quarta-feira, 30 de novembro de 2011

HISTÓRIA MAL CONTADA

foto: Emanuel Amaral, TN
HISTÓRIA MAL CONTADA
Cassiano Arruda Câmara
Novo Jornal, 30 de novembro de 2011


Nossa Câmara Municipal que não tossiu nem mugiu diante da derrubada do Estádio Machadão – o “poema de concreto” – fruto do talento de um arquiteto natalense autor de um projeto que marcou a cidade por mais de trinta anos, como marca destacada de sua paisagem, decidiu “preservar” o desativado estádio Juvenal Lamartine definindo-o como “Patrimônio Histórico, Cultural, Arquitetônico e Esportivo de Natal”.

Numa cidade que tem mais da metade de sua área total vedada a qualquer tipo de ocupação, os nossos edis saíram dos seus cuidados para defender o que classificam como monumento arquitetônico.

Faltou algum embasamento técnico capaz de justificar essa decisão, começando pela definição de um estilo. Qual? – Sua fachada, na verdade um autêntico puxadinho inventado nos últimos
anos, amontoando uma série de bibocas e lojinhas, projetada por algum mestre de obras anônimo?

Ou será a velha arquibancada de madeira, que tem andado interditada pela falta de segurança para algum uso? Quem sabe se o “túnel” ligando os vestiários ao campo de jogo, realizado por João Machado, já no apagar das luzes do velho estádio, quando este já estava empenhado na construção de novo (já demolido) e que por todas as justificativas tinha o seu nome?- Fora isso existe um quadrilátero de arquibancadas, construídas em diferentes momentos, iguais a tantas outras – aqui e alhures – de um tempo onde não havia maior preocupação no projeto de estádios de futebol.

Ou será o campo de jogo? O reconhecimento da importância de duas traves, em nada diferente de dezenas de outras existentes em Natal e no mundo todo, ou o mal tratado gramado, nunca reconhecido – nem mesmo na sua época áurea – como sendo algo a merecer destaque?

Do alto de sua prosopopéia, o vereador George Câmara do PC do B pontifica de maneira tão solene como indefinida: “Essa matéria é um olhar para a história. O olhar que tem o setor imobiliário é outro, pois naquela região muitos prédios já foram instalados. As imobiliárias não tem que preservar o papel histórico do Juvenal Lamartine”.

O representante comunista não esclareceu se é contra a construção de prédios, que são construídos em todos os lugares, mesmo na Albânia, ou na antiga União Soviética, ou mesmo na China de Mao Tsé-Tung
, ou na Cuba dos irmãos Castro, onde a conservação dos antigos edifícios tornou-se bastante deficiente no “período especial”, determinado pelo embargo americano.

Também não esclarece o olhar de qual história. Na verdade, os nomes que fizeram essa história nunca foram tão esquecidos.

Craques como Jorginho, Ribamar, Gerim, Cuíca, Pedro Bala, o mossoroense Dequinha, Abel, Burunga, Biró, Geri, Walace Saquinho, o depois prefeito Djalma Maranhão, Miro Cara de Jaca, treinadores como Álvaro Barbosa, Edésio Leitão, Pedrinho Quarenta ou árbitros como João Cadmo Cavalcanti, Luiz Meireles ou Jader Correia, e tantos e tantos outros, não mereceram dos nossos desportistas, nem muito menos dos nossos vereadores (nem mesmo nessa legislatura campeã na fabricação de leis – a maioria que não saiu nem vai sair do papel) qualquer iniciativa para que esta história venha a ser preservada.

Por que em vez de tentar criar uma importância que não existe, não se pensa em algum próprio público (quem sabe o nunca usado Presépio de Natal) um lugar onde se colocasse um pouco da
memória do nosso futebol, aproveitando – por exemplo – o acervo de Luiz GM Bezerra?

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

GOVERNADORA FAZ CHURRASCO PARA COMEMORAR DEMOLIÇÃO DO MACHADÃO

foto: augusto césar costa
BRINDEMOS O MACHADÃO POR SUA BONITA HISTÓRIA
Albimar Furtado
novo jornal, 25 de novembro 2011

Amanhã, sábado, será levantado um brinde à derrubada do Machadão.

Vi a notícia, achei esquisita mas não impossível. Brindar o fim de um monumento que foi marco na arquitetura, na história do nosso futebol, no prolongamento da geografia da cidade?

Para deixar claro: viva a Arena das Dunas, salve o belíssimo projeto, louvores ao novo monumento que deixará Natal mais bela.

Mas por que ser construído exatamente ali, exigindo a derrubada de um estádio (e não foi barato
destruí-lo) para imediatamente depois anunciar a construção de um segundo, com verba estadual, em outro lugar? Construir outro se transformamos em pó um que já existia?

O estranho na idéia de brindar a queda do Machadão é deixar de brindar o novo que está chegando.

Diz-se que aos vitoriosos tudo pode. Mas sequer houve batalha.

Existiu uma reação justa, revelada com toda dignidade de um profissional de competência reconhecida que um dia projetou um estádio que foi chamado de poema de concreto; que surpreendeu ao substituir enormes e pesados blocos de concretos em formato circular por vigas distribuídas em linhas mais suaves, leves, dando relevância à arquitetura potiguar.

Alguns, e foram poucos, o seguiram, exercitando um direito de cada cidadão. Mas batalha
não houve e se ela não existiu a vitória não está na derrubada do velho marco, mas do novo que
começará a surgir. Melhor deixar o Machadão descansar em paz e que dele possamos lembrar
de outras belíssimas batalhas, as produzidas no chamado tapete verde e, estas sim, merecedoras de todos os brindes.

Lembranças que não se limitam às disputas entre dois times de futebol, mas que chegam a
instantes de beleza sem fronteiras, como as provocadas pela interação de artistas com a massa
humana que ocupava suas arquibancadas.

Eu estava lá, nas arquibancadas, no evento em que o Instituto Varela Barca trouxe a Natal grandes nomes da música brasileira, sensibilizados e dispostos a contribuir com nordestinos
que sofriam as conseqüências de uma seca braba. Entre esses artistas estava Alceu Valença.

O pernambucano estava rouco, a garganta a maltratá-lo. Com inteligência, fez a enorme platéia
cantar por ele. Feito Chacrinha, comandou a massa. Pediu que desligassem os refl etores e
pelas arquibancadas, por instantes, a luz se fazia pela chama de
milhares de isqueiros acesos. Foi um belo show.

No Machadão também teve disso. Por onde desfilou o futebol do maior atleta de século, Pelé, em
partida que reuniu mais de 50 mil torcedores; que recebeu e ovacionou Marinho Chagas; que viu jogar Ademir da Guia e o atleticano Reinaldo, ali também aconteceram momentos históricos e
de importância artística e social.

Brindemos todos o que significou o Machadão pra todos nós.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sonata à Mulher

"Irei jantar no La Fermette Marbeuf 1900 só para ter a certeza de que mocó torrado é bem melhor do que foie gras."
Francisco de Sales Felipe


Sonata à Mulher

Francisco de Sales Felipe


Eu deixarei que todo o meu ser

Seja viajor pelos girassóis de teu corpo deitado.

E te acompanharei na sonata de desejos calados.

Leva-me assim para o prazer de teus gemidos.

Na rosa da tua boca, serei homem a pulsar de desejos.

Espero-te, mulher, no devagar do despir-se.

Manhã em Paris, 01.11.2011