sábado, 19 de maio de 2012

Da Alemanha ao Brasil, no maior dirigível

Por Rafael Fernandes

In Revista da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras
Volume 35 - Número 23 - Natal/RN - Setembro/1991

Em 1929, o Graf Zeppelin deu a primeira volta ao mundo. Façanha memorável.  Iniciava suas viagens, conduzindo 25 passageiros.

Em 1936, construíram o superdirigível Hindenburg. Jamais superado até nosssos dias. Além da tripulação, transportava de 50 a 100 passageiros. Capacidade para 20 toneladas de carga.

Navegava entre 200 e 600 metros de altitude, numa velocidade média de 130 quilômetros por hora. Parado, flutuava no ar quase indefinidamente. Parecia um charuto prateado com 246 metros de comprimento.

Estava em Berlim e trabalhava no Hospital Universitário. Em 21.10.1936, em Frankfurt-am-Main, tomei o superdirigível, que num vôo direto alcançaria o Rio em três dias. Para decolar, abriram uma grande torneira, que lançava água no solo. À medida que perdia peso, o balão elevava-se na vertical, em silêncio. Através das janelas de vidro, observávamos as pessoas em terra, diminuindo de tamanho. Todos à bordo sentiam mal estar, devido a vertigem das alturas. Ouviu-se um grande estrondo seguido de outros, com estremecimentos. Eram os motores a óleo Diesel funcionando, dos lados, girando enormes hélices. Sobrevoou o Reno em direção a Holanda e ao canal da Mancha. A França não permitia vôos em seu território.

Maravilhado, eu observava fazendas e campos bem tratados. Pilhas de feno. Castelos da Idade Média. Florestas de altos pinheiros. Gado leiteiro pastando. Cães a ladrar. Patos, gansos e galináceos corriam assustados. Famílias de alegres camponeses agitavam as mãos.

Dois andares da nave serviam de alojamento aos passageiros. No primeiro, havia camarotes para duas pessoas. Paredes decoradas, mesa, espelho, armário, campainha, lavatório, água corrente e luz elétrica. Lençóis de linho. Banheiro completo.

Viajavam 56 passageiros, sendo 5 brasileiros, 13 tripulantes e o comandante Capitão Max Pruss.

Ainda nesse andar, ampla sala de refeições. Mesas para duas e quatro pessoas. À direita, espaçosa sala-de-estar, com mesas e poltronas. Saleta de leitura, biblioteca, serviço de correio postal e outro convés de passeio. No andar inferior, além da cozinha, a sala de música, com piano e serviço de bar, único local onde era permitido fumar.

O Hindenburg voava a uns duzentos metros, devagar e serenamente. Viagem agradável e emocionante. Oferecia o conforto de um navio.

Durante o jantar, todos vestidos a rigor. Nas mesas, além do cardápio havia um cartão com o nome do ocupante. Folheto dava a lista dos passageiros e tripulantes.

A estrutura da nave era de dura-alumínio, sendo todo o bojo revestido de linho, pintado à base de prata, que refletia a luz e reduzia o calor solar. Grandes lemes verticais e horizontais controlavam a estabilidade e a direção.

No dia 22 de outubro, passamos pela Espanha e o estreito de Gibraltar, a pouca altura. Visão perfeita, inesquecível. Alcançamos Marrocos, onde a paisagem mudou. Cidades e aldeias brancas. Tamareiras, jericos, camelos e solo arenoso, desnudo, amarelado. Gente de túnica e turbante. Voando perto do litoral, avistamos o inconfundível deserto de Saara. Sol a pino. Calor intenso. Núvens de poeira alcançavam o dirigível. Embaixo, dunas a perder de vista. Longa caravana, em fila, cortava o mar de areias candentes. Camelos a passos lentos conduziam cargas desmedidas, enfrentando aquele mundo hostil. Soprava vento quente. À distância, outras caravanas e acampamentos de beduínos. Céu amarelo­avermelhado. A nave jogava, lentamente, como se fosse um barco. Balanço corrigido pelos estabilizadores.

À tardinha, lobrigamos o verde limitante do deserto. Vegetação rala. Arbustos, poucas árvores, palmeira. Inúmeras clareiras, próximas umas das outras. Nelas, quatro a seis choupanas redondas, cobertas de palha, em torno do pátio limpo. Perambulavam porcos, vacas, cabras e aves domésticas. Nativos imobilizados olhavam em direção à nave.

Anoitecia. Chegamos a Bathust, logo abaixo de Dakar. O Hindenburg soltava o gás, perdendo altura. Parou por cima de um caminhão de carga. Iluminou-o com holofotes. Lançou um cabo fino, de aço. Homens, em terra, engataram grandes pacotes, de pronto, recolhidos. Mas, o zeppelim tangido à deriva pelo vento, desviara-se. Ligados os motores, deu volta e repetiu a operação. Tratava-se de bagagens, malas-postais e provisões.
No dia entrante, sobrevoamos um transatlântico alemão. Saudava-nos com prolongados apitos. Viajantes, deslumbrados, de rostos voltados para o alto, agitavam os braços.

Penetramos, à frente, em nuvens carregadas. Desabou o temporal. A chuva fustigava o revestimento da nave, fazendo um barulho ensurdecedor. Descíamos, com o peso d'água. Parecia que íamos tocar as ondas. Mas, ganhando velocidade, fugimos da borrasca.

Olhei o mapa na parede. O alfinete com bandeirinha vermelha indicava nossa posição. Cruzamos o Rochedo de São Paulo - pedra negra, vulcânica. Fernando Noronha, à tardinha. À noite, jantar festivo, regado a vinho do Reno. Entrega de certificados aos passageiros, que atravessaram o Equador pela primeira vez. Guardei a lembrança do "Deus AEOLUS", datado, Hindenburg, 23.10.1936. Saí do refeitório para ver Natal.

O zepelim flutuava, de faróis acesos, diante do Forte dos Reis Magos.

Lançou de pára-quedas, na Praia da Limpa, a mala-postal. Uma coroa de flores na estátua de Augusto Severo, aeronauta, norte-riograndense, morto no desastre do seu dirigível, 1902. Natalenses nas ruas, apreciavam o espetáculo, deslumbrados. Conheciam o Graf Zeppelim e o Hindenburg, da viagem anterior.

Visita rápida. Com os motores acelerados, aproou para a costa, rumo ao sul. Às 22 horas, Berlim irradiava minha conferência para a América do Sul. Lá, embaixo, as areias limpas das praias separavam o mar do coqueiral verde-escuro, dentro da noite azulada. Panorama imutável. Queimadas clareavam a floresta. Aglomerados cintilantes denunciavam cidades e vilarejos. No mar, pontos de luz baça dos candeeiros das jangadas. Passageiros, na sala-de-estar, convers­vam, jogavam cartas e bebiam cerveja. Na sala dos fumantes, as músicas melódicas teuto-vienenses. Alguns passeavam no convés. Pessoas de várias nacionalidades. Tripulantes atentos em bem servir.

Fomos nos deitar. O dirigível jogava.

Viajamos no último dia, com tempo bom, apreciando a costa brasileira.  Estrangeiros maravilhavam-se ante a exuberância da flora tropical. Matas fechadas, ao sul da Bahia. Rebanhos em vastas campinas. Fazendas de café, fumo e cacau. Vaqueiros tangendo boiadas. Abundantes terras incultas e despovoadas. O Estado de Espírito Santo, Salinas de Cabo Frio, no Estado do Rio. Viajantes, a bordo, prontos para o desembarque junto às janelas, admiravam a natureza arrebatadora do Rio de Janeiro - o Corcovado e o Pão de Açucar. Às cinco da tarde, estávamos ao longo da Avenida Rio Branco. O tráfego parou. Motoristas e passageiros saíam dos carros, a fim de olhar o aerostato. Ruas, praças, janelas e terraços apinhados de gente. Gritaria e o buzinar dos automóveis. O entusiasmo não se arrefecia, dado o impacto produzido pelo objeto voador.

O Hindenburg aguardava a hora mais conveniente para baixar. Volteou a cidade, com lentidão. Vagueou pelo litoral. Às onze da noite, pousou no Rio, na base de Santa Cruz.

EM 1937, o Hindenburg fazia a linha dos Estados Unidos. A seis de maio, em uma noite tempestuosa, aterrissava em Lakebust, quando se incendiou com 97 pessoas a bordo. 37 morreram. Atribuiu-se a catástrofe ao santelmo.

 Cerca de 1.200 pessoas tiveram o privilégio de viajar no Hindenburg. No Graf, umas 18.000, em mais de 650 vôos normais, durante oito anos. Após esse desastre, deixaram de navegar, sendo desmontados em 1940.

Terminaram, assim, as viagens de luxo, conforto e romantismo. Encerrou-se o ciclo dos dirigíveis.

terça-feira, 10 de abril de 2012

O ASSASSINATO DE ANNA MARCELLINA: BALDO, 1845



O ULTIMO ENFORCADO
Henrique Castriciano

A pena de morte deixou de ter execução no Brasil devido,
principalmente, ao sentimentalismo do povo.
Este se agitava unanime, n'um surdo protesto de piedade,
sempre que o imperador negava a commutação da pena ultima, aplicada pelo Jury
ao criminoso que a merecera.
D. Pedro II raras vezes deixava de conceder o relativo
perdão solicitado em casos taes ; e o réo, salvo pela clemência
imperial,contentava-se em apodrecer o resto da vida nas cloacas denominadas,
entre nós, cadeias ou prisões publicas.
No Brasil, a ultima execução deu-se na cidade do Pilar, das
Alagoas, em 28 de Abril de 1876.
O facto causou funda emoção em todo o paiz, principalmente
porque a Princeza Izabel — na auzencia de D. Pedro, que viajava pela Europa — repellira,
não havia muito, em termos decisivos, a suggestão do Ministro da Justiça, que,
debalde, empregara esforços no sentido de obter a morte de um condemnado. Foi
unisono o clamor da imprensa; e ao velho rei, mais uma vez, applicaram o
epitheto de escravocrata, porque se tratava de infeliz captivo,
attribuindo-se-lhe não sei que razões de Estado fundadas no respeito que os
míseros deviam aos senhores, os quaes deixariam de viver no dia em que as leis
deixassem de punir, com o máximo rigor, os maleficios dos escravos.
O horror publico influiu certamente no animo do Imperador,
ja de si inclinado á bondade e á tolerância; e, na parte relativa á pena de
morte, o antigo Código Criminal ficou virtualmente abolido.
No Rio Grande do Norte, o ultimo enforcado chamou-se
Alexandre José Barbosa.
Depois delle, foi condemnado ao mesmo gênero de morte o
paciente Valentim Barbosa, que,em 1847, commettera impressionante e desvairado
crime passional. Estava, porém, muito viva na memória do povo a trágica scena
da execução de Alexandre e o juiz não encontrou quem se prestasse a dar
cumprimento á lei: até os presos recusaram-se obstinadamente...
Valentim teve de ser fusilado.
Mas narremos o crime de Alexandre. Podemos reconstruil-o em
todas as peripécias, baseados no respectivo processo, existente no cartorio do
escrivão Miguel Leandro, e firmados no testemunho de algumas pessoas que
assistiram ao justiçamento do réo. Não é, pois, um romance que se vae ler e sim
uma chronica real, tecida com dados positivos e seguras informações.
A victima de Alexandre, Anna Marcellina Clara, residia n’uma
pequena casa mal segura, á
rua denominada hoje Aquidaban. Essa casa foi substituida por
um edifício assobradado, onde residiu o negociante Thomaz Nunes Monteiro e onde
tem seu atelier o Sr. Alberto Roselli.
Anna Marcellina era natural de Hamburgo.
Forte, de carnação rija, sempre de bom humor, contava cerca
de 50 annos de edade e, pelo amor ao trabalho, pela indifferença com que encarava
tudo que não tinha relação com a sua vida obscura e honesta, gosava da estima
de todos.
Morava só, tendo apenas por companheira uma cadellinha do
reino e, ás vezes, a menina Balbina, sua afilhada, ainda existente nesta
Capital.
Vivia de pequenas vendas de preparados de milho e diziam-n'a
rica, possuidora de occulto e cobiçado thesouro,—fama justificada aos olhos
ingénuos do povo pela assiduidade no mister a que se entregava e pela
alimentação sobria de que fazia uso...
A hamburgueza — assim a chamavam e assim ficou sendo
conhecida através dos annos—tinha o velho habito de frequentar o Baldo, antigo
logradouro publico, onde a plebe natalense, desde tempos remotos, faz nocturnas
abluções e cuja inffuencia nos costumes da mesma plebe merece ser estudada por
um chronista observador.
Ali, a infeliz Anna Clara ia regularmente, ao cahir da
madrugada, lavar a propria roupa; e, de
volta, não raro, dava dois dedos de palestra ao soldado
Alexandre, que morava perto, no logar onde finda hoje a rua dos Tocos. O
soldado, maldoso, gracejava com ella, prestava lhe pequenos favores, fazia- se
serviçal; e a misera, retribuindo os obséquios, emprestava-lhe dinheiro e
objectos de uso commum.
Na madrugada de 13 de Fevereiro de 1845, approximava-se ella
do reservatório, quando ouviu
a voz de Alexandre, que a chamava com urgência.
Anciosa e retardando os passos, perguntou-lhe o que
desejava. O assassino approximou-se, então; e, rápido, sem compromettedoras
delongas, deu-lhe formidável cacetada.
A victima cahiu pesadamente, mas não morta; por isso, o
soldado, mergulhando-lhe o rosto
na areia movediça, poz termo á hedionda tarefa, asphyxiando-a.
Clareava, porém o dia, e o logar não era tão deserto que
permittisse ao scelerado cavar n'aquelle momento uma sepultura. Que fazer,
então? No depoimento do soldado João Francisco de Freitas, accusado pela mulher
do réo de suggestinador do crime, encontra-se a afirmativa de que Alexandre, segundo
confissão feita ao mesmo, conduziu os restos da victima para dentro de casa e
ahi os conservou durante o dia.
O sogro do assassino, o açougueiro de nome Maxiininiano da
Silva, diz que o cadáver se achava
sob um cajueiro quando elle, a convite do réo — que para ali
o conduzira traiçoeiramente — teve de saber do horroroso acontecimento,sendo
obrigado a servir de auxiliar do bandido na tarefa de apagar os vestígios do
crime.
Parece verdadeira a confissão de Alexandre.
Provavelmente elle escondeu n'um dos quartos da casa o corpo
de Anna Clara, e, chegada a noite, o conduziu até a arvore, onde o encontrou
Maximiniano.
Ahi, lembrou-se de occultal-o no Baldo, mas era preciso
fazel-o de modo a não ser descoberto; e, para isso, precisava de alguém que o
ajudasse.
Foi buscar, então, o sogro.
É exacto que o reu morava em companhia da mulher, Josepha
Maria da Conceição; esta, porém, não o denunciaria, a julgar pelos
interrogatórios a que respondeu; votava-lhe o affecto misturado de terror, a
exquisita, mas não pouco vulgar, estima que as mulheres desequilibradas
consagram aos criminosos e aos depravados.
O réo confessou também ao dr. Octaviano Cabral Raposo da
Camará que a hamburgueza, depois de morta, "foi conduzida para o matto e
escondida debaixo de umas folhas."
Receio de comprometter Josepha Maria?
Seja como for, nada tão lugubre como a anciedade desse homem
ás voltas com um cadáver
— cujo peso devia ser excessivo—sem saber, na allucinação do
momento, que destino lhe desse.
A victima foi atirada ao “Baldo” na noite de 13, quando Alexandre,
segundo declaração confidencial feita ao dr. Octaviano, comprou ao negociante
Domingos Henriques uma peça de corda para o fim que adiante se verá.
Tarde, ao pôr da lua, elle procurou Maximiniano e, chegados
ao pé da morta, disse o que iam
fazer.
O desgraçado recusou -se.
— Não posso.
“Ou pega, ou fica aqui mesmo junto com Ella”, resam,
textualmente, os autos, na parte do interrogatório de Maximiniano. Então
começou o hediondo trabalho. Ligaram os pés e as mãos da victima, prendendo-a,
depois, a um pau, á semelhança do processo usado na conducção dos porcos
destinados ao açougue. Em seguida, levaram-na ao "Baldo", não
obstante a fraqueza do companheiro de Alexandre, o qual por diversas vezes
cahiu, na angustia daquella tarefa mortuária.
Ali chegados, o réo ligou a um tronco de carnaúba o cadáver
da extrangeira, que, tres dias após, foi encontrado dentro d'agua “deitado
sobre o ventre e amarrado pelo pescoço, pelo dorso e pelos punhos”, conforme o
laudo da vistoria redigido pelos peritos dr. Thomaz Cardoso de Oliveira e cirurgião
João Thimoteo da Rocha Galvão, em casa do delegado de policia, major Joaquim
Francisco de Vasconcellos.
Alexandre despedia-se do sogro, recommendando-lhe, sob
ameaça, absoluto segredo; e, munnindo-se da cbave que havia encontrado nas
vestes da assassinada, dirigiu-se á casa desta, no intuito de roubar o que lá
encontrasse: tinha sido esse o móvel da atrocidade.
Apenas abriu a porta, embargou-lhe o passo a cadella,
inseparável companheira da victima; o animal, porém, era um desses franzinos
cães de regaço e o monstro, não sem grande custo, conforme disse ao soldado
Freitas, conseguiu dominal-o.
Accendeu uma vela de carnaúba, pregando-a no fundo de uma
cuia ; e, calmamente, depois de
obstruir os claros da janella e da porta, para não ser vista
de fora a luz mortiça da vela, procedeu á minuciosa busca, finda a qual,
sentiu-se, positivamente, logrado. Em vez da cobiçada fortuna, achou somente
pouquíssimos patacões de prata, alguns anneis de pequeno valor e outros
objectos, de ouro, mas de custo módico— objectos estes que, exceptuando as
moedas, foram encontrados occultos no vestido de sua mulher, o que prova a
cumplicidade, pelo menos relativa, d’esta.
O crime só foi verificado a 16, ao meio dia, com o
aparecimento do cadaver, descoberto por diversas crianças que se banhavam na
occasião e que notaram o máo cheiro do reservatorio.
Antes, porém, andavam no ar rumores sinistros,
principalmente porque, na manhã do assassinato, o menino António José, filho do
capitão José António e tio de Joaquim Guilherme de Souza Caldas— que
representou papel saliente na política e na burocracia do Estado — amanhecera
afirmando ter visto, em sonlio, Anna Clara luctando anciosa com alguém que,
após terrível combate, a conseguira asphyxiar. Extraordinário phenomeno telepathico,
inexplicável como tantos outros.
Pela manhã do dia referido, Alexandre encontrou-se com o
soldado Freitas—a quem convidara, havia três mezes, para associar-se ao crime —
e disse-Ihe que ''a hamburgueza tinha ficado de molho no “Baldo”.
Freitas, mais tarde, ao ser denunciado como cúmplice, confessou
isto ; accrescentando que o réo na mesma occasião, dissera estar desapontado
porque quasi nada encontrara, não sabendo mesmo onde ''aquelle diabo tinha
botado o dinheiro”, e julgando provavel que “a justiça achasse muito
mais"...
O chefe de Policia, dr. João Paulo de Miranda, officiou ao
delegado para agir na forma da lei.
Este despachou immediatamente, mandando proceder contra
Alexandre, detido desde o dia 18, e ordenando
fossem inqueridas as testemunhas Balbina (afilhada da
victima) João Manoel de Carvalho, que conecia dous anneis da defunta vendidos
pelo assassino, João Rodrigues, Manoel Martins, o escravo Luiz e o negociante
José Alexandre Seabra de Mello, a quem o criminoso procurara vender um dos
patacões roubados.
Alexandre era natural do Assú e contava 39 annos. Mestiço, de
largo thorax robusto, de cabellos annelados e olhos castanhos, tinha no rosto a
intelligente expressão dos sertanejos do norte, alliada á vivacidade de gestos
e de pronuncia muito communs ao nosso matuto quando se faz soldado, ou quando,
ferido pela necessidade, resolve-se a deixar a terra natal, em procura das
regiões paludosas da Amazonia.
Não gosava de boa reputação: ao tempo em que praticou o
crime estava sendo accusado do furto de uma cabra, "pela qual ia pagar
oito mil reis, "disse elle, manhosamente, queixando-se das injustiças da
sorte.
Nos diversos interrogatórios a que respondeu, revelou sempre
sangue frio e intelligencia prompta, tendo phrases de um vivo colorido plebeu,
verdadeiras filigranas de artista perverso, educado nas chatezas da tarimba.
Analphabeto, absolutamente ignorante, defendeu-se como poude,
alterou datas, phantasiou historias, affastando de si a autoria do crime; mas
as provas se multiplicavam, appareceram diversos objectos que a afilhada da
morta reconheceu serem d'esta, e por ultimo a sua propria mulher, aterrada com
a feição dos acontecimentos, acabou de perdel-o, confessando o bastante para
entregal-o a justiça, sem possível defesa.
No primeiro interrogatorio, em 18 de Fevereiro, disse ter
sabido, como todo o mundo, que a
hamburgueza aparecera no Baldo, e,se a não fora ver, ''era
porque só arrastado veria gente morta e assistiria a embarque de tropa." No segundo, a 19, sendo lhe apresentados dous
anneis que a pequena Balbina, presente, reconheceu serem da madrinha, inventou
immediatamente um conto, affirmando que, tendo comprado um bacamarte, havia
cinco annos, em casa do negociante Joaquim Ignacio Pereira, o trocara depois
com um sujeito desconhecido de Canna-Brava, adquerindo, nesse momento, não só aquelles
anneis, como umas argolas de ouro e outro annel do mesmo metal. Em primeiro de
março, presentes Maximiniano da Silva, seu sogro, sua mulher, Josepha Maria, e
o soldado Freitas—que haviam narrado tudo — garantiu resolutamente serem mentira
as affirmações d'elles, e só depois de concluído e assignado o interrogatório
contou ao dr. Octaviano, "em conferencia reservada" permittida pelo
delegado, alguns pormenores da tragedia.
N'essa oceasião, declarou que Freitas havia muito o convidara
para commetterem aquelle crime, não tendo isto se dado porque Josepha Maria lhe
aconselhara o contrario "mesmo porque o Santo Padre Frei Seraphim estava a
chegar e podia adivinhar."
No dia 7 de Março foram os autos conclusos ao delegado
Joaquim Francisco de Vasconcellos, que pronunciou Alexandre no art. 271 do
antigo código criminal, sendo incursos no mesmo art., grau medio, o soldado
Freitas, Josepha Maria e Maximiniano da Silva.
Em 4 de Abril subiram os autos ao Juiz Municipal, dr. Francisco
Pereira de Britto, que os despachou com vista ao promotor publico.
Houve demora na organização do libello, que só foi apresentado
a 7 de Junho de 1845 pelo promotor interino Bartholomeu da Rocha Fagundes.
O Jury teve logar a 17 do mez seguinte. N'elle funccionaram
Joaquim José Dantas, João Ferreira Nobre, Felippe Varella Santiago, João
Pereira de Azevedo, Francisco Pereira de Britto, João Alvares do Quintal, José
Gomes da Silva, José da Costa Pereira (presidente) Manoel Teixeira da Silva
Forrado, André Matheus da Costa, Manoel Joaquim Açucena e outro jurado cujo
nome as traças devoraram.
Alexandie negou mais uma vez a sua participação no crime.
— Mas — perguntaram-lhe — como foi achado o ouro da
hamburgueza em poder de sua mulher e como esta o houve?
— Estando em minha
casa, num dia que não me lembro, ouvi certo ruido, a uma hora da madrugada.
Sahi fóra, armado de cacete e faca. Vi correr, então, dous vultos, que não pude
reconhecer. Alcançando-os, um d'elles entregou-me todo esse ouro para Josepha
Maria. . .
Defendeu-o, assim como á sua mulher e sogro, o dr. Leocadio
Cabral Raposo da Camara. Freitas teve por advogado o dr. Victor José de Castro
Barroca.
No fim da sessão, o juiz, de accordo com a resposta dos quesitos,
condemnou Alexandre á morte, grau máximo do art. 271 do código penal de então,
appellando ex-officio para a Relação do districto, em Pernambuco, ex-vi do
disposto no art. 449 § 2°. do regulamento n°. 120 de 31 de Janeiro de 1842. Os
outros réus foram absolvidos.
O asssassino, diante d'aquella sentença, que o ia arrancar á
vida, acovardou-se e chorou. Depois, cahiu na mais profunda tristeza, obsecado
pela Idea da morte.
De resto, nada mais proprio para acabrunhar o espirito do
que a cadeia de Natal n'aquelle tempo.
Tenho sob a vista um officio do tenente de artilheria, Francisco
Primo de Souza Aguiar, no qual vem minunciosamente descripto o estado da mesma.
O officio tem a data de 4 de Fevereiro do anno em que o réo
foi justiçado e dá conta do exame mandado proceder pelo presidente d'esta então
Provincia, dr. Casimiro José de Moraes Sarmento.
Como documentação historica, vale a pena rezumil-o. A cadeia
occupava, n'essa época, o andar, ao rez do chão, do sobrado que celebrava as
suas sessões a camara municipal, sito á Rua-Grande, hoje Praça André de
Albuquerque. O prédio era o mesmo de agora, sem as actuaes modificações para
melhor.
Tinha duas fachadas: uma que dava para a Praça e outra para
o lado opposto. Na primeira havia duas janellas e porta ; na outra apenas uma
janella. O pavimento terreo era, por muros interiores, dividido em três, dos
quaes dous serviam de prisão ; no terceiro aquartellavam-se os soldados encarregados
da vigilância dos detentos. O logar destinado ás mulheres media 2m. 20c. de
largura e 9m. 45c. de comprimento, tudo clareado somente por um postigo
gradeado com Om. 60c. de altura e Om. 50c. de largura, por uma fresta aberta na
parede do lado esquerdo e por dous buracos de forma triangular de Om. 20c. de
altura, abertos por cima da porta de entrada. A prisão dos homens ficava no
centro e entrava-se n'ella por um alçapão aberto no soalho, servido por uma
escada movel.
Media de largura 8,10m e 10,45m de comprimento, tendo duas
janellas com grades no lado da Praça e uma no lado opposto, todas com 1 metro
de largura e 1,10m de altura.
Os presos de ambos os sexos nunca se banhavam e cosinhavam
na sala da prisão, sobre o solo coberto de pedras irregulares, de superfície
húmida e lodosa.
Os que não possuíam redes deitavam-se em taboas soltas e as
fezes eram lançadas n'um barril, que ficava todo o dia a um canto.
Relativamente á alimentação, basta lembrar que, existindo 27
presos, a verba designada pela Assembléa Provincial era de 30$000 mensaes:
menos de mil reis diários para manter 27 creaturas humanas...
Eis o antro em que Alexandre teve de aguardar a morte.
Remettido o processo para a Relação de Pernambuco, por appellação
ex-officio do Juiz Britto, o tribunal julgou esta improcedente por accordão de
21 de Março de 1846, sendo devolvido para o respectivo comprimento da lei, em
virtude do despacho do dr. António Ignacio de Azevedo, prezidente da Relação.
Por intermédio do dr. Casimiro de Moraes Sarmento, o Juiz de
Direito de Natal enviou um relatório ao Imperador fazendo o histórico do
processo, acompanhado de uma petição de graça do réo.
Indeferida esta, o presidente recebeu o seguinte aviso :
"3ª secção. Ministério dos Negócios da Justiça, Rio de Janeiro,
21 de Setembro de 1846. Ilmo. e Exm. Sr. Com officio de 18 do mez antecedente e
n°. 87, que V. Exa. me dirigiu, levei á presença de S. M. o Imperador, não só o
relatorio do Juiz de Direito da Comarca do Natal, dessa Provincia acerca do
processo em que foi condemnado Alexandre José Barbosa á pena de morte, por
sentença do Jury da Capital da mesma provincia, em razão de ter assassinado a
Anna Marcellina Clara, como também a petição de graça do dito réo, implorando a
commutação d'aquella pena na de galés perpetuas ou em qualquer outra; e porque,
avistado mencionado relatório, o mesmo Augusto Senhor não julgou o réo digno de
graça do Poder Moderador, ordena que V. Exa. dê as necessárias providencias afim
de que seja executada a referida sentença.
Deus Guarde a V. Exa. José Joaquim Torres Fernandes.
Cumpra-se e archive-se — foi o despacho do presidente.
O Juiz de Direito da Comarca, dr. Cláudio Manoel de Castro,
officiou, então, ao juiz municipal, ordenando-lhe que cumprisse a lei. Este
mandou levantar a forca e marcou o dia 31 de Outubro para a execução.
Nesse dia, ás cinco lioras da manhã, o réo confessou-se e
commungou, sendo-lhe adiministrados os sacramentos pelo padre Joaquim Francisco
de Vasconcellos, que o acompanhou até ao supplicio.
Em seguida, formou-se o préstito. Precedia-o o official de
justiça. António da Silva Vieira, lendo
a sentença, em voz alta e lugubremente declamada; após,
vinha o réo "vestido com o seu vestido ordinário", algemado e com uma
corda ao pescoço.
Acompanhavam-no o juiz municipal, o escrivão, Manoel
Mauricio Correia de Sá, e o padre Joaquim, todos guardados por uma força
militar sob o commando do alferes Miguel Porfírio de Souza Caldas.
Depois de percorridas as ruas "mais publicas" da
cidade, o fúnebre cortejo parou em frente ao patibulo, erguido no logar onde é
hoje o Mercado do Peixe, na Avenida Rio Branco.
Ainda uma vez, o official de Justiça declamou a sentença
irrevogável ; e o assassino, aterrado e vacillante, chorava — ao lado do padre
que o exhortava compungido — sem energia para galgar os degráos da forca (1).
Deram-lhe um pouco de vinho.
Reanimou-se e, tremulo, os olhos congestos na face livida,
dirigindo-se á multidão que o cercava, presa de uma angustia sem nome :
—Rogo a todos que me vão assistir a agonia que resem uma
Salve Rainha e peçam á Nossa Senhora para me dar uma boa passagem para o outro
mundo. . .
Entregou-se ao carrasco, o preso Francisco Lourenço Cabral.
E quando este, depois de ter justo demoradamente o laço,
deteve-se, aguardando o signal do juiz, ouviram-se, cortando o silencio
d'aquelle grande momento, vozes entrecortadas de soluços, pedindo
misericórdia...
O reu disse ao algoz :
— Espere, camarada.
E segredou a ultima confissão ao sacerdote, que o abençoou,
murmurando phrases da litania dos mortos. Em seguida, foi arremessado ao vácuo
; um tremor convulsivo agitou-lhe os membros destendidos; e o carrasco, diabolicamente,
apressou-lhe a morte, com o auxilio brutal do costume...
Eram nove horas.
O povo, ainda oppresso, dispersou-se aos poucos; os paes
retiraram os filhos, que para ali haviam sido conduzidos afim de assistirem áquelle
exemplo, segundo o uso detestável da época ; e o corpo ficou durante algum
tempo suspenso e abandonado de parentes e amigos, se é que o assassino os tinha
ao morrer.
Não apparecendo quem o levasse, fel-o a justiça, que o
mandou conduzir para a capella do Rozario, onde se acha enterrado.

(1) Alexandre, como, em geral, os indivíduos de indole
perversa, era pusillanime. Tendo de servir de carrasco de Ignacio José Baracho,
acovardou-se no momento da execução e se poz a tremer.
O condemnado, celebre pela sua coragem, disse-lhe com um tom
de feroz ironia :
— O que é isto, Alexandre ? Com certeza você não tremeu
assim quando matou a hamburgueza I
Baracho não consentiu que elle lhe puzesse o laço ao pescoço;
fel-o com as próprias mãos e
precipitou-se elle mesmo no espaço, tendo dito antes ao desgraçado;
- Não consinto que um homem como você me empurre...
Não encontrei o processo de Baracho: devia ser bem curioso.
Narrou-me o facto, assim como alguns pormenores d 'esta chronica,
o velho poeta natalense Lourival Açucena, que, ainda criança, teve de assistir
a tão dramáticos episódios.

sábado, 7 de abril de 2012

Porto do Padre, o entreposto da margem esquerda


Caes 10 de junho, 1869
chamado Caes Pedro de Barros
do outro lado, o Porto do Padre
Estação da Pedra Preta, 1906
Estação do Padre
Avenida Tavares de Lyra, 28 de fevereiro de 1908
1911, Obelisco
Ponte de Igapó, 1916
1917, a Estação de Pedra Preta deixa de operar

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A PRAÇA DA ALEGRIA DOS NOSSOS DIAS



A PRAÇA DA ALEGRIA DOS NOSSOS DIAS
Eduardo Alexandre

Natal nasceu na Cidade Alta.

Desde sua fundação, em 25 de dezembro de 1599, foi a Cidade Alta o palco dos ajuntamentos sociais de Natal. Sacros e profanos, a princípio na Praça da Alegria, que, após a morte do padre João Maria, em 1905, tomou seu nome a partir de resolução assinada pelo intendente Joaquim Manoel Teixeira de Moura, em 11 de julho de 1906.

Nesse início de século XX, os acontecimentos profanos vieram para a Rua da Palha, que tomou a denominação de Vigário Bartholomeu.

O maior ajuntamento cotidiano de pessoas, as festas da cidade, durante décadas deste século, foram ali perto da antiga Praça da Alegria e da antiga Rua Palha, cidade crescendo rumo aos morros do Tirol: o Grande Ponto.

O Beco da Lama no meio do alvoroço do crescimento da cidade.

Beco da Lama por ser o escoadouro das águas servidas que vinham dos fundos das aristocráticas residências da Vigário Bartholomeu e Rua Nova, depois Avenida Rio Branco.

Beco da Lama estigmatizado pelo nome. Mas Beco buscado pela boemia discreta, ciosa de música e conversa boa longe do ruge-ruge barulhento do entorno.

Por ali, transitava Cascudo, saído do Café Grande Ponto, depois Café Avenida, em busca de novas informações e divertimentos no Potiguarânia, depois Café Magestic, defronte do Royal Cinema, esquinas de Vigário Bartholomeu com Ulisses Caldas. Prosas e prosas, poesia, com Jorge Fernandes, poeta modernista residente na Rua da Palha, cujo fundo de quintal dava para o Beco da Lama.

Quando cansado de suas décadas de dedicação à Academia Norte-riograndense de Letras, Manoel Rodrigues de Melo se dirigia ao Beco. Queria conversa com Berilo Wanderley, Luís Carlos Guimarães, Newton Navarro, Bosco Lopes, amigos que sabia encontraria ali para partilhar uma teutônica, como chamava a cervejinha do desprendimento.

Quando Nasi Canaã se estabeleceu na esquina da Rua Doutor José Ivo (Beco da Lama) com a Cel. Cascudo (pai do etnólogo folclorista), e popularizou entre nós a 'meladinha', o doutor Manoel de Brito vez dali parada diária.

E quantas não foram as figuras de importância e sem importância alguma que fizeram dali pouso de cura para as agruras dos dias?

O Beco estigmatizado pela lama que já não mais havia, com o surgimento da Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências (adjacências sugeridas pelo poeta Volontê para dar consistência à sigla), a querida SAMBA, tomou gosto de festa e muitas vieram para trazer a população tangida pelo crescimento da cidade de volta ao seu centro histórico, berço.

O respaldo de toda a gente que se fez presente às centenas nessas festas foi fator de importância para que o Beco se tornasse um referencial de cultura da cidade. Esse respaldo de amor popular fez com que a nossa Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o IPHAN, voltasse vistas para uma possibilidade concreta de transformar toda aquela área central e também a Ribeira como algo digno de preservação, e tudo se transformou, em 2010, em Patrimônio Histórico Nacional.

É essa conquista de tantos que agora está ameaçada de retrocesso por uma intriga mesquinha de vizinhas que levaram querela ao Ministério Público do Meio Ambiente, que, aferrado a rigidez que compõe leis mal escritas, hoje impõe o fim da festa.

Festa que divulga e traz benefícios, traz emprego, traz turistas.

Por tudo isso, políticos e populares, artistas, hoje estiveram ali naquela esquina pedindo à cidade que se compadeça dos maus presságios de fim de festa e se imponha através de sua cultura como logradouro que, também por amor, se quer preservar.

O Beco é hoje a Praça da Alegria da nossa cidade Natal.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Natal, a filha de Coité


Natal, a filha de Coité
Eduardo Alexandre

Tenho dito aos amigos que a verdadeira história de Natal começou quando o Casarão de Guarapes, hoje em ruínas, vivia época de glórias. Foi a partir dele que Coité se fez Macaíba e Lagoinha, de comércio tão intenso, foi até cogitada ser capital do Rio Grande do Norte.

Dizia a gente que nos visitava: Natal? Não há tal.

E não havia mesmo.

Quando Fabrício Gomes Pedroza resolveu construi-lo para dele comandar o império que se formaria abaixo daquela colina, margens do Jundiaí próximas ao desague no Potengi, Natal se resumia a uma modorrenta povoação que insistia em nada ser, de tão sonolenta para o desenvolvimento.

A Rua Nova, depois avenida Rio Branco, poucas casas tinha. A Rua Sarmento, que muito depois seria a João Pessoa do Grande Ponto, ostentava casinholas que se contavam nos dedos de uma mão e não chegava a ultrapassar a Rua dos Tocos, que viria a ser a Princesa Isabel dos nossos dias e que nada tinha a mostrar, a não ser os tocos ainda visíveis do desmatamento de 1845, promovido pelo presidente Sarmento.

A Ribeira? A Ribeira era o Caminho da Fortaleza, a Rua da Cruz querendo descer, mas contida pelo fétido braço de rio chamado Salgado a inundá-la e a vasta campina pouquissimamente habitada com seus coqueirais e o sonho de um porto.

Homem de grande visão comercial, mascate já estabelecido e o melhor sucedido nas terras de Coité, Fabrício Gomes Pedroza, dez anos depois do feito de Sarmento, em 1855, constrói um armazém à margem do rio Jundiaí e cria uma feira. Sua importância na localidade é tanta, que ele sugere e Coité, a partir dali, passa a se chamar Macaíba, nome de palmeira que o capitão (paraibano de Pilar ou Areia, pernambucano de Nazaré?), cultivava e tinha predileção.

Depois da criação da feira, aterro dos manguezais das margens e ancoradouro. O Casarão, em 1859, para armazenamento de produtos e moradia, e, ao seu redor, um verdadeiro complexo, incluindo mais armazéns, capela, alojamento para funcionários e senzalas para os escravos.

Coité, agora Macaíba, torna-se ponte para o interior e para o exterior, grandes navios chegando até ali em intenso intercâmbio comercial,
exportando algodão, couro e, principalmente, açúcar.

A partir do desenvolvimento do comércio dali, a história de Natal passa a ser feita por homens que, de uma forma ou outra, dali vêm ou tiveram seus nomes ligados ao legado construído por Fabrício Pedrosa: Amaro Barreto, Pedro Velho, Alberto Maranhão, Augusto Severo, Juvino Barreto, Elói de Sousa, Henrique Castriciano, Joaquim Manoel de Moura, Cel. Estevão, Manoel Duarte e sua viúva Machado, são só alguns nomes dessa história que tem origem em Coité, passa por Macaíba e fazem surgir a Natal como cidade de fato.

Esse reconhecimento, havemos de ter, é só resgatar a história de cada um desses personagens, contando a importância que tiveram para o desenvolvimento de Natal.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O nosso primeiro fotógrafo

Era como um ornato indispensável às festas. Antecipando a sua chegada, a indefectível fotografia, tão regular, tão natural, tão sua e inerente ao seu hábito que, julgamos possível, vê-lo ressurgir vivo e são, na tarde do seu enterramento, para bater mais um chapa fotográfica.

DR. MANOEL DANTAS
Luís da Câmara Cascudo. A Imprensa, 18 de junho de 1924.

A homenagem da Maçonaria ao seu benemérito associado – A sessão fúnebre da Loja “ 21de março”.

A oração de Luís da Câmara Cascudo

Sr. Dr. GOVERNADOR DO ESTADO
IRMÃO DELEGADO
MINHAS SENHORAS
MEUS SENHORES
PREZADOS IRMÃOS

A maçonaria norte-rio-grandense homenageia pela voz deste seu mau escolhido
orador um daqueles vencedores da morte que no verso camoniano se vão da lei da
morte libertando...

Tão alto é este termo do poeta que séculos antes S. Paulo interrogava se a morte
tinha poderio sobre certas estruturas mentais.

E esta a única, a verdadeira consagração. Sai de todos nós, do povo. O Estado
reflete somente o clamor ambiente. A lembrança mais viva é aquela que circula no
ritmo do sangue sem estátua, sem mármore, sem bronze.

Melhor expressão para a saudade não existe senão em nossa curiosidade de
procurar o morto nos lugares por ele frequentado. E às vezes sojigamos o ímpeto de
perguntar se ele apareceu fazendo o jornal ou semeando anedotas.

Manoel Dantas era a síntese do povo. Sertanejo, praciano, geógrafo e matuto,
advogado e um vivo anedotário, jornalista mestre pela capacidade de trabalho, fingia
receber lições de qualquer um.

Sairia do Sertão. Não este Sertão cinematografado em “posse” de vigiliatura
verânica. Não este Sertão de usos citadinos, mas o sertão autêntico, o sertão de pedra.

O meio físico atuando sobre sua formação anímica asselou-a com os traços de
sua face eterna. É um ambiente dantesco. As serras se erguem despertas e mudas como se o combate geológico as fraturasse subterraneamente. A vista que [ilegível] encontra além do tênue vestido dos capins verdes, da ondulação ciciante do panasco, aquela outra vegetação de pedra, abrupta, angulosa, irrompendo do seio da terra como exclamações de pavor a epopéia titânica das secas.

Deste ambiente ressurge o Hércules. – Quasimodo euclidiano. Trouxe a síntese
da força latente, da resistência espiritual. Consegue reunir a extrema sensibilidade e
fereza extrema. E quando a grande alma sertaneja se expressa num tipo de sua criação e legitimidade – é o cantador, aedo da viola rústica enfestonada de fitas ou vaqueiro, campeador da marroeiros ariscos no mundo intrincado das carrascais e xiquexiques.

A outra face desta terra é pelo inverno. À primeira [ilegível] de chuva o solo
reverdece e há um milagre sereno, como diria o Padre Vieira, confusão verde. A água
desce cortando espelho movente e claro, num reflexo de prata pelo tapete das várzeas.

Neste hiato ao ciclo climatério o sertanejo retempera o aço de sua vitalidade para
o próximo combate. E a sua vida não é que um rápido resfolegar no intervalo das
pelejas.

Este é o meio, este é o cadinho onde se forma a sub-raça dos homens de bronze,
guerreiros dos elementos, semeando a braço forte a civilização e a idéia do mundo no
inferno verde da Amazônia.

De tal seio surgiu Manoel Dantas. Fiel à terra imensa e rude foi ente nós a
grande voz do sertão.

Este porto de incidência entre o sertão e o litoral merece realce. Durante três
dezenas de anos Manoel Dantas conservou-se no vértice deste triângulo. Dos lados
desmesuravam a orla dos litorais com o rosário de cidades e do outro o infinito das
pradarias sertanejas.

O papel social o político devia ser custoso a outro. A ele era a própria atmosfera.
Desta forma a onda sonora encontrava-o para transmiti-la variando, prudente e sereno, o curso e a impetuosidade.

Foi seu magistério, conselheiro privado do Sertão. Conselheiro sem palavras,
mas em gestos, na eloquência das atitudes. Nele se consubstanciava o ímpeto da
vaqueiro e a prudência calculada do cantador.

Através de longa estada na “praça” Manoel Dantas manteve-se sertanejo. Era-o
na linguagem desataviada e franca, na gesticulação natural e pouco cerimoniosa, no
certo de contar anedotas.

Todos nós nos acostumamos à sua figura. Era como um ornato indispensável às
festas. Antecipando a sua chegada, a indefectível fotografia, tão regular, tão natural, tão sua e inerente ao seu hábito que, julgamos possível, vê-lo ressurgir vivo e são, na tarde do seu enterramento, para bater mais um chapa fotográfica.

E perguntávamos como uma criatura viajada e lida, conhecendo sumidades,
tendo sua terra n`alma e na inteligência, pudesse conservar a simplicidade ancestral dos seus maiores.

Não há um de nos que não recorde a sua voz tantas vezes ecoada no brilho das
festas maçônicas. Sob estas abóbadas ouvimo-la soar saudando a bandeira, estímulo,
alegria, mocidade poderosa naqueles dois olhos de eterno rapaz engraçado...
Recordamos essa vida feita de calma e bondade. Aquela voz de mestre sem
palmatória, de político sem vingança, de douto sem orgulho. Lembramos o tique verbal dos tácitos entremeados na conversação, a deselegância de andar, o piso forte, pausado, regular; o conselho meio riso meio seriedade que se orlava nos lábios finos num sorriso de irmão mais velho.

Esta síntese de apuro intelectual e desleixo e esquecimento pelo “modernismo”
era uma fidelidade ao Sertão.

Sempre o senti vestido mentalmente de vaqueiro. Ele nada mais foi de que um
vaqueiro de idéias.

Nunca pode fazer um estudo regular, metódico, seguro de qualquer cousa.
Manoel Dantas bibliófilo e possuidor de cinco mil volumes lia às carreiras, no bonde,
no trem, entre a “prosa” no jornal... Menos por si do que pelos seus encargos conservou-se um gazeteiro de idéias. Feriava-as sempre.

Entretanto o jornal seria feito sempre por si todas as vezes que desejava. Ia do
artigo de fundo ao suelto leve, da crítica à notícia, rápido oportuno, incisivo.

Apreendia as idéias de relance, num vôo d’imaginação, numa presciência.

Quando todos nós esperamos que a idéia venha carreada pela leitura, Manoel
Dantas buscava-a num lance arrojado, num minuto de afoiteza que bem condizia com
ele, neto de vaqueiro, os gladiadores do sertão hirsuto e bravio.

Sob aquela aparência de descanso, de tranqüilidade, de andar igual pelo mesmo
caminho, se escondia imaginação altíssima, romantismo, esperança, todas as virtudes
que pensamos existir nos patriotas verbais.

Entre os de seu tempo nenhum, por mais idealista, concebeu uma cidade ideal
substituindo esta em que vivemos. Viu-a Manoel Dantas, Ali-Babá cheio de pausa e
lento entusiasmo. E foi quem reputávamos o menos idealista dos patrícios donde partiu o gesto mágico, a palavra de encanto para fazer surgir em Natal fantástica, iluminada a milhões de lâmpadas, cidade de ouro, imensa, toda clara, mármore branco de Pentalico, e em volta, o Potengy fazia a lenta ronda meiga com seu dorso d`esmeralda.

Natal daqui a cincoenta anos é uma página de fé. Nele, se pretendêssemos tirar
o melhor de sua esperança, como Pero Vaz de Caminha para a terra moça do Brasil –
dar-se-há nelle tudo.

Manoel Dantas geógrafo era-o na acepção real e ladina do vocábulo. Conhecia a
terra a ele. O esboço coreográfico sobre o Rio Grande do Norte completa uma fase em meu espírito. Em 1918, firmando o que de alto e nobre queria Manoel Dantas ao nosso Estado escrevia-me.

“Os que estudam e amam a nossa terra hão de fazer conhecida com a segurança
que possuímos dela não recear confrontos”.

Outro dirá melhor do político. Só desejo e desta gloria só fico contente dizer
daqui, nesta festa de saudade, que Manoel Dantas se foi político não era da política
brasileira.

Morreu sem um inimigo.

Isso não quer dizer nada de bem. Um homem que sai da linha comum dos
homens, sobe um pouco, o Sol deve iluminá-lo com mais brilho por que ele fica mais
próximo do sol. O mau olhar dos outros deve ser obrigatório. Homem sem inimigos,
sem contestações, sem divergência é uma entidade moderna, sem equivalente na escola zoológica. E Dante assim entendia. Lá está no canto 3 uma multidão que chora obrigada a viver sob um ar sem estrelas e alívio. A esta gente pergunta o Florentino.

Ó mestre que ouço agora?
Quem são esses que a dor está prostrando?
Desse misero modo-tornou-chora
Quem viveu sem jamais ter merecido
Num louvor nem censura infamadora

Manoel Dantas teve inimigos e não poucos. Havia para si a superioridade de
sabê-los vencer sem zangas. Por mais que o adversário multiplicasse os golpes, tinha de si um contendor sereno. E de mãos crispadas caía, naturalmente, o florete ante a
invulnerabilidade tranqüila do inimigo.

No segredo desta força reside a base de sua Vitória. O primeiro que Manoel
Dantas venceu foi ele mesmo. Foi sempre o primeiro na estacada, na liça, na hora
vermelha da luta. Depois silenciava. Estava esperando que chegasse o outro momento de ser útil.

Abnegação! Eis o lema deste querido que a Morte ainda julga ter pedido levar de nosso pensamento.

Se uma criatura falível e feita de humos da terra pudesse viver na casa cristal,
essa seria Manoel Dantas. Nós sabíamos os seus trabalhos, hábitos, o encargo de suas horas, os seus minutos de lazer e onde empregava o dia trabalhando.

Podemos indicar, dada a hora, onde ele seria encontrado. Vencedor de si mesmo
deu-nos ainda, a todos nós que amamos a inteligência, a floração magnífica de sues
filhos, armados pela cultura e pelo exemplo para a mais nobre e linda Vitória no mundo.

Completou a vida. Deixou filhos, livros e plantou arvores. Creio mesmo que
fosse ele a mais digna Expressão de vida cultural e honesta, da força de terra que o
formara, erguera e vinha alimentando como exemplo, louvor e prêmio de sua
fecundade.

Faz-se mister lembrar os dois conselhos. O de Bossnet dizendo que a verdade é
devida aos mortos; o de Machado de Assis explicando que dizer bem dos mortos é uma forma de orar por eles.

Se dissemos a verdade elogiamos o nosso ex-venerável. Oração? Seríamos
dignos de orar por ele? Se este nos deu o caminho sereno da conduta, o riso tranquilo no meio da luta, a esperança entre trovões e tempestades de ódio mesquinho e rastejador, se algo merece não é a nossa oblata – é a saudade.

Eu sei o que perdi. Calou-se umas das raras vozes que ainda possuo na minha
defesa quando mordido. Silenciou, para mim e para o Estado, um de seus mais
devotados e leais filhos. Para a Maçonaria finou-se o irmão modelar, seguro, denodado, altivo, cheio de bem e de amor para com os outros.

Para o Sertão, melhor ele sentirá a ausência daquele que o defendia.

A Maçonaria Norte-Rio-Grandense presta a memória altíssima de Manoel Dantas, a cerimônia de sua saudade. Que ela viva sempre diante de nossos olhos, que nos estimule na estrada que pisamos, que nos momentos de abandono e tristeza possa
erguer-se na nossa alma a voz que emudeceu e sempre ouviremos, dizendo, como tantas vezes disse, a palavra de carinho, de confiança e de coragem.

Foto: Manoel Dantas

sábado, 7 de janeiro de 2012

SOBRE O BAR DAS SOMBRINHAS RECEBI

Caro Dunga:

Sem pretensão de ser historiador, vou lhe contar o que me lembro sobre o bar das sombrinhas que está na foto. Tudo faz crer que é da década de 1930, até pela vestimenta das pessoas que aparecem na foto, principalmente pelos chapéus dos homens.

Naquele tempo, não existia CAERN, o serviço de àgua e esgoto de Natal era uma concessão ao Escritório Saturnino de Brito, cujo desempenho deixou na época a cidade quase 100% saneada, e valiosas obras arquitetônicas e urbanísticas, que, infelizmente, a cultura vandálica predominante nesta "terra do já teve" deixou desaparecer.
Lembro que, já na década de 40, mais ou menos em 1944, no auge da segunda guerra, quando o censo demográfico registrava em Natal uma população de cerca de 55.000 mil habitantes, o contingente de militares americanos representava mais de 10% desta população, com grande influência na vida social, econômica e cultural da cidade, já existia aquele bar, e os alegres e endinheirados militares americanos costumavam frequentá-lo com as meninas igualmente "alegres" da Ribeira. Fui testemunha ocular algumas vezes.

O local era mesmo no inicio da ladeira do Sol, esquina da Rua Dionísio Filgueira com a avenida Getúlio Vargas, onde terminava a linha de bonde elétrico, em frente à casa do Coronel Guerreiro, a qual, por sinal, foi, na ocasião, ocupada pelo USO BEACH CLUB, clube social instituído pelo governo americano em todas as suas bases militares, para divertir suas tropas e fazer sua integração com a população local.

Trouxeram grandes artistas de cinema, e até a famosa orquestra de Glen Miller. Fizeram
um grande show na Lagoa de Manoel Felipe, juntamente com a Tabajaras de Campina
Grande, na qual brilhava o grande clarinetista de Taipu, Cachimbinho.

Fato marcante foi o entusiástico aplauso dos músicos americanos, quando ouviram o desempenho dos músicos nordestinos, sabendo-se que, hoje, quase 70 anos depois, a Tabajaras é a única orquestra no mundo que executa, com perfeição, os arranjos musicais do fabuloso Glen Miller, a ponto de o ouvinte não distinguir realmente qual das duas orquestras está tocando.

Quem deve conhecer melhor os fatos aqui narrados é o historiador Lenine Pinto ou os excelentes pesquisadores da Fundação Rampa, ou, ainda, o histórico piloto Graco Magalhães e os herdeiros dos antigos moradores do velho Petrópolis de Polidrelli e Palumbo.

Forte abraço deste seu amigo, teimoso morador de uma cidade que só existe na
imaginação de alguns

Moacyr Gomes

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Bar das Sombrinhas


Avenida Getúlio Vargas, onde nasceu Cidade Nova - Petrópolis e Tirol.

Dizia-se que a mais mutilada de nossas artérias era a rua da Conceição, antiga rua do Caminho de Beber Água, a segunda rua de Natal, que descia até o riacho do Tissuru, Bardo ou Baldo, numa artéria única, até que a igreja católica a invadiu para ampliar a Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, dividindo-a em duas: Conceição e Santo Antônio.

Pois bem: nem a rua da Conceição foi tão mutilada quanto a avenida Getulio Vargas. Desta, nada sobrou diante dos dobrões do capital imobiliário, nem saudade deixou.

Levaram nossa história, sobraram os sobradões dos mais ricos e poderosos habitantes da Natalópolis que a memória abomina.

Esta foto é só parte da antiga Av.Atlântica que poucos conheceram e se lembram. Ela retrata uma novidade pra muitos (surpresa?), este Bar das Sombrinhas.

Nunca ouvi falar nesse Bar das Sombrinhas.

Pela foto, ficava à direita de quem sobe a Ladeira do Sol, ribanceira abaixo da balaustrada da Getúlio Vargas, antiga Avenida Atlântica.

Não parece ser o Mirante Praia Clube, inaugurado em 1975 pela Caern.

Sobre este, nos conta Itamar de Sousa:

"Durante o Governo Cortez Pereira, os dirigentes da CAERN organizaram o Mirante Praia Clube e construíram a sua sede à margem da pista da avenida Getúlio Vargas, na qual investiram cerca de 721 mil cruzeiros. O mencionado sodalício foi inaugurado festivamente no dia 14 de março de 1975 (Diário de Natal, 13 de março de 1975). Entretanto, em virtude de prejudicar a paisagem desta avenida e de obstaculizar o seu alargamento, o Mirante foi demolido entre o final do governo Tarcísio Maia e o início do governo Lavoisier Maia."

Nos conta Petit das Virgens, que o restaurante do “Mirante” ficou sob responsabilidade de Alcione Dowsley, empresário que criou o primeiro motel de Natal e que ficou famoso pelo uso criativo dos primeiros outdoors de nossas avenidas: Tahiti, o paraíso é aqui! Entre muitos outros apelos que se popularizaram e caíram no gosto popular.

Mas a estória aqui é outra: alguém tem notícias sobre a história desse Bar das Sombrinhas que nos possa contar?