ 2 bilhões na construção e reforma das dez arenas da Copa. Todas, com exceção do Soccer City, de Johannesburgo, usado para jogos de rúgbi e shows, figuram hoje como monumentos inúteis, conservados pela injeção de dinheiro público. A Cidade do Cabo paga US$ 4,5 milhões ao ano pela manutenção da arena de Green Point, erguida ao custo fabuloso de US$ 650 milhões e usada apenas 12 vezes depois da Copa. Lá se desenrola um melancólico debate sobre a alternativa de demolição do icônico estádio, emoldurado pela magnífica Table Mountain.

O Brasil decidiu ultrapassar a África do Sul. Aqui, serão 12 arenas, a um custo convenientemente incerto, mas bastante superior aos dispêndios sul-africanos. As futuras ruínas já drenam vultosos recursos públicos, mal escondidos sob as rubricas de empréstimos do BNDES e subsídios estaduais e municipais. O governo paulista prometeu não queimar o dinheiro do povo na festa macabra da Fifa, mas o alcaide Gilberto Kassab assinou um cheque público de US$ 265 milhões destinado ao estádio do Corinthians. São 16 centros educacionais, para 80 mil estudantes, sacrificados por antecipação no altar de oferendas às máfias da Copa. O gesto de desprezo pelas necessidades verdadeiras dos contribuintes reproduz iniciativas semelhantes adotadas, Brasil afora, por governos estaduais e municipais.

Segundo a lógica perversa do neopatriotismo, a Copa é um artigo de valor só mensurável sob o prisma da restauração do “orgulho nacional”. De fato, porém, a condição prévia para a Copa é a cessão temporária da soberania nacional à Fifa, que assume funções de governo interventor por meio do seu Comitê Local. O poder substituto, nomeado por Blatter, já obteve o compromisso federal de virtual abolição da Lei de Licitações e pressiona as autoridades locais pela revisão das regras de concorrência pública. Malemolentes, ao som dos acordes de um verde-amarelismo reminiscente da ditadura militar, cedemos os bens comuns à avidez dos piratas.


Por Edmar Lyra Filho
para o Acerto de Contas

http://acertodecontas.blog.br/artigos/copa-do-mundo-de-2014-quem-pagar-a-fatura/


O anúncio do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014 foi o início de uma expectativa de que teríamos a grande oportunidade de reestruturar questões como transporte público, hospedagem, aeroportos, etc. Além disso, uma grande perspectiva de reformar estádios lendários como o Morumbi, o Maracanã, a Fonte Nova, o Mineirão, o Arruda, entre outros.

Infelizmente as expectativas foram se transformando em apreensão e principalmente quando houve o veto de estádios como o Arruda em Pernambuco e o Morumbi em São Paulo. Dois verdadeiros templos do futebol que ficaram de fora da Copa de 2014.

Em São Paulo, onde estava sendo cogitada a abertura da Copa do Mundo, o estádio do Corinthians em Itaquera aumentou de R$ 650 milhões para R$ 1 bilhão e há o impasse sobre quem pagará a diferença de R$ 350 milhões a empreiteira que irá construir o estádio.
No Rio de Janeiro a reforma do Maracanã, que estava orçada em R$ 600 milhões, já está na casa de R$ 1 bilhão também.

Em Pernambuco o projeto Cidade da Copa é um descalabro. Também na casa de R$ 1 bilhão, o estádio que será construído em São Lourenço da Mata, no meio do nada, vale salientar, não está em condições viáveis para o que, em tese, deveria estar.

O então Presidente Lula e Ricardo Teixeira, presidente da CBF, disseram que a construção de estádios seria realizada pela iniciativa privada. Uma mentira deslavada. Todos os estádios estão sendo financiados pelo BNDES, ou seja, dinheiro público investido em estádio.
Os aeroportos estão em uma situação vergonhosa e dificilmente chegarão em 2014 em condições de atender os turistas que visitarão o Brasil. Sem dúvidas teremos um apagão aéreo, com maior ênfase na Copa, porque já vivemos em épocas de elevado fluxo de passageiros. A saída que o governo achou foi privatizar os aeroportos, mas conceder à iniciativa privada nessa altura do campeonato não irá resolver os problemas para 2014.

A rede hoteleira não tem o apoio necessário, em várias cidades não estamos observando construção de novos hoteis para receber o elevado fluxo de pessoas que virão ao país. Recife, por exemplo, já opera quase que diariamente em 100% da sua capacidade. Imagina na Copa do Mundo? E são poucos os hoteis que serão construídos para 2014.

Sob o ponto de vista do trânsito, devido ao elevado fluxo de veículos, várias capitais estão totalmente estranguladas e o turista que vier ao Brasil vai enfrentar engarrafamentos quilométricos. Além do mais não terá metrô de qualidade e muito menos ônibus para poder passear pelas cidades.

A segurança pública também é um fator preocupante, as drogas estão tomando uma proporção alarmante e consequentemente contribuindo diretamente para o aumento da violência no Brasil.

Não houve, nem por parte do governo e muito menos da iniciativa privada, projetos eficientes para evitar esses problemas citados sequer fossem lembrados hoje, a dois anos da Copa das Confederações e a três da Copa do Mundo. Não temos sequer um estádio em fase de conclusão, a maioria está em terraplanagem.

Agora o governo quer ‘flexibilizar’ a Lei para que as obras sejam executadas a ponto de ficarem prontas para a Copa do Mundo. Fazer isso é institucionalizar a corrupção para diminuir a incompetência do governo em realizar um evento desse porte.

O Pan de 2007 no Rio de Janeiro estava orçado em R$ 500 milhões, infelizmente os números finais chegaram a inaceitáveis R$ 5 bilhões. E quase tudo o que foi feito no Rio de Janeiro para o evento virou elefante branco. Em miúdos, foi dinheiro jogado no lixo.

Pelo andar da carruagem, até a finalização da Copa de 2014, para que o Brasil não passe vergonha, os brasileiros pagarão caro com o aumento que deverá seguir a proporção dos valores do Pan, ou seja, dez vezes mais do que foi orçado inicialmente.

O Brasil pode até não faturar o hexa em 2014, mas com certeza muita gente vai superfaturar.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

VITRINE SEDE DO BANQUETE DA FIFA

Ilustração: maquete eletrônica vendida a Natal como a redenção da cidade - 3,6 mi jogados fora
O jabuti da Copa
Woden Madruga
Tribuna do Norte, 23 de junho de 2011

A Copa do Mundo está em todas as conversas, em todas as bocas, até porque há bocas poderosas, pantagruélicas, no pedaço. Natal faz parte desta história. Olho grande aliado ao orgulho da cidade ser uma das sedes do banquete da Fifa. "Natal vai ganhar visibilidade na vitrine do mundo", disse um desses filósofos municipais com o peito estufado e a cabeça vazia. Há muita coisa acontecendo nos bastidores e na penumbra das camarinhas. Entreouvir segredinhos revelados nos tais restaurantes metidos a besta já é coisa natural que não arrepia mais o maravilhoso mundo dos negócios e suas veredas pela vida mundana. Natal está no mapa, gente! Vai ter estádio novo, projeto com sotaque grego, obra beirando 1 bilhão de reais, já iniciada - dizem os jornais - com a retirada da grama do Machadão, estádio "velho" e abandonado. Depois da Copa, dizem os ufanistas, Natal será um Principado do Mônaco à beira do Potengi. Quem sabe se um dia não teremos por estas ladeiras uma das etapas da Fórmula 1? Ou uma Grace Kelly cubando o mar dos altos de Petrópolis?

Aqui e acolá você pode se surpreender com a notícia negativa de que Natal ficará fora da Copa. E, então, faça figa. Romário, por exemplo, falou que haverá a Copa, mas as obras não serão concluídas. Disse ainda que somente Jesus, o Nazareno, pode garantir que o Brasil faça uma Copa séria, uma Copa perfeita. Por falar no Nazareno, li, ontem, uma notícia que me deixou preocupado. O dinheiro prometido pelo governo para a conclusão das obras no Nazarenão ainda não foi liberado. O Nazarenão é o Estádio José Nazareno, de Goianinha. É lá que o América, de Natal, sem estádio, escolheu para treinar o seu time que irá disputar a Série C do Brasileiro. O Nazarenão poderá ser, quem sabe, um dos locais de treino para as seleções que virão à Copa. Goianinha ganharia sua visibilidade. Porreta!

Na lista dessas notícias tidas como ruins tem esta outra que li na coluna do Ancelmo Gois, de O Globo: "A Fifa decidiu ontem não mais anunciar dia 30 os nomes dos estádios que vão receber o jogo de abertura e a final da Copa de 2014. Deixou a decisão para setembro ou outubro". Some-se isso a manobra do Palácio do Planalto que mandou projeto para o Congresso determinando sigilo nos orçamentos sobre as obras para a Copa e a Olímpiada. Se muita gente ficou lambendo os beiços, outras tantas ficaram com a pulga atrás da orelha, diante das declarações do senador José Sarney, presidente do Senado: o projeto não passará no Senado. A propósito, recomendo a leitura do artigo de Dora Kramer, do Estadão de ontem, com o título "Jabuti maroto". Transcrevo algumas passagens:

- A presidente Dilma Rousseff tem dois caminhos a seguir, assim que a Medida Provisória 527 (é a que institui o sigilo, por sinal já aprovado na Câmara) seguir para o Senado. Pode recuar da ideia de instituir o sigilo sobre os orçamentos das obras para a Copa e a Olímpiada ou caminhar para uma derrota certa e talvez mais acachapante que a imposta pela Câmara no Código Floresta.

- A julgar pela manifestação do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), contrária à peculiar fórmula proposta pelo Palácio do Planalto, é possível nessa altura que o recuo já esteja nos planos do governo. Afinal, Sarney não é dado a independências nem a confrontos. Mas, se não é jogo combinado, é um aviso de quem amigo é. A declaração não deixa margem a dúvidas: o presidente do Senado diz que o Regimento Diferenciado de Contratações não passa pela Casa com dispositivo de segredo."

Agnelo: Alerta Geral

Perguntas de vestibular
Agnelo Alves
Tribuna do Norte, 23 de junho de 2011
Não preciso recorrer ao meu estoque de perguntas comuns, corriqueiras, feitas até a ermo, banais, com o título de "Perguntas de Vestibular". Todas com alguma ou completa procedência anônima, ou não, mas todas também com alguma lógica para justificá-las. Como, infelizmente, jamais fiz vestibular, analfabeto que sou, embora formado na Universidade da Vida, creio que as perguntas fazem sentido. Vejamos, por exemplo, entre milhares, as mais corriqueiras feitas e repetidas aqui e ali. Algumas explícitas. Outras não contidas na língua imprudente. Por exemplo, entre as mais atualizadas:

O quê danado o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, veio fazer, semana passada, em Natal?

Inspecionar as obras da Copa 2014?

Qual a obra que mais impressionou o presidente da CBF? A demolição de uma creche? A demolição de uma guarita? Ou a retirada de grama e das instalações elétricas e sanitárias do Machadão?

Conferir a descrença dos natalenses quanto aos três jogos da Copa, nenhum da seleção brasileira?

A construção de um novo Hospital, onde hoje existe o Estádio Juvenal Lamartine, acaba com o espetáculo ao vivo dos doentes esperando:

Atendimento para os seus males?

Pela morte?

Pela visita dos agentes funerários?

As decisões da FIFA atentam contra a soberania nacional, quando o Brasil nem sempre acata as decisões internacionais, conforme verificou-se no "caso" da não extradição do italiano condenado na sua pátria por assassinato de quatro pessoas?

Não afetam. O mundo já conhece que as decisões do Brasil não são decisões de Estado e sim de Governo?

Afetam, sim, mas o Brasil já fabrica a melhor pizza do mundo e, portanto, não precisa mais do modelo de pizza italiano;

Na Itália, como no Brasil, tudo ou quase tudo termina em pizza mesmo?

Algum eleitor já atendeu ao apelo-convite ou ao convite-apelo (dá no mesmo, tanto fazendo dar na cabeça, como na cabeça dar) dos políticos para se inscreverem nos seus respectivos partidos?

Não, porque os eleitores não conhecem o endereço de nenhum partido;

Sim, os eleitores estão acorrendo em massa às sedes dos partidos nos quais acreditam;

Não, porque os eleitores não acreditam mais em partidos políticos que perderam a identidade de esquerda e de direita, todos contaminados pela "meia volta volver".

O América agüentará três anos seguidos jogando em Goianinha ou em João Pessoa, distante de sua grande torcida natalense?

Sim, porque a torcida vai ganhar ônibus especial para viajar e ver os jogos do clube, onde quer que ele jogue;

Não, não resistirá nem que cada torcedor ganhe um abadá para o Carnatal em cada jogo, com direito a visitas generosas aos camarotes da Prefeitura e da Destaque?

Não, porque não morrerá sozinho. O ABC também não resistirá sem competir com o América.

Pois é. Quando nada, as "Perguntas de Vestibular" devem servir para um alerta geral. Ou nem para isso servem?

terça-feira, 21 de junho de 2011

CÚMPLICE PASSIVA DO CHEFÃO

Foto: George Fernandes
O OLÉ DE ‘IL PADRINO’ NA IMPRENSA
Adriano de Souza
Novo Jornal, 21 de junho de 2011

A imprensa potiguar foi reprovada no primeiro teste crítico de cobertura da Copa do Mundo de 2014. Portou-se como cúmplice passiva do chefão do futebol brasileiro, durante a visita de Ricardo Teixeira a Natal para mais uma picaretagem que a camelagem chapabranca vende por estratégia de divulgação da cidade e do Matutão da FIFA.

Nenhum veículo ousou puxar o tapete vermelho que cartolas, políticos e gestores públicos estenderam, em coreográfica genuflexão, para os sapatos enlameados do Ricardão I e Único.

O noticiário pautou-se pelo viés mundano, com uma cobertura típica do colunismo social, previamente censurada e restrita aos temas tolerados pelo entrevistado. Chancelouse a “omertà” imposta pela assessoria da Confederação Brasileira de Futebol para impedir qualquer abordagem sobre as propinas que a criatura (e o criador João Havelange, seu ex-sogro) teria recebido da extinta empresa ISL para favorecê-la com direitos de transmissão de eventos esportivos.

Inquéritos que correm na Suíça documentam as negociatas deles e de outros “capos” do ludopédio, bem como o acordo judicial feito pela dupla, que devolveu parte do ervanário em troca do sigilo processual sobre os malfeitos, até o julgamento definitivo.

Como o mundo não é um vasto Rio Grande do Norte, a imprensa européia descobriu e noticiou essa e outras gatunagens, amplificadas pelo livro “Foul! – The Secret World of FIFA: Bribes Vote
Rigging and Ticket Scandals”, do jornalista escocês Andrew Jennings.

A edição brasileira é da Panda Books e pode ser encontrada nas livrarias da aldeia, com o didático título de “Jogo Sujo – O Mundo Secreto da FIFA: Compra de Votos e Escândalo de Ingressos”.

A leitura do livro bastaria para qualquer foca dinamitar a blindagem de Teixeira durante o tal seminário sobre a Copa.

E se o caso era não desperdiçar os minguados reais e as internáuticas pupilas com letras postas sobre papel encadernado, bastaria pedir a São Google a graça de uma busca, e choveriam informações milagrosas que explicassem ao distinto público de quais embaraços “Il padrino” estava a fugir quando proibiu a imprensa de fazer o trabalho dela.

A atuação de Ricardo Teixeira no submundo do ludopédio é tão intensa e extensa quanto o seu reinado (22 anos) na CBF. Ele ainda não foi condenado porque, no Brasil, não basta cometer
crimes para ir à jaula; é necessário ser delinqüente sem cobres e sem conexões com os tubarões da alta phynança e da baixa política, ou seja, com governos de qualquer envergadura moral.

As ações e ligações escabrosas reveladas pelo repórter escocês já haviam aflorado na CPI do Futebol, que o Senado enterrou por conveniência, com o aval de parlamentares alinhados na
“bancada da bola”. A expressão é auto-explicativa e dá notícia, na sua preciosa ambigüidade, do nível das chuteiras que pisam aqueles carpetes macios, nos pés indistintos de senadores e de deputados.

É uma autêntico escrete canarinho de “pais-véios” nos esquemas teixeirizados, vários deles aquinhoados com doações de campanha, assentos nobres nos estádios mundo afora e outros mimos de extração duvidosa.

Outro episódio pedagógico sobre Teixeira e seus métodos foi o chamado “Vôo da Muamba”, que trouxe ao Brasil a taça do tetracampeonato da Copa do Mundo e mais uma série de brinquedinhos adquiridos por jogadores, membros da comissão técnica e cartolas nas lojas de Miami e New York.

Ao perceber o tesouro de Ali Babá que lotava os porões do avião, um consciencioso auditor da Receita Federal reteve as mercadorias para cobrar as taxas de importação regulamentares.

Entre as quinquilharias retidas, destacava-se um conjunto de equipamentos destinados ao restaurante e choperia El Turfe, que Ricardo Teixeira abriria no Jóquei Clube do Rio de Janeiro.

Não demorou muito para o incauto fiscal descobrir os ilimitados poderes do homão. Ricardo fez alguns telefonemas para cabeças coroadas, ameaçando (com o apoio dos jogadores) não levar
o escrete para o encontro de praxe com o presidente da República e o desfile em carro aberto nas ruas de Brasília, se a muamba não fosse liberada sem taxação. Adivinhem o que aconteceu às
mercadorias e ao funcionário da Receita Federal.

Se isso não basta para defi nir o retrato sem retoques de Ricardo Teixeira, ainda é possível pintar o leão a partir da pata, com os traços de uma nota pinçada do noticiário flozô sobre a passagem
dele por Natalópolis.

De acordo com um dos relatos publicados por nossa acabrunhada imprensa, um dos pontos altos do périplo natalense de Teixeira foi o entusiasmo desmedido (e recíproco) no reencontro com um cartola de longuíssimo curso nos mares opacos do futebol potiguar: o indefectível Pio Marinheiro, descrito nas folhas como o melhor amigo de ‘Il padrino’ nas terras de Poti-mais-néscio.

Eu bem que tentei entrevistar Ricardão; não deram nenhuma resposta

Edmo Sinedino


Site da cidade de São Paulo
O staff de Ricardão não deixa ninguém chegar perto sem um acerto prévio

A questão não é ter ou não ter coragem de inquirir Ricardão.

Eu tentei, de todas as maneiras. Chegar nele, tentei por meio de assessoria e até utilizei pessoas do convívio dele (não foi Pio Marinheiro) e não consegui.

Ricardo Teixeira dá entrevista a quem quer.

O absurdo maior é esse. E quem o questiona se sente ameaçado. Primeiro pelos bajuladores sebosos, sempre muitos em todos os locais; depois pelos jagunços que o acompanham.

A ESPN não consegue. Imagine a imprensa do RN.

Não recebi sequer convite para a pallhaçada de TP. E fiquei feliz com isso.

Realmente não fui lá. Não tenho mais estômago para aquele tipo de pantomima.

Mas tentei uma entrevista com ele. Mandei perguntas, todas relacionadas às acusações de Jenings.

Perguntei sobre o “voo da muamba” e da influência de empresários nas convocações.

Inquiri sobre o livro “Jogo Sujo”, os últimos escândalos Fifa.

Perguntei porque ele foge de Jenings da Carta Capital, da BBC de Londres, de Juca Kfouri.

Perguntei sobre a Copa, os gastos da Copa. Suas empresas que lucram com a Copa.

Sobre a atuação da sua filha na Copa do Mundo.

Tudo, tudo que se possa imaginar.

Não tive acesso para fazer as perguntas frente à frente. E nem o meu e-mail questionário foi respondido.

Nem me disseram o motivo de não ter respondido.

Enfim, garanto que fiz minha parte.

Só não tentei chegar a ele por intermédio de Pio Marinheiro. Eu sabia que o próprio Pio se encarregaria de me “queimar”.

Bom, foi isso.

A Imprensa brasileira, a Justiça brasileira, no caso CBF, Ricardão, passa vergonha.

Faz vergonha.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

40 LADRÕES ME CONTEMPLAM


DA BACIA DAS ALMAS
JORNAL DE WM
TRIBUNA DO NORTE, 19 JUNHO 2011

No meio da semana cai na bacia das almas um bilhete de Florentino Vereda dando conta de uma passagem rápida por Natal e se desculpando por não ter tido tempo para um papo na Ribeira, apesar da vontade danada de rever o mestre Gaspar na calçada famosa do Cova da Onça. Estava fazendo uma baldeação (vinha do Tocantins) para o Arquipélago do Cabo Verde e a TAP só lhe tinha dado cinco horas de trânsito, mal dava para chegar em Lagoa Nova e pegar na casa de certo parente um livro de Luiz Romano que fala sobre os escritores cabo-verdianos, entre eles o Manoel Lopes, também poeta, uma de suas leituras preferidas ("E porque o teu coração encerra / a saudade do mar e a saudade da terra / - tua ilha é grande"). Na volta da África (iria até ao continente) marcaria um encontro na Bella Napoli. Gostaria de conhecer o poeta Volontê "e outros artistas natalenses".

No bilhete, Vereda encaminha um texto que escrevera na véspera de vir para Natal, na noite friorenta que se derramava pelo Jalapão. Fala sobre a Copa do Mundo e um sonho que tivera nos cerrados. Vai na íntegra:

"Meu caro Woden:

Bom leitor que você é, certamente já leu 'A interpretação dos sonhos', de Sigmund Freud - que não entendia de churrascos nem de maracutaias, mas conhecia bem as desumanidades da mente humana. Pois bem: semana passada tive um sonho grotesco que - se me permite - gostaria de comentar agora.

Final da Copa de 2014. Por razões que só os sonhos podem explicar, jogam em Natal, as seleções do Irã e dos Estados Unidos. Natal está prestes de presenciar um acontecimento histórico, que poderá definir para sempre o conflito milenar entre muçulmanos e cristãos.

Antes do jogo, desfiles e alegorias dignas de Joãozinho Trinta, que nada tem a ver com um parente ilustre que compõem as hostes governistas locais. Desfiles alegóricos, lembrando fatos históricos desta brava terra de Poty. Motoboys ensanguentados e mutilados distribuem, aos espectadores, as pizzas cozinhadas em fornos das câmaras e assembleias legislativas. Pela passarela do Carnatal desfilam blocos multicores: verdes, vermelhos, rosados e outras tantas cores que ofuscam os olhares extasiados do público amontoado nas arquibancadas.

Há gente de todas as espécies: enfermos que, em macas e cadeiras de roda, abandonaram as filas dos hospitais; adolescentes - quase crianças - que deixaram os sinais onde ganham e perdem avida; funcionários públicos que interromperam as greves intermináveis e inexplicáveis. Palhaços, saltimbancos e malabaristas representam o povo em geral. Ninguém quer perder o espetáculo. Sapos barbudos cospem na plateia, em atitude de escárnio e desprezo.

Na preliminar jogam os times das penitenciárias de Alcaçuz e de Mossoró, que são estrepitosamente ovacionadas pelos seus fãs, lobistas que vieram de Brasília para torcer por seus times e seus ídolos e garantir a sua parte no butim. De repente, milhões de borboletas verdes - com as asas manchadas de rosa - passam esvoaçando sobre o novíssimo estádio, são atacadas por esquadrões de "aedes egypti" e somem dentro dos buracos que não puderam ser tapados por falta de recursos, todos desviados para a obra faraônica.

Embora o tempo regulamentar já se tenha se esgotado, o juiz não se decide a encerrar a partida. A bola continua a correr e os jogadores querem a sua parte. Cada gol marcado é multiplicado por vinte, sem que se consiga explicar o motivo.

Cada minuto a mais representa alguns milhões de dólares, mostrados no placar eletrônico, para delírio da torcida, que não se apercebe que os seus bolsos estão ficando mais vazios.

Terminado o jogo, foguetões explodem, mas, ao invés de luzes, muito sangue derramado, misturado ao leite roubado da merenda escolar. Em lugar dos estrondos retumbantes, choros de crianças mal nascidas, abandonadas nas ruas, cujo destino não passará dos semáforos da Prudente de Morais ou das calçadas da Roberto Freire. A pólvora queimada cheira a crack e oxi, consumindo os cérebros carcomidos dos adolescentes, outrora conhecidos como 'futuro da pátria'.

Mas aí já é tarde, Inês é morta e o show deve continuar.

A FIFA não pode faltar com os inúmeros compromissos assumidos.

E eu, então, acordei com o barulho da implosão do Machadão, em cujo terreno serão sepultados o bom senso e a decência. Na lápide, uma frase singela: 'Do alto desta arena quarenta ladrões me contemplam'.

Um abraço sonolento de seu admirador,

Florentino Vereda"



"Confio mais em Natal do que vocês"

Anna Ruth Dantas - Repórter
TRIBUNA DO NORTE, 19 JUNHO 2011

Presidente do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2014 e presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira é contundente ao afirmar que Natal não corre risco de deixar de ser sede do mundial. No entanto, enquanto dá essa garantia, ele também pondera que a ampliação do aeroporto e as obras de mobilidade urbana são fundamentais para a realização do campeonato.

Cautela de um lado, ao não querer revelar qual a cidade sede que ele aposta como revelação da Copa, crítica do outro: para o presidente do Comitê organizador falta o natalense acreditar mais na cidade.

Ele admite que a capital potiguar está com as obras atrasadas, mas revela que estão dentro do calendário. Ricardo Teixeira tenta demonstrar tranqüilidade no fato de Natal cumprir o calendário definido pela Federação Internacional de Futebol. "Nosso projeto (do Comitê Organizador) aponta que Natal ficará pronta para Copa com facilidade. O estádio de Natal não é um estádio dos enormes. Não é estádio de abertura e não é estádio de fechamento", comenta

Aos críticos do estádio Arena das Dunas, Ricardo Teixeira demonstra otimismo não apenas com a obra, mas com o futuro do esporte potiguar. "Acho que é um projeto (do Arena das Dunas) do tamanho de vocês, não está exagerado. Veja que vocês têm um time que é o ABC que está numa boa posição no campeonato da série B e daqui a pouco estará na primeira divisão, se Deus quiser", destaca.

Na passagem por Natal para participar do seminário sobre a Copa do Mundo de 2014, Ricardo Teixeira concedeu uma entrevista exclusiva a TRIBUNA DO NORTE. No hangar reservado aos jatinhos particulares, o presidente do Comitê Organizador da Copa, pouco antes de embarcar, respondeu as minhas perguntas. Uma conversa onde demonstrou estar a vontade. Trouxe respostas incisivas, em outras evasivas, mas foi muito direto ao rebater os críticos sobre a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Sua argumentação foi toda voltada para mostrar que a Copa não é gasto, mas investimento.

"A Copa não obriga a fazer nenhum investimento extra, obriga a fazer investimentos que já tinham de ser feitos e foram antecipados tendo em vista uma data fixada que você tem para estarem com as coisas funcionando. (A Copa) É a antecipação de projeto. Não tem gasto. O holandês que veio (a Natal) para jogar ele vai levar a ponte, o viaduto, o hotel, o hospital, vai levar estrada? Tudo isso vai ficar", justifica.

Para a exclusiva Teixeira fez apenas uma exigência: não gostaria de falar sobre as recentes denúncias envolvendo a eleição da Fifa.

Confira a entrevista:

Ainda corre risco de Natal não ser sede da Copa do Mundo de 2014?

Não corre risco. Se falou muito sobre esse assunto. Falaram que as 12 cidades foram escolhidas para chegar a dez, depois disseram que na realidade não eram dez eram oito. Mas ninguém nunca ouviu nada do Comitê Organizador. Natal está dentro da Copa do Mundo, tenho convicção absoluta que eles (os organizadores em Natal) irão fazer todo projeto, vocês já tiveram lá (em Brasília) reunião com a presidenta da República, já estão recebendo dotação, já está tudo iniciado. Agora a governadora, no seminário que eu estava (na última sexta-feira), me disse que está em dia. Todo processo que nós temos de acompanhamento no Comitê Organizador já disse que Natal está no prazo.

O que há de concreto na informação de que a Copa no Brasil terá dez sedes e não 12 como foram selecionadas?

Nunca aconteceu (essa informação). Isso nunca foi motivo de conversa. Nunca existiu.

O senhor tem conhecimento que a demolição do estádio Machadão gerou e gera muito polêmica. Qual a avaliação do senhor sobre essa forma ou esse método usado pelo governo do Estado para erguer o estádio que sediará a Copa do Mundo em Natal?

Nós não fazemos esse tipo de análise. Isso é próprio do Governo, eles que decidiram a melhor maneira de construir o novo estádio conforme exigência da Fifa. Foi assim nas outras 11 cidades. Nós não interferimos no modo de fazer. O Maracanã está sendo todo modulado conforme o Governo do Estado quer. São Paulo conforme o Corinthians quer. O Rio Grande do Sul conforme o Internacional quer. Cada local tem o direito de fazer da melhor maneira que ele considera mais econômica e mais factível para fazer a operação. Nós não intervimos nisso.

Os críticos da realização da Copa do Mundo em Natal costumam dizer que a cidade vai investir R$ 400 milhões em um estádio para sediar três jogos de seleções menores. O que o senhor tem a dizer para essas pessoas?


Qual deles (dos críticos) participam do Comitê Organizador para já saber quem vai jogar em Natal? Eu não sei, como ele sabe? Ele (o que critica a Copa em Natal) é tão mal informado que só vamos saber o nome das seleções em dezembro de 2013 quando houver o grande sorteio dos países classificados. Pergunta a esse genial qual o país que já está classificado sem ser o Brasil que ele conhece.

Como será o critério para definir as seleções que jogarão em quais sedes?

Você cria em cada sede uma grande seleção e terá no mínimo quatro jogos de Copa do Mundo.

Estádio Arena das Dunas. O senhor conhece o projeto. Qual a análise do senhor sobre esse projeto?

Acho que é um projeto do tamanho de vocês. De forma que eu acho que vocês têm todo potencial de ter grandes equipes aqui. Aí vamos ficar discutindo aqui o ovo e a galinha. Você não faz estádio porque não tem time. Você não tem time porque não tem estádio. E depois tem outra: segundo ouvi no seminário (realizado sexta-feira sobre a Copa do Mundo de 2014 em Natal), você disse que irão gastar R$ 400 milhões para construir o estádio, que será financiado pelo BNDES, mas a prefeita (de Natal, Micarla de Sousa) informou publicamente lá (no seminário) que já tem alocado para a cidade de Natal o dobro, R$ 800 milhões para novos projetos de infraestrutura. Quer dizer ela (Micarla de Sousa) já está tendo um superávit de R$ 400 milhões em obras, além do que ela vai gastar que vai ser de alguma forma em conseqüência da Copa do Mundo.

O governo federal vem demonstrando uma preocupação muito grande sobre os aeroportos das cidades sedes da Copa do Mundo de 2014. Natal tem o aeroporto de São Gonçalo, em obras, e o Augusto Severo, que ainda será reformado. Até que ponto a questão dos aeroportos pode entravar a realização da Copa do Mundo?

Entravar não vai entravar. Tenho convicção absoluta que a presidenta está muito preocupada com a questão do aeroporto. Tenho dito aeroporto é uma grande preocupação, aeroporto tem que ser modificado sim. Se você parar para raciocinar a vocação de todo Nordeste e de vocês de Natal é turismo. Se vocês tem turismo vocês precisam de duas coisas fundamentais: de aeroporto e estrada e de rede hoteleira.

Aeroporto é fundamental para Copa?

Aeroportos são fundamentais principalmente nos grandes centros que são entrada no Brasil. Em São Paulo e Rio de Janeiro é imprescindível que os aeroportos estejam preparados para permitir o grande fluxo de grandes movimentos que virão para Copa do Mundo.

O Brasil está preparado para sediar a Copa de 2014?

Se tivesse seria um milagre porque não tinha nenhum país do mundo que sediou a Copa que estivesse preparado três anos antes. Eu me lembro que fui a Alemanha no sorteio e o Brasil ficou numa cidade chamada Leipzig. E nesse sorteio a seleção brasileira ficou no hotel que os quartos eram ínfimos e não tinham ar condicionado no verão. A Alemanha estava preparada a seis meses da Copa? Não, não estava.

E sua expectativa é que o Brasil esteja preparado quando para a Copa de 2014?

Aqueles que vão fazer a Copa das Confederações têm que estar preparados em janeiro de 2013. Vamos nos lembrar também que na Copa de Alemanha um dos estádios que o Brasil jogou caiu o teto. A Alemanha não estava preparada.

Mas as cidades sedes da Copa do Mundo de 2014 deverão estar preparadas quando?

Em dezembro de 2013.

O senhor não está sendo muito otimista para uma cidade como Natal?

Não. Pelo nosso projeto lá (no Comitê Organizador) Natal ficará pronta para Copa com facilidade. O estádio de Natal não é um estádio dos enormes. Não é estádio de abertura e não é estádio de fechamento. Vocês têm que ter confiança na cidade de vocês. Confio mais em Natal do que vocês. Eu fui o cara que mais brigou para ter Natal na Copa. Tenho certeza como Natal vai fazer a Copa e eu venho assistir aqui o primeiro jogo a se realizar em Natal.

O senhor disse que foi quem mais brigou para Natal ser sede da Copa. Então o que lhe motivou a entrar nessa briga por Natal?

Olha, Natal foi a cidade em que eu vi a maior soma de esforços políticos para trazer a Copa. Quando nós viemos aqui com a Fifa estavam lá senador, deputado federal, deputado estadual, governador. Todas as facções de tudo quanto é lado. Henrique (o deputado federal Henrique Eduardo Alves) de um lado, o José (senador José Agripino Maia) do outro lado, o Fábio (deputado federal Fábio Faria) do outro lado. Mas todos brigando por Natal. Não vi isso em nenhuma outra cidade.

Há algo que possa inviabilizar ou eliminar alguma dessas 12 cidades sedes?

Por enquanto não.

Mas o que poderia levar a isso?

Se não fizer o estádio não tem jogo. Todos os estádios já iniciaram. A mais atrasada é São Paulo. Vocês já estão com o projeto pronto, já está aprovado o projeto, vocês estão com a prefeita dizendo que já conseguiu projetos de R$ 800 milhões para investir na infraestrutura. Está dando certo. Mas se você raciocinar obra de estádio é o tipo da obra que no início é muito feio e não mostra nada. Você sabe hoje em dia como faz (um estádio)? O Maracanã por exemplo todo mundo diz que não levanta. Eu não sou engenheiro, mas hoje em dia o teto, por exemplo, a cobertura fica no chão, pronta, depois que está pronta ela sobe por máquinas que levantam. A impressão é horrível. Você estará começando a ver apenas quando levantar. Agora é só destruição. Você liga lá na televisão e está derrubando o estádio do Ceará. Aí o cara diz: derrubou o estádio! Início de obra é feio mesmo.

Recentemente a imprensa nacional divulgou matéria de que o estádio na Cidade do Cabo, erguido para a Copa do Mundo de 2014 é apontado como "elefante branco". O senhor teme ou acredita que alguns desses estádios erguidos ou reformados poderão se tornar elefantes brancos?

Qual o primeiro esporte da África do Sul? Não é o futebol. O primeiro esporte do Brasil qual é disparado? O futebol.

O senhor não tem medo de surgirem elefantes brancos pós-Copa no Brasil?

Não tenho medo nenhum. Você acha que não vai ter utilização para o Maracanã? Não vai ter utilização para o Corinthians? Não vai ter utilização para o campo do Internacional?

E vai ter uso para o Arena das Dunas?

Por que você se situa só no local? Você só terá um estádio em Natal, um bom estádio. É esse o das Dunas.

Por esse raciocínio do senhor, sobre a questão da África não ter o futebol como primeiro esporte, então seria interessante os países que não tem o futebol como primeiro esporte sediarem a Copa?

Não tem nada. Veja o seguinte. Na África melhoraram os aeroportos. Outro dia vi reportagem grande na Globo do que aconteceu na África do Sul, evolução que teve em aeroporto, desemprego voltou, mas várias outras coisas evoluíram, o turismo evoluiu.

Isso tudo a custa da subutilização dos estádios, que tiveram grandes investimentos.

Você teve bons resultados para o país de qualquer maneira. Tem obra que só será construída com a Copa. Faço uma pergunta muito simples: será que vocês teriam esses mais de R$ 800 milhões em obras se não tivesse Copa em Natal? Não teriam. Não teria razão de ser.

A Copa então é a redenção?

Não digo que é a redenção. Mas digo que ela propicia que várias obras que são imprescindíveis foram antecipadas em função da Copa. Eu lhe pergunto: alguém tem dúvida que precisavam mexer nos aeroportos? Todo mundo tem certeza que precisava, mas por que tem a pressa? Por causa da Copa. A realidade é a seguinte, a Copa não obriga a fazer nenhum investimento extra, obriga a fazer investimentos que já tinham de ser feitos e foram antecipados tendo em vista uma data fixada que você tem para estarem com as coisas funcionando. É a antecipação de projeto. Não tem gasto. O holandês que veio aqui para jogar ele vai levar a ponte, o viaduto, o hotel, o hospital, vai levar estrada? Tudo isso vai ficar.

Como o senhor tem acompanhado a situação do estádio de São Paulo?

Eu tenho estado muito lá. A cidade que eu mais tenho ido é São Paulo. Eu sinto que agora eles têm caminhado mais na parte, os projetos da Prefeitura já estão aprovados, agora é iniciar a obra. Mas eles já perderam o direito de fazer Copa das Confederações, por exemplo.

Há risco de São Paulo ficar fora da sede da Copa de 2014?

Não acredito. Acho que seria um absurdo.

Mas há risco ou não?

Aí vou ser mineiro: o futuro a Deus pertence. Não sei se estarei vivo na Copa.

Qual a importância das obras de mobilidade para a Copa do Mundo de 2014? Elas também são fundamentais?

Acho que elas são em algumas cidades fundamentais. Mas elas são mais fundamentais para o legado. Você há de convir comigo isso. Ontem (quinta-feira) quando eu cheguei aqui (em Natal) já pegamos engarrafamento para poder chegar no hotel. Hoje no Brasil inteiro é um engarrafamento só.

Se o senhor tivesse que apostar em alguma cidade sede como revelação para Copa de 2014. Qual seria?

Nas 12 cidades.

Qual é a preocupação do Comitê Organizador da Copa nesse momento para realizar esse sonho dos brasileiros?

Minha preocupação continua sendo aeroporto e infraestrutura. Essa preocupação não é minha é da presidenta da República que reuniu, há uma semana, todos os governadores, todos os prefeitos e prefeitas, para discutir o assunto. Acho que é fundamental.

Para os gestores que estão a frente do projeto da Copa do Mundo de 2014 em Natal qual conselho o senhor diria nesse momento?

Que continuem trabalhando firme para está tudo pronto em 2014 para a gente vir aqui de novo.

O senhor admite que a cidade de Natal está atrasada pelo fato de só agora o estádio começar a ser demolido?

Em relação a algumas cidades está, mas não é de relevância porque está dentro do prazo.

E para os natalenses o que o senhor diria, para aquelas pessoas que estão aguardando a Copa?

Quero parabenizar os natalenses pela qualidade dos políticos que têm.

Surpreende sua declaração, porque os políticos daqui são alvos de muitas críticas.

E você conhece alguém que chuta cachorro morto?

Eu não. O senhor conhece?

Não. Veja o seguinte, você teve o Fábio (deputado federal Fábio Faria) o tempo todo trabalhando por isso, a prefeita (Micarla de Sousa) o tempo todo, o Henrique (deputado federal Henrique Alves) o tempo todo, teve José Agripino (senador). Quando vocês tiveram o problema aqui que não apareceu ninguém para fazer a construção (caso de quando a licitação foi deserta), foram todos lá no Rio de Janeiro.

E para o natalense descrente da Copa do Mundo em Natal o que diz o presidente do Comitê Organizador?

Que não seja descrente. Confie no país dele e na cidade dele. A gente tem que evitar só nós sermos os grandes críticos do Brasil. O mundo acredita no Brasil. O mundo tem coragem de dar a Copa do Mundo para o Brasil e alguns segmentos não têm coragem de receber a Copa. Quem está errado quem deu ou quem não quer receber?

quarta-feira, 15 de junho de 2011

CIDADE DIVIDIDA E VIOLENTADA DIANTE DE UMA DECISÃO DE MORTE DE UM PATRIMÔNIO AMADO

"Começa o triste espetáculo que a cidade dividida assiste como que violentada e ainda surpresa, sem entender o suficiente do que ali se edificará, que justifique a decisão de morte de um patrimônio amado, orgulho do povo que o freqüentava."
Ticiano Duarte

Presenças do Machadão e de João Machado
Ticiano Duarte - jornalista

Tribuna do Norte, 15 de Junho de 2011


Neste momento de preparação para demolição total do Machadão, quando já começa o triste espetáculo que a cidade dividida assiste como que violentada e ainda surpresa, sem entender o suficiente do que ali se edificará, que justifique a decisão de morte de um patrimônio amado, orgulho do povo que o freqüentava, dos seus dias de alegria e glória.

A figura que dá o nome do estádio que está sendo destruído, conheci de perto, meu amigo de velhas datas, João Cláudio de Vasconcelos Machado. A respeito dele, escrevi certa ocasião, lembrando que deveria pelo seu valioso currículo, pelos antecedentes de vida universitária, pelas suas andanças em outros centros civilizados, ter tido uma postura de elegância no vestir, de exibição de cultura, do que aprendera no primeiro mundo, freqüentando as universidades mais tradicionais da Europa. Mas, ao contrário, era simples e sem vaidade, apesar de sucessor de um dos maiores proprietários da cidade, do casal João e Amélia Machado, seus tios e pais de criação.

O velho português enriquecera nos anos 20 e 30 do século passado e adquirira inúmeros imóveis na cidade à época de 20 a 30 mil habitantes, sendo proprietário de quase toda Parnamirim e do bairro de Nova Descoberta.

João Machado saíra cedo de casa para conhecer o mundo, freqüentando universidades históricas, centro culturais que somente jovens milionários poderiam visitar e voltando ao Rio Grande do Norte, aqui chegou com o mesmo espírito de xarias, a freqüentar os locais de infância e juventude, sem exibicionismo, sem pedantismo. Era o mesmo espírito bonachão, amando o esporte, o futebol, as regatas, os papos do Grande Ponto, as piadas, o anedotário popular, a irreverência que foi o seu tom maior de identidade natalense.

Era o anti-herói, um pouco de hippe no sentido existencial, aficionado do júri popular, como assistente, apesar de bacharel em direito; do rádio, do jornal e ao lado de Humberto Nesi, uma dupla que sem dúvida que mais lutou pelo engrandecimento do esporte em nossa terra.

Gozador por excelência, que não se cansava de fazer blague e sarcasmo, ironizando com inteligência as gafes dos circunspetos figurões que se julgavam importantes, na província. Falava por parábolas, metáforas e trocadilhos. Narrava longas estórias de candidatos a cargos eletivos que caíam no anedotário político; oradores de palanques eleitorais que se imortalizaram pelo uso e abuso de expressões acacianas.

Colaborador desta TN e Rádio Cabugí, o seu programa de esporte, diário, "Curruchiado", tinha uma grande audiência. Toda cidade ouvia João Machado, as piadas picantes, os destemperos vez por outra censurados pela Polícia Federal. Inúmeras vezes a Rádio Cabugí foi obrigado a sair do ar, por conta das suas ironias maliciosas.

Mas foi um amigo fiel, de coração largo e generoso, descuidado e solidário, misto de coisas antagônicas que a cidade gostava e prezava. Sabia transmitir com originalidade de sua linguagem figurada os pontos mais importantes do reinventado itinerário sentimental das noites boêmias em companhia dos amigos, através de suas metáforas, deixando sempre dúvidas e interrogações sobre os detalhes dessas caminhadas noturnas.

Com a destruição do Machadão, não morre a lembrança do estádio de tantos acontecimentos saudosos, de tantas tardes e noites de alegrias, como também, não morre a lembrança de João Cláudio de Vasconcelos Machado, com seu estilo, charuto à boca, o riso inesquecível, sua presença marcante na tribuna de honra do Juvenal Lamartine e do estádio que ganhou o seu nome, por escolha do povo de Natal.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Ação Cautelar de Exibição com Pedido de Liminar EM DEFESA DO PARQUE DESPORTIVO DE LAGOA NOVA – NATAL

Processo: 0802583-07.2011.8.20.0001, 5ª Vara da Fazenda Pública – Natal

Requerente: EDUARDO ALEXANDRE DE AMORIM GARCIA

Requerido: Município de Natal/RN

Requerido: Estado do Rio Grande do Norte

Movimentações

Data: 10/06/2011 - Movimento: Concluso para despacho

Data: 10/06/2011 - Distribuição por sorteio

O QUE PEDE

Concessão de medida liminar, conforme fundamentação supra, para, em cinco dias, nos termos do artigo 357, do Código de Processo Civil, o Município de Natal e o Governo do Estado do Rio Grande do Norte apresentarem os seguintes documentos requeridos:

1. Município de Natal:

1.1. Cópia do Estudo Preliminar Arquitetônico de adequação do Estádio João Cláudio Machado às especificações solicitadas pela FIFA, formulado pelo arquiteto Moacyr Gomes da Costa;

1.2. Cópia do Termo de Compromisso, assinado pelo Prefeito de Natal/RN e Governadora do RN e o Presidente do Comitê Organizador da Copa do Mundo no Brasil (Presidente da CBF), cujo objeto era a garantia de participação de Natal/RN como uma das subsedes à Copa do Mundo de 2014;

1.3. Processo completo, referente à autorização legislativa (processada na Câmara de Vereadores de Natal) para o Município de Natal doar ao Estado do Rio Grande do Norte toda a área em que se localiza o ginásio “Machadinho” e o estádio “Machadão”.

1.4. Processo Administrativo relacionado à demolição da creche municipal Kátia Fagundes Garcia.

2. Estado do Rio Grande do Norte.

2.1. Estudos de viabilidade e projetos arquitetônicos, assim como quaisquer outros documentos, entregues pelas empresas Price Waterhouse Coopers Contadores Públicos Ltda. E Coutinho, Diegues e Cordeiros Arquitetos Ltda ao Município do Natal.

2.2. Processos administrativos referentes aos contratos firmados entre o Município do Natal e a empresa Price Waterhose Coopers Contadores Públicos Ltda e a empresa Coutinho, Diegues, Cordeiro Arquitetos Ltda.

2.3. Projeto Executivo do denominado Estádio Arena das Dunas, completo e detalhado, devidamente registrado no CREA/RN, assim como certidão de seu registro.

2.4. Processo Administrativo Licitatório integral relacionado à construção do estádio Arena das Dunas, desde os primeiros atos, além dos projetos básico e executivo;

2.5. Cronograma de execução das obras já realizadas e a serem realizadas;

2.6. Relatório de avaliação dos imóveis de propriedade do Estado do Rio Grande do Norte dados em garantia à Parceria Público Privada firmada com a empresa vencedora da licitação (Construtora OAS Ltda.).

______________________

Os documentos requeridos servirão para embasamento da Ação Popular que se seguirá à Ação Cautelar.

domingo, 12 de junho de 2011

NÃO ABANDONEM O MACHADÃO

Ação Cautelar de Exibição com Pedido de Liminar

Processo: 0802583-07.2011.8.20.0001

Classe: Exibição

Área: Cível

Assunto: Liminar

Distribuição: Sorteio - 10/06/2011 às 08:30

5ª Vara da Fazenda Pública - Natal

Requerente: EDUARDO ALEXANDRE DE AMORIM GARCIA

Requerido: Município de Natal/RN

Requerido: Estado do Rio Grande do Norte

Movimentações

Data: 10/06/2011 - Movimento: Concluso para despacho

Data: 10/06/2011 - Distribuição por sorteio

Copa 2014: As muitas 'faces' de Natal
Tribuna do Norte: 12 de Junho de 2011
http://tribunadonorte.com.br/noticia/copa-2014-as-muitas-faces-de-natal/184963

Itamar Ciríaco
editor de Esportes

No dia 31 de outubro de 2007, exatamente às 11h37, o presidente da Fifa, o suíço Joseph Blatter anunciou, em Zurique que o Brasil seria a sede da Copa do Mundo de 2014. Presentes à cerimônia 12 governadores já disputavam a vaga de sede para seus Estados. Representando o Rio Grande do Norte, o então secretário de Esportes do Município, Miguel Weber defendia a escolha de Natal apoiado no projeto de um estádio que sequer seria construído na capital: o Estrelão. Essa seria a primeira de muitas faces do projeto da cidade para ser uma das sedes do Mundial, o que, em parte, poderia explicar o porquê de nenhum projeto ter sido posto em prática até o momento.

Dois meses antes da opção da Fifa pelo Brasil, inspetores da entidade visitaram 18 cidades brasileiras, entre elas a capital norte-rio-grandense. Natal, assim como Maceió, Cuiabá, Campo Grande, Florianópolis e Rio Branco foram reprovadas de cara, nesta primeira vistoria. O motivo da eliminação teria sido o projeto deficiente na área de transportes, em parte relacionado a questão da distância do Estrelão, em Parnamirim para os principais hotéis da cidade e o centro.

No entanto, a Confederação Brasileira de Futebol, com o apoio da presidência da República, optou por não levar em consideração essa primeira vistoria e estimulou que as cidades, em princípio 18, reformulassem seus projetos para concorrer em um "vestibular" que aprovaria apenas 12 como sedes para a Copa "verde e amarela".

Neste momento surge a primeira discordância. O arquiteto Moacyr Gomes, criador do projeto do estádio João Machado - "Machadão" dava a sua primeira entrevista à Tribuna do Norte, sugerindo a opção pela reforma do estádio de Lagoa Nova e não a construção de uma nova arena em Natal.

"Primeiro é importante que os governantes de Natal e do Estado se somem para tentar fazer da cidade uma das sedes da copa. A China passou a ser muito mais conhecida com as olimpíadas e o mesmo funcionaria para nós. Claro que para mim, que tenho mais de 50 anos envolvido com o sonho do Machadão, seria de grande importância que valorizássemos esse estádio, pois a copa seria um bom motivo para fazermos uma série de melhoramentos importantes, nivelando-o aos melhores do mundo. A pressão dos desportistas de Natal será importante para que não abandonem o estádio, que está em uma área central e pode ser urbanizado, mesmo sem se falar em copa. O projeto depende de uns R$ 80 milhões (com estacionamento para 1.200 veículos), mas com as exigências da Fifa iria para R$ 100 a R$ 150 milhões (com 6 mil vagas para veículos e 2 mil ônibus). Enquanto um estádio novo custa, como o Engenhão do Rio de Janeiro, uns R$ 450 milhões. Porém, não critico a idéia do Estrelão", disse Moacyr Gomes em 18 de setembro de 2008 à Tribuna do Norte.

Nessa entrevista, o arquiteto também falou na possibilidade de não mudar os traços do estádio Machadão, que ele teria feito obedecendo a ótica de um torcedor, sendo largo nas laterais e estreito por trás dos gols. "Não fiz o projeto como arquiteto, fiz como torcedor, e nenhum torcedor gosta de assistir jogo nesse local", explicou.

Apenas 10 dias depois dessa entrevista à Tribuna do Norte, sem aviso, ou debate público, os responsáveis pelo projeto de Natal na Copa 2014 deram uma guinada de 180º na ideia de uma novo estádio.

No dia 28 de setembro de 2008 a Tribuna do Norte publicou matéria explicando que técnicos da antiga Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (SEL), hoje SEJEL, em parceria com outros órgãos da esfera estadual da administração pública chegaram a conclusão que adequar o estádio Machadão seria a melhor opção para convencer a FIFA que Natal merecia ser sede.

A comissão chamou o arquiteto Moacyr Gomes que elaborou um esboço de projeto e até comentou como a obra deveria ser feita. "Para rebaixar o campo, seria necessário o trabalho de escavadeiras e caminhões para remoção de areia, para avançar as arquibancadas. Não há como aumentar a capacidade expandindo o estádio externamente. O trabalho precisa ser interno", explicou Gomes naquela oportunidade.

O rebaixamento do gramado se daria em cerca de 4m e o estádio teria a capacidade ampliada para 46.300 lugares. Uma outra intervenção seria realizada na cobertura do estádio.

"A nossa proposta inicial é de cobrir toda a estrutura de arquibancadas, mas dependendo das verbas que venhamos a conseguir, existe também a possibilidade de desenvolver uma cobertura completa, transparente, fechando o teto como um todo, sem atrapalhar a passagem da luz solar. Essa iniciativa foi desenvolvida com muito sucesso em países da Europa".

Nos arredores do estádio, rampas de acesso, em formato circular, seriam construídas para facilitar a entrada de idosos, evitando desta forma as escadas, além de funcionar como uma opção a mais de escoamento no término das partidas. As exigências da Fifa não dão conta apenas das condições do estádio em si, mas também de todo o seu entorno.

Para isso, seria necessário um trabalho forte de urbanização naquela área, segundo o Moacyr Gomes. O arquiteto destaca que será necessário a disponibilização de um estacionamento para, no mínimo, 6 mil carros e 2.300 ônibus. "Vamos precisar de toda a área que vai dos arredores do Machadão, passando pelo Cartódromo de Natal, até uma área que será cedida pelo Governo do Estado, próximo a entrada do Centro Administrativo. Lá planejamos abrigar os ônibus". Explicou.

O secretário de esportes à época, Ney Dias já havia inclusive calculado os custos com a obra de reforma, que variariam de R$ 100 milhões a R$ 120 milhões e que esse seria um dos motivos da escolha, além da questão do transporte, do Machadão em detrimento do Estrelão.

Na oportunidade, o arquiteto Gley Karlys ficou surpreso com a mudança. "O Governo do Estado, por meio da Secretaria Estadual de Energia e Assuntos Internacionais, que tem como seu titular Jean-Paul Prates, não me comunicou nada quanto a escolha do Machadão. Isso até me surpreendeu, pois a governadora Wilma de Faria assinou um protocolo de intenções, juntamente com o prefeito de Parnamirim, Agnelo Alves, que também assinou o documento liberando o terreno para a construção do novo estádio. Tudo isso foi enviado à CBF", revelou.

Mas as surpresas não terminaria por aí. O projeto aprovado pela CBF e Fifa e que levou Natal a ser escolhida como uma das sedes do Mundial de 2014 não foi o do Estrelão, nem o da reforma do Machadão. Um novo projeto, debatido nos gabinetes, surgiu e foi o escolhido para "segurar a bandeira" da cidade na eleição da Fifa para as cidades-sede.

Surgia o Complexo Esportivo Arena das Dunas, envolvendo um novo estádio, construído a partir da demolição do estádio Machadão, do ginásio Humberto Nesi - Machadinho e do kartódromo Geraldo Melo, uma área no entorno, ocupada com prédios de escritórios, hotéis cinco estrelas e até um lago artificial. Novos centros administrativos estadual e municipal seriam construídos, de forma vertical.

O secretário da Secopa, Fernando Fernandes explicou, na edição do dia 1 de fevereiro de 2009, como seria o funcionamento do projeto, que já teria custado, em princípio R$ 3 milhões para sua simples elaboração. Segundo Fernandes, a área seria licitada e a empresa vencedora teria o direito de exploração de todas as áreas comerciais por 30 anos, incluindo os centros administrativos e, em troca, construiria a Arena das Dunas, que teria o custo de R$ 300 milhões.

"Haverá um processo licitatório abrangendo empresas nacionais e internacionais. A empresa vencedora irá receber a área cedida pelo governo no período de 30 anos, para então arcar com os gastos da construção do estádio e do complexo comercial e turístico, que irá lhe proporcionar um retorno financeiro interessante", explicou à época.

Na mesma matéria, o projeto recebeu críticas veladas do arquiteto Moacyr Gomes, que passou a ser excluído do processo de Natal na Copa. "Estou torcendo para que Natal seja uma das sub-sedes da Copa, mas sou totalmente contra a demolição do Machadão. Mas se quem administra a nossa cidade tem sede de luxo, como em Dubai, a ponto de por abaixo um patrimônio histórico, paciência, não podemos fazer nada", comentou Gomes.

O engenheiro José Pereira da Silva, que foi o responsável pelos cálculos estruturais do Machadão complementou: "Não sou contra a realização de jogos da Copa do Mundo em Natal. Mas acho que instituições como o CREA (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura), Ministério Público, o Legislativo Municipal e principalmente, a população, que é quem paga os impostos e financia os gastos públicos, deveriam participar dos debates. Para isso, poderiam ter sido realizadas audiências públicas".

Escolhida uma das sedes da Copa, em maio de 2009, o projeto de Natal aprovado pela Fifa teve vida curta e foi substituído. Sumiram as torres do entorno do estádio e tudo ficou concentrado na Arena. Na primeira licitação, nenhuma empresa compareceu e a fórmula do negócio precisou ser alterada.

O governo, além de listar terrenos como garantias de pagamento para a Parceria Público Privada, também criou um "colchão" financeiro de R$ 70 milhões, retirados dos royalties do petróleo, como uma forma de assegurar o retorno da empresa que investisse na obra. Apenas a Construtora OAS compareceu e foi declarada vencedora.

De acordo com o governo do estado, no próximo dia 15 de julho as demolições do Machadinho e Machadão terão início. Até o momento, apenas pequenas intervenções no ginásio e a retirada do mobiliário do estádio são pistas do começo da obra desta que é a face real e atual de Natal para Copa do Mundo de 2014.