RIMA - Relatório de Impacto Ambiental
CARTA AO AMIGO JUSSIER SANTOS
Caro Jussier:
Louvável seu obstinado grito contra o crime de lesa-pátria que os políticos deste infeliz país estão cometendo contra o povo que os elegeu, em humilhante processo de subserviência aos interesses escusos dos facínoras que se apossaram da alegria ingênua do povo pobre, que é o futebol.
Lamento dizer que o crime já está consumado e seu corajoso depoimento se perderá no tempo, pois povo sem memória não tem história. Despojaram-nos da dignidade e soberania, vendo nosso patrimônio dilapidado e o erário saqueado, escorrendo pelas cuecas de grife dos gigolôs que exploram a única paixão até então permitida à plebe.
Há tempos venho lhe dizendo que nesta bandalheira não me meto mais, pois a ordem é seguir o conselho das cafetinas da corte, “relaxem e gozem”.
Só me manifesto sobre o assunto neste momento, porque fui citado nominalmente no último dia 21/08/2011, no programa de Nelson Freire, na SIM TV, sobre o brutal e desnecessário trucidamento do patrimônio público representado pelo extermínio do complexo do estádio Machadão, em troca de um hipotético “legado”, dito salvador do Brasil, em simulacro de debate com intuito de esclarecer a opinião pública, mas que, na prática, deixou mais confusão.
Disse o super secretário da SECOPA, que fora antes contrario ao extermínio do Machadão para dar lugar àquele faraônico projeto de DUBAI, unanimemente condenado no fórum do CREA de julho de 2009, pelas maiores autoridades sobre trânsito, saneamento e meio ambiente, tendo até provocado uma ação cautelar do MP, e que findou superado pela lavagem cerebral do governo, resultando em pizza.
Confirmou que convidou o Engenheiro José Pereira e a mim para uma avaliação de nosso projeto de adaptação do Machadão, elaborado rigorosamente em obediência às condições exigidas pela FIFA, conforme CD em nosso poder, e até colaborou na análise de nosso Orçamento Estimativo que resultou em um custo de R$ 86,950 milhões (nele incluído um edifício garagem de R$ 29,369 milhões, que seria transformado, após a copa, em centro administrativo para o Município). Pretendia o secretário, colher argumentos para engajar-se na defesa daquela solução racional e lógica que poderia colocar Natal na Copa, sem maiores custos.
No atual Governo, estranhamente, o aludido secretário, embora engenheiro, descobriu nova tese matemática, ou seja, na sua ótica, R$ 450 milhões é uma quantia menor que R$ 86,950 milhões, (sem comentário), e daí tomou uma posição radicalmente oposta, agora em defesa da implosão ou da marreta para demolir o patrimônio público, com a cumplicidade da maioria dos vereadores, da unanimidade da assembléia estadual, da negligência de todas as instituições de defesa da cidadania, da passividade dos clubes e das federações desportivas e com o consentimento do povaréu anestesiado pela propaganda enganosa.
Dá pena ver-se a humilhação dos tradicionais clubes da cidade, mendigando dos governantes gambiarras em estádios obsoletos ou submetendo seus torcedores a viagens caras e cansativas para ver jogos em outras cidades e o desperdício do esforço de quase 100 anos de dedicação dos velhos desportistas deste Estado do “já teve”. Daí, caro amigo, minha admiração pela sua luta quase quixotesca, sozinho e apenas amparado na sua convicção e no comportamento cavalheiresco de sempre.
Chamado a explicar a sustentabilidade do elefante branco, disse o secretário em comento que conta com os eventos internacionais,provavelmente tipo Lady Gaga, Madonna, Barcelona, Real Madri, Cirque du Soleil, Holliday on Ice e similares, chegando até a fazer uma comparação jocosa e injusta com o empresário Nevaldo Rocha, sem atentar que esse notável empreendedor não usa marreta para destruir nada, somente constrói, com o uso de seu talento e de sua notável equipe, sem BNDES, sem fundo garantidor, sem bolsas ludoterápicas, com seriedade, e ainda arca com a violenta carga tributária que sustenta os mensaleiros desta república.
Eu já disse antes, a salvação (não sei de quem) serão os terrenos do fundo garantidor que valem em torno de R$ 1 bilhão.
Se o “debate” continuar, conforme prometido, ainda resta muita pergunta incômoda a ser feita, principalmente:
a) O local da Arena das Dunas foi efetivamente escolhido num passeio aéreo, por amor à primeira vista? Ou qual teria sido o critério técnico ou urbanístico, em se tratando do maior nó viário da cidade?;
b) “Vamos demolir o estádio porque ele vai cair sozinho, audaciosa afirmação do anterior secretário da SECOPA, em audiência pública na Assembleia (outubro de 2009), segundo ele, por opinião de um engenheiro (não disse quem), sabendo-se que dito secretário é leigo em assunto de engenharia, num auditório lotado de engenheiros e arquitetos, e o pior, em grosseiro desrespeito à presença do professor José Pereira da Silva, que recentemente tinha feito uma recuperação estrutural daquele patrimônio?;
c) Se a “presidenta” resolver levar à frente a atual “faxina” em curso, e se o fato vier a suspender o “legado”, após a destruição dos bens públicos, quem pagará pela orgia?;
d) E o EIA/RIMA, carro chefe da vigilância das defensorias do meio ambiente?
Essas respostas têm que chegar ao público.
Acredito que você não se incomodará se eu tentar divulgar está mensagem, até mesmo para que você não fique só.
Um abraço do amigo e admirador
Moacyr Gomes
Em 23/08/2011