“Em todos os encontros técnicos que tivemos, primeiro na reunião de governadores do Nordeste, em Sergipe, e, posteriormente, em reuniões na sede do BNDES no Rio de Janeiro, o presidente Luciano Coutinho sempre dava como certa a operação de financiamento. Hoje (ontem) ele me deu essa ótima notícia.” Rosalba Ciarlini
foto novo jornal: ney douglas
até onde procede o otimismo de hoje? eduardo alexandre
véspera de festa da copa, notícias boas têm que chegar para espantar fantasmas agourentos.
não deu outra: os jornais natalenses amanheceram com notícias alvissareiras, depois de meses e meses anunciando idas e vindas, adiamentos, dificuldades de toda ordem para contratação e execução de serviços para a realização da copa por aqui.
à noite, vieram as notícias.
a mais importante, de diretor da OAS, assegurava que o BNDES finalmente se manifestava sobre o empréstimo para a construção da arena das dunas: em quinze dias estará com o dinheiro na mão para o início das obras, com a demolição do machadão.
a outra nova dava conta que a prefeita micarla havia sondado o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para obtenção de empréstimo de R$ 100 milhões, a título de financiamento, para custear as contrapartidas das obras de infraestrutura urbana da Copa 2014.
essa última notícia embute uma outra péssima, a de que o empréstimo de 300 milhões que seria feito junto à Caixa definitivamente está descartado, já que o prazo encerra amanhã e os problemas com o Cauc não foram ainda solucionados.
resta ver em quanto o empréstimo com o BID fica mais caro ou não, comparado ao que seria feito pela CEF. também, se os restantes 200 milhões necessários à contrapartida da prefeitura para as obras de 800 milhões em natal virão do mesmo banco.
notícias de véspera de festa sempre são assim, otimistas.
não poderia ser diferente para a natal em meio ao tiroteio de pessimismo que levavam até a duvidar se teremos mesmo copa por aqui.
próxima semana, quando a poeira da festa da fifa no rio baixar, o noticiário volta ao normal e então veremos até onde esse otimismo procede.
"Podemos dar início às obras com recursos próprios, a nossa contrapartida, enquanto resolvemos as pendências." Micarla de Sousa, prefeita de Natal
pedra do cauc eduardo alexandre
Entre os projetos pendentes junto à CEF está o de macrodrenagem da cidade. Sem garantia de execução desse projeto, não tem licença ambiental para a demolição do Machadão e construção do Elefante das Dunas, que ainda não tem projeto executivo nem contrato com BNDES. O prazo do contrato CEF é 30 de julho. Próxima semana, portanto. O Congresso está em recesso. Nem a excepcionalidade de Medida Provisória salva mais. Adeus.
ARENA DEPENDE DE RELATÓRIO DO IDEMA DIÁRIO DE NATAL
Cidades Edição de sexta-feira, 22 de julho de 2011
Prefeita vai buscar solução política para pendências
Diversos órgãos e autarquias municipais apresentam irregularidades, prejudicando o recebimento de recursos federais Maiara Felipe e Fábio Araújo
A prefeita de Natal, Micarla de Sousa, vai apelar para uma solução política em relação às dívidas do Município que constam no Cadastro Único de Convênio (Cauc) do Governo Federal, uma espécie de Serasa para os municípios. Na próxima semana, a chefe do executivo estará em Brasília para tentar resolver as inadimplências junto ao Ministério da Fazenda. As contas estão impossibilitando Natal de receber recursos da União, inclusive, os referentes aos projetos de mobilidade Urbana para Copa de 2014. No total, o financiamento para as obras de mobilidade urbana é de R$ 338 milhões, que se somam aos R$ 186 milhões destinados ao túnel de drenagem entre o Machadão e o Km 6. Apesar das grandes cifras, até agora nenhuma obra começou.
Micarla defende que cidades-sede precisam ter tratamento diferenciado Foto: Carlos Santos/DN/D.A Press
Apesar do entrave na Justiça Federal sobre retirar ou não o nome da Urbana do Cauc, não é isso que definirá a vinda de recursos federais para Natal. A Prefeitura e algumas autarquias municipais aparecem no Cauc com problemas na prestação de contas do FGTS, INSS, Saúde, Educação, Cadin, SRF e alguns convênios. "O Cauc é uma espécie de Serasa das prefeituras e governos, que ficam 'fichados' quando deixam de pagar, mas também quando não enviam ofícios e prestações de contas. Não se pode tratar os desiguais de forma igual. As 12 sedes da Copa precisam ter tratamento diferenciado", acredita a prefeita.
Micarla de Sousa atribui à gestão anterior a responsabilidade pela inclusão da Urbana no Cadastro. "Em 2005, a empresa entrou no Refis, mas colocou números diferentes do real na contabilidade. Agora, a Receita Federal fez auditoria e descobriu essa maquiagem, incluindo a Urbana no cadastro. A cidade não pode ser penalizada por essas atitudes. Os responsáveis precisam ser punidos, não o município inteiro", destaca a prefeita.
O procurador do município, Bruno Macedo, explicou que no mês de maio entrou na Justiça para que não fossem incluídas no Cadastro Federal as dívidas previdenciárias da Urbana, no período de 2005 a2008. Porém, após esse tempo outros problemas de prestação de contas entraram na lista. Mais que estratégias jurídicas, a prefeita recorrerá às articulações políticas.
"Podemos dar início às obras com recursos próprios, a nossa contrapartida, enquanto resolvemos as pendências. Pedimos à presidenta Dilma Rousseff que seja aberta uma excepcionalidade no tratamento dos municípios incluídos na Copa. A ideia é que essas cidades só entrem no Cauc quando houver débito financeiro, e não por questões burocráticas e de documentação", declarou Micarla. Em paralelo, a Prefeitura deve recorrer da decisão da Justiça Federal, que negou o recurso do Município para que os débitos referentes à Urbana fossem desconsiderados para efeito de pendências no Cauc.
quarta-feira, 20 de julho de 2011
ESTÃO QUERENDO ENGANAR QUEM ? não somos assim tão bestas, pensam que estão nos enganando, mas não estão. Nós sabemos de tudo e não somos bobos João Ubaldo Ribeiro
Li em algum jornal que a Fifa, essa organização da qual volta e meia se evola um odorzinho de mutreta, que lida com cachoeiras de dinheiro, cujas decisões são às vezes vistas como fruto de processos viciados e que, enfim, não é nenhuma casa pia, ameaçou fazer a Copa de 14 na Espanha, se as obras aqui não forem apressadas - ou até mesmo iniciadas, como dizem que é o caso de muitas. Por artes do caprichoso destino, isso pode interessar à Espanha, que tem estrutura e está pendurada. Pode interessar a toda a Europa, aliás, devido ao reflexo dos problemas espanhóis na economia do euro. E talvez o Brasil nem conseguisse ir aos jogos, porque os espanhóis poderiam aparelhar os aeroportos para otimizar sua já tradicional deportação de brasileiros.
Apressar as obras significa, como também se divulga muito, relaxar controles sobre custos e gastos. Claro, qualquer que seja o resultado dos debates, todo mundo sabe que haverá roubo. Se for feita uma enquete, tenho certeza de que a grande maioria dos brasileiros acredita que vai haver roubo nessas obras, com sigilo, sem sigilo, de que forma for. Existirá sempre um jeito de roubar, entendido isto como faturamento fraudulento, propinas, desvios de materiais e serviços e, enfim, todo tipo de trambique aplicável, num repertório em que seguramente somos líderes mundiais.
Sim, todo mundo está cansado de saber disso. Então para que tanta complicação inútil, se tudo vai ser mesmo garfado, sempre foi, desde que nos entendemos e ninguém tem problemas ao ganhar dinheiro desse jeito? Há tantos estádios a construir, tantos aeroportos a reformar, tantas obras públicas, tantas armações que podiam já estar rendendo grana e ficamos nessa demora ridícula, repetindo atos ou palavras que nunca resolveram nada. Tanto o que surrupiar já dando sopa aí e esse pessoal perdendo tempo em formalidades que todo mundo sabe que não servem para nada, a não ser para embalar o sono dos que as ouvirem, em forma de discursos, no Senado Federal. Não havia nem necessidade da mãozinha que a Fifa está querendo dar (ou meter).
É difícil assistir a um noticiário de televisão em que não seja mostrado o desbaratamento e prisão (e imediata soltura, em questão de segundos) de pelo menos uma quadrilha que fraudava algum órgão público. Difícil, não, impossível; não me recordo de nenhum. Se qualquer político for acusado de ladrão numa roda de conversa, dificilmente alguém o defenderá com convicção, porque confere com o padrão que nos acostumamos a aplicar à nossa sociedade. Nenhum tipo de falcatrua ou sordidez nos surpreende e é bastante comum que, nessas conversas, alguém lembre uma história bem pior.
E os parlamentares, se não são todos ladrões em sentido amplo, são beneficiários impudentes de uma abundância obscena de privilégios, a começar pelo imoralíssimo foro especial, que os põe numa acintosa classe acima dos governados, a quem não prestam satisfações e cuja vontade ignoram, se não coincide com seus interesses. Há sentido nas miríades de "ajudas", nos fantásticos seguros de saúde, nas generosíssimas viagens e em tudo mais de que desfrutam para mal e pouco trabalhar, isto quando trabalham? Os estrangeiros têm dificuldade em compreender como uma sociedade aceita esse deboche deslavado, que ainda lhe é impingido com arrogância e ostentação de poder. Não acho de todo descabida a semelhança que vejo entre esses privilégios e os da corte de Luís XIV, na França do século 18. De fato, como já disse aqui, o Estado entre nós não é o rei, que não temos; mas o Estado entre nós é dos governantes e a soberania é deles, respeitados os donos da economia.
No serviço público, a falta de compostura e o nepotismo, embora hoje disfarçado pelos intrincados laços familiares dos brasileiros, são a regra. O que é público não é de ninguém, começando pelo material de escritório levado para casa e terminando pelos cartões corporativos. Ocupantes de cargos públicos de relevância se associam secretamente a empresas de "consultoria" e assim ganham fortunas, fazendo na verdade advocacia administrativa e tráfico de influência. Egressos do serviço público caem na mesma prática, pois o serviço público aqui não é para o público, mas para quem o presta, ou alega prestar. O serviço público é uma oportunidade para "se fazer". Comportam-se assim até os menos rapineiros, que se contentam em "colocar" um filho aqui ou acolá, ou bem encaminhar seu futuro depois da política, apesar de já bastante acolchoado por aposentadorias magnânimas e benesses liberais.
E ninguém, afinal, é punido por nada. Se antes isso se aplicava somente aos ricos e poderosos, agora vale para todos. A melhor maneira de matar alguém no Brasil é ficar bêbado, pegar o carro e atropelar a vítima. Aí o atropelador se recusa a usar o bafômetro e vai para casa, responder a processo em liberdade, para, no caso difícil de vir a ser condenado, cumprir a pena também em liberdade. Embriaguez pode até virar atenuante, surto psicótico. Matar gente, aliás, é cada vez mais fácil, talvez mais que roubar. Matar bicho nem tanto, mas pega mal o sujeito sair dizendo que está sob a proteção do Ibama.
É por essas e outras que eu digo: vamos parar com essa enrolação toda, que chega a nem ficar bem, parece sabotagem com a Seleção. Não já estamos exaustos de saber que, em ocasiões semelhantes, meteram a mão na granolina para valer? Não é assim que se faz e sempre se fez neste país, como costumava lembrar um grande líder nosso? Então vamos liberar logo essa grana e sossegar a rapaziada, corrupto também fica estressado. E, afinal de contas, não somos assim tão bestas, pensam que estão nos enganando, mas não estão. Nós sabemos de tudo e não somos bobos, somos apenas omissos, submissos, cínicos e cada vez mais moralmente insensíveis - ninguém é perfeito.
Jennings descarta Copa no Catar e pede intervenção de Dilma na CBF
A seleção brasileira representa mais de 190 milhões de pessoas, mas Ricardo Teixeira acha que pode fazer o que bem entende pelo fato de a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) ser uma entidade privada. Ainda assim, o jornalista escocês Andrew Jennings, famoso mundialmente por denunciar uma série de irregularidades na Fifa, pede que a presidente Dilma Roussef intervenha para destituir o mandatário e descarta a realização da Copa de 2022 no Catar.
Fernando Dantas/Gazeta PressResponsável por denunciar irregularidades na Fifa, Andrew Jennings quer Ricardo Teixeira fora da CBF
Autor do livro "Jogo Sujo. O Mundo Secreto da Fifa: Compra de Votos e Escândalo de Ingressos", em que denuncia esquemas de corrupção e favorecimento dentro da entidade que comanda o futebol, Jennings visitou São Paulo para promover a obra e, antes de participar de um bate-papo em uma livraria na cidade, recebeu a equipe da GE.Net. "O Brasil pertence aos brasileiros e ninguém faz nada no território brasileiro sem a permissão do governo eleito e do povo", declarou.
Além de presidir a CBF, Ricardo Teixeira é o mandatário do Cômite Organizador Local (COL) e centraliza a organização da Copa do Mundo de 2014. A presença do cartola, acusado de receber cerca de R$ 16 milhões de propina de uma empresa de marketing associada à Fifa, não inibiu a entidade de pressionar os representantes das cidades-sede a fecharem contratos com seus parceiros, o que contraria o processo de licitação adotado no Brasil.
Jennings defende uma maior participação do governo federal na organização da Copa de 2014 na medida em que boa parte do dinheiro empregado no evento é público, mas condena o chamado Regime Diferenciado de Contratações, mecanismo que torna sigiloso os orçamentos previstos para as obras durante o processo de licitação. Ele ainda reprovou a escolha da Rússia como sede em 2018 e descartou a possibilidade de o Catar abrigar a edição de 2022 do campeonato: "não vai ser realizada".
Corrupção na construção dos estádios
Tenho uma forte suspeita em relação ao atraso na construção dos estádios. A indústria da construção civil é sabidamente corrupta em vários países. Ela paga para conseguir as obras e depois vai devagar, não constrói. O cliente tem um prazo e fica preocupado. Aí, os construtores falam: "se a gente colocar todo mundo para trabalhar à noite inteira e de final de semana, a obra sai, mas vai custar um dinheirinho a mais". É uma forma de chantagem da indústria da construção civil. Eu também estou muito preocupado com a relação entre o Teixeira e o Jerome Valcke [secretário-geral da Fifa]. Se eu vir mais uma vez eles se beijando e abraçando, vou vomitar. Eu não aguento mais isso e estou sentido um cheiro de chantagem. O Valcke fica lá na Suíça e, de repente, fala: "as obras estão andando devagar, vamos acelerar!". Aí, o Teixeira vai chegar e falar ao governo brasileiro: "nós precisamos de mais dinheiro". Será que o governo vai dizer: "não, a gente não precisa construir estádio, somos o país do futebol e o resto verá pela televisão"?.
Legado
É engraçado. Toda vez que homens de negócio ficam ricos por conta de uma candidatura para receber a Copa do Mundo ou os Jogos Olímpicos, nós sempre ouvimos "legado, legado, legado". Em outras palavras, eu prometo uma coisa para você, mas vai acontecer só no futuro, então me dê seu dinheiro agora e vai ser maravilhoso. Faça o que eu falo pra você fazer, que você terá um futuro maravilhoso. Legado? Que legado? Não existem evidências científicas que um grande evento no seu país faz as crianças começarem a se exercitar, praticar mais esporte. Não. Elas vão estar sentadas no sofá, vendo pela TV, por que deveriam se levantar? O que há com esses eventos esportivos que falam sobre legado saudável e são patrocinados por Mc Donalds e Coca Cola, os inimigos das crianças. Você pode pensar se há alguma hipocrisia aí.
Lobby da Fifa por parceiros próprios
A Fifa quer que o Brasil pague pela Copa do Mundo dela. Eles não podem dizer ao Brasil o que fazer, não há razão para isso. É uma dessas coisas diplomáticas: a presidente deveria mandar um representante falar com o presidente [da Fifa, Joseph] Blatter. "Eu tenho um recado da presidente: não mexa com a gente, ok?". O que eles não podem aceitar na Fifa é a presidente eleita de um país se levantando e dizendo: "a Fifa fede, eles estão tentando roubar nosso dinheiro". O Brasil pertence aos brasileiros e ninguém faz nada no território brasileiro sem a permissão do governo eleito e do povo. Então o governo, que está gastando muito dinheiro, precisa se manifestar. "Isso é o que nós queremos que aconteça na nossa Copa do Mundo, no nosso país, e estaremos bem. Receberemos os fãs, dará tudo certo, e não teremos que gastar tanto dinheiro".
Marcelo Ferrelli/Gazeta PressNa presidência da CBF desde1989, Ricardo Teixeira também é responsável por organizar a Copa de 2014
Transparência x regime diferenciado de contratações
Tem algo realmente errado acontecendo com esses contratos. Não estamos falando de ciência nuclear, são contratos, podem ser monitorados. Então por que o governo não está olhando todos os contratos e os publicando na internet? Futebol é basicamente o jogo do povo, vamos deixar o povo ver os contratos, por favor! Não vejo debate público sobre o que o Brasil precisa. O que o país precisa, nós fazemos, e é isso. Aí você volta um pouco. A candidatura é comandada por construtoras buscando lucros mundiais e recompensas, mas deveria ser dirigida pelo governo e por pessoas genuinamente do futebol. Não pense que o senhor [Ricardo] Teixeira [presidente da CBF] é o homem para representar os interesses do futebol. Ele representa os interessas dele mesmo e de sua família. Esse país poderia realizar uma conferência com políticos das cidades que receberão a Copa para falar sobre o assunto. "O que nós realmente precisamos para fazer o Mundial? Nós não precisamos de mais estádios, para começar. Vamos usar os que já temos, não haverá um novo estádio para a Cerimônia de Abertura, não vamos gastar dinheiro com isso. Nós jogamos futebol o suficiente nesse país e a Copa são só mais 64 jogos".
Brasileiros não verão a Copa nos estádios
Eu tenho um conselho para os brasileiros que querem assistir à Copa do Mundo: comprem uma televisão maior. Se qualquer coisa sugeriu a vocês que o povo brasileiro vai conseguir entrar num estádio para ver um jogo do Mundial, acho que essa pessoa estava fumando alguma coisa estranha quando disse isso. Em Oslo, na Noruega, entrevistei um cara que trabalha no mercado negro de ingressos. Ele estava de saco cheio da Fifa e disse que cerca de 40% dos ingressos da Copa saem pela porta dos fundos da própria Fifa para o mercado negro. Como jornalista, adoro um número grande, mas nesse caso achei que ele estava exagerando. Aí comecei a pensar de onde podiam vir esses ingressos e vi que talvez ele estivesse certo. Porque na verdade esses ingressos são como barras de ouro, são muito valiosos, e não vão parar nas mãos de vocês, a não ser que estejam dispostos a pagar um valor muito maior do que o original. Eles são uma comoddity global, vendida para quem paga mais. O melhor jeito para vocês assistirem à Copa do Mundo é na televisão do vizinho.
Blatter é o Senhor Ninguém
Não precisamos de Ricardo Teixeira, Joseph Blatter e temo que da maioria dos africanos também. "Não haveria futebol sem Blatter". Oras! Por favor! Teríamos melhor futebol sem Joseph Blatter, porque todo o dinheiro iria para o desenvolvimento. Toda vez que você vê uma criança descalça jogando futebol, o que infelizmente vi na África, o Blatter está viajando por todo mundo em jatinhos privados. Ele não sabe nem o que são voos agendados. Quem diabos é esse homem? Ele é o Senhor Ninguém, mas em 1º de junho 186 pessoas votaram para ele continuar na presidência da Fifa e não havia alternativa. Metade deles é tola e metade é ladra, recebeu sua propina e seu ingresso para a Copa do Mundo.
Intervenção de Dilma
O Ricardo Teixeira tem controle sobre muitos parlamentares. Ele faz doações de campanha e isso é um problema. Mas para que serve o governo? Se o Brasil fosse invadido, o governo mandaria o exército para a rua, já que tem o dever de proteger o seu povo. E o governo brasileiro tem que proteger o povo brasileiro do Ricardo Teixeira. Se ele saísse, seria uma pessoa a menos para dar dinheiro para esses parlamentares, a Fifa não poderia fazer nada e o Brasil seria mundialmente aplaudido. O senhor Teixeira não é um problema só agora, ele vai continuar sendo um problema no futuro, porque o nome dele está envolvido em corrupção na Suíça. A presidente Dilma [Rousseff] deveria pedir a um de seus assessores para pegar o telefone e dizer: "Oi, Teixeira, corra para o escritório da presidente agora! Agora! Ela está te esperando e traga os documentos relacionados àquele caso na Suíça, ela quer vê-los". Isso provavelmente funcionaria, porque depois de ver o que tem nesses relatórios, ela teria que demiti-lo. Seria bom para o Brasil, vocês seriam beneficiados e poderiam colocar alguém limpo no lugar dele, além de mandar uma boa mensagem para o resto do mundo: "o Brasil não aceitará a porcaria da Fifa e de mais ninguém". É só dizer: "adeus, Teixeira". É dinheiro dos contribuintes, ele não é homem para ficar a cargo de dinheiro dos impostos.
Punição para Teixeira e Blatter
O mínimo que deveria acontecer com essas pessoas é serem banidas pela vida do futebol, e provavelmente mais algumas consequências criminais. É fácil se livrar dessas pessoas que não foram eleitas. O Teixeira pode ir brincar com seu amigo Sepp Blatter, mas não pode estar envolvido com o Comitê Organizador da Copa. Há gente o suficiente nesse país que sabe como organizar um torneio de futebol. O que ele sabe? Eles não sabem como construir um estádio, como agradar os fãs, como fazer os cachorros-quentes. Eles não sabem como comandar um jogo de futebol, então adeus Ricardo, adeus Tricky Ricky [Ricardo Trapaceiro, apelido dado pela imprensa inglesa ao presidente da CBF].
Copa de 2018 na Rússia
Isso prova como a corrupção está profunda na Fifa. Eu tenho que dizer: sou da Escócia, Inglaterra, e acho que a melhor opção para a Copa de 2018 era a candidatura de Bélgica e Holanda. Porque seria numa área pequena, os fãs poderiam ficar em um só hotel, eles têm trens muito bons para você ir e voltar dos jogos e a cerveja é excelente. A cerveja da Bélgica, uau! Se você é bebedor de cerveja, você vai para lá e nunca volta. Com certeza, os fãs iriam gostar disso. Para 2018, a Inglaterra estava bem, poderia fazer a Copa, mas acho que Bélgica e Holanda seriam perfeitas. Vamos finalizar: a Rússia não tem estádios, eles estão fazendo todo o tipo de promessa, o sistema ferroviário deles é horrível e o serviço de aviação não é seguro. Eles não estão prontos. Um dia talvez, mas agora não estão prontos.
Copa de 2022 no Catar?
Eles nunca deveriam ter realizado duas eleições ao mesmo tempo. Como você pode falar sobre 2022? Nós não temos ideia do que vai acontecer. Vai haver uma guerra até lá? Como vão ser os direitos de televisão? Nós não sabemos essas coisas. Aí aparece o Catar, um dos países mais ricos do mundo. Eles compraram a Copa, eles subornaram por isso. Mas ela não vai ser realizada, porque no mundo real do futebol os jogadores não irão. Se você dirige um dos grandes clubes da Europa, como Barcelona, Real Madrid, Chelsea, Manchester United ou Liverpool, você não vai mandar um par de pernas perfeito que custa 50 milhões de dólares para um lugar em que durante o dia sofrerão insolação. Eles dirão: "desculpe, você não terá meus jogadores". Aí, a Fifa vai começar a perceber que precisa levar os clubes europeus muito a sério, porque os jogadores vêm de lá. Talvez venham da Argentina e do Brasil, mas eles jogam em clubes europeus, que não ligam para a nacionalidade de suas estrelas e não as mandarão para uma coisa sem sentido. Eles falarão "não" e a Fifa terá que fazer algo.
RN já gastou R$ 22 milhões só em consultorias e projetos
Tribuna do Norte, 10 de Julho de 2011 às 00:00
Ricardo Araújo - repórter
Os gastos com a Copa do Mundo 2014 no Brasil fluem como um rio que corre ao encontro do mar. Até a realização do mundial, serão gastos aproximadamente R$ 5,07 bilhões somente com a construção dos estádios/arenas multiuso. As obras, porém, serão produtos finais de uma engenharia superdimensionada e, de acordo com especialistas, dispensáveis à maioria das cidades-sede. No Rio Grande do Norte, o dispêndio começou ainda em 2009 e já soma cerca de R$ 22,3 milhões três anos antes dos jogos. São consultorias, projetos executivos, publicidade.
Já as obras, se resumiram a derrubada de uma creche e ao cercamento do estádio Machadão e entorno. Somente o Governo do Estado, gastou cerca de R$ 13 milhões com a confecção de projetos básicos e maquetes virtuais em terceira dimensão que acabaram se tornando inúteis. Mesmo com o cancelamento dos contratos - orçados em R$ 27,47 milhões - com as empresas Populous Arquitetura Ltda e Stadia - Projetos, Engenharia e Consultoria Ltda, o Estado arcou com uma despesa de cerca de R$ 10 milhões. O custo foi confirmado pelo secretário extraordinário da Copa do Mundo 2014, Demétrio Torres.
Para o chefe da Controladoria Geral da União - Regional Rio Grande do Norte, Moacir Rodrigues de Oliveira, a fraqueza dos projetos básicos contribuem para os sucessivos gastos com consultoria. "O que a gente percebe são fragilidades nos projetos básicos que não tem contemplado a obra como deveria", afirma. Além disso, segundo ele, a má contratação dos planos gráficos e descritivos repercutem na convocação de empresas de consultoria e na renovação dos certames através de aditivos que infringem a Lei das Licitações ( nº 8.666/1993).
De mãos dadas ao Estado, pelo menos nos gastos para o mundial sem transparência, a Prefeitura de Natal já investiu R$ 9,3 milhões em ações voltadas para a Copa do Mundo em Natal. Os gastos incluem desde repasses à Secretaria Municipal de Turismo e Desenvolvimento Econômico (Seturde) à contratação por R$ 942.030,00 de uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), De Peito Aberto - Incentivo ao Esporte. Há também, os projetos de mobilidade urbana com vistas ao mundial.
O Município contratou o consórcio paulista EBEI e MWH Brasil por R$ 7.276.034,54 para a confecção dos projetos executivos do plano de mobilidade urbana que ainda não saiu do papel quatro meses após a assinatura da ordem de serviço. Além disso, a entrega do projeto executivo à Caixa Econômica Federal, financiadora do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) no qual a obra está inscrita, já foi postergada quatro vezes. De acordo com o secretário de Planejamento de Secretaria Municipal de Obras Públicas e Infraestrutura adjunto (Semopi), Walter Fernandes de Miranda Neto, as obras dos lote 1 iniciarão ainda este ano, provavelmente em setembro ou outubro.
Mesmo com todos os atrasos e com a monta envolvida na contratação de empresas de consultoria cujos trabalhos não são visíveis, pelo menos por enquanto, a população natalense aprova a realização da Copa do Mundo. Numa pesquisa encomendada à Certus - Pesquisa e Consultoria pela TRIBUNA DO NORTE, realizada entre os dias 2 e 3 deste mês, 68% dos entrevistados aprovam totalmente a vinda da Copa. Em detrimento de 16,8% que desaprovam integralmente os jogos na capital. Foram ouvidas 700 pessoas maiores de 16 anos em Natal, São Gonçalo do Amarante, Macaíba e Parnamirim.
"Organizar uma Copa do Mundo nunca será um assunto privado. Os estádios serão finaciados com dinheiros dos impostos, assim como as obras de infraestrutura - de mobilidade urbana, por exemplo. Então, ainda que o dinheiro do Comitê Organizador Local seja todo privado, o evento está ligado a gastos públicos." Sylvia Schenk, Diretora da ONG Internacional Transparency
Revolta internacional contra Ricardo Teixeira
Lance!Press
Entidades internacionais que lutam pela transparência no esporte repudiaram as declarações do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, à revista “Piauí”. A ONG International Transparency, referência mundial no combate à corrupção, classificou como “repugnantes” as afirmações do cartola.
– Essas declarações não estão no tom que um líder do futebol brasileiro e internacional deve usar. É constrangedor para o Brasil se estas foram realmente autorizadas por Teixeira ou testemunhadas.
Então, para mim, cabe às autoridades brasileiras, bem como à Fifa, analisá-las e tomar as atitudes necessárias – disse Sylvia Schenk, consultora da entidade para assuntos de corrupção no esporte.
Em nota, o Change FIFA –movimento virtual que defende profundas mudanças na entidade máxima do futebol – afirmou que “a arrogância e o baixo nível das declarações de Teixeira são alarmantes, mas não surpreendentes.” “O Sr. Teixeira abusou por tempo demais do direito de gerir uma instituição pública do Brasil: o futebol. Nem ele nem a CBF inventaram ou são donos do futebol. Como meros administradores do esporte, devem o mínimo de transparência financeira e de gestão aos fãs, a quem o jogo, de fato, pertence”, completa o comunicado.
Segundo Jens Andersen, diretor da Play the Game, entidade internacional que trabalha pela lisura no esporte, Teixeira vai de encontro aos ideais do povo brasileiro: – Ele está traindo os ideais do esporte e do desejo do povo brasileiro em mostrar ao mundo que a sua cultura futebolística preza por diversão e excelência, e não por ganância, ameaças e perseguição.
Com a palavra: Sylvia Schenk, Diretora da ONG Internacional Transparency
Até empresas privadas estão transparentes
Organizar uma Copa do Mundo nunca será um assunto privado. Os estádios serão finaciados com dinheiros dos impostos, assim como as obras de infraestrutura - de mobilidade urbana, por exemplo. Então, ainda que o dinheiro do Comitê Organizador Local seja todo privado, o evento está ligado a gastos públicos.
Em tempo: até mesmo companhias privadas - incluindo marcas globais como Adidas, Coca-Cola, Daimler e outras - estão engajadas no relacionamento com as partes interessadas no seu negócio. Elas estão muito mais transparentes do que no passado e trabalham duramente para terem uma aproximação sustentável.
O futebol - financiado por bilhões de fãs em todo o mundo e pelo dinheiro da TV - também deve ser transparente.
Teixeira é criticado na Inglaterra
As declarações de Ricardo Teixeira também repercutiram negativamente na Inglaterra. À “Piauí”, o dirigente acusou a imprensa do país de “armar” matérias relacionadas à Fifa por terem perdido para a Rússia o direito de sediar o Mundial de 2018.
No entanto, a imagem de Teixeira em terras inglesas é negativa antes mesmo da polêmica entrevista. No início de junho, o deputado inglês Damian Collins foi questionado pela reportagem a respeito do cartola brasileiro.
– Precisamos na Fifa de pessoas que compreendam o futebol em todos os níveis – afirmou, em aberta crítica ao mandatário.
Collins lidera um movimento político internacional para pressionar a Fifa por mudanças. Até o momento, parlamentares de dez países já se juntaram à coalizão.
Na edição de ontem do LANCENET!, Collins voltou a criticar Teixeira:
– É hora de questionar se ele está apto a estar ligado à Copa-14.
Esportes Diário de Natal
Edição de sexta-feira, 8 de julho de 2011
Maior cartola brasileiro prometeu dar o troco a jornalistas durante a Copa no Brasil Foto: Fábio Cortez/DN/D.A Press
Depois do silêncio ensurdecedor adotado logo após o início das denúncias de corrupção na Fifa, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, voltou a abrir a boca, desta vez distribuindo fortes declarações e fazendo ameaças aos órgãos de imprensa. O mandatário da confederação e presidente do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014 mudou seu estilo reservado em entrevista para a revista Piauí deste mês, ele revelou não dar a mínima atenção para as críticas e denúncias ligadas a seu nome. "Não ligo. Aliás, caguei. Caguei de montão [sobre as denúncias em que está envolvido]", afirmou Teixeira. "Só vou ficar preocupado quando as acusações saírem no Jornal Nacional [telejornal da TV Globo]", continuou. Presidente da CBF desde 1989, Teixeira mostrou ceticismo em relação à imprensa. "Você acredita em tudo o que sai na imprensa? Esquece. Isso é tudo armação", desdenhou o presidente, que diz não acompanhar mais a mídia. "Parei de ver televisão e internet. Não leio mais p... nenhuma. A vida ficou leve pra cacete", completou.
O dirigente foi mais além, e ressaltou a possibilidade de prejudicar os meios de comunicação durante a Copa no Brasil, mais uma vez, claro sem ser punido. "Em 2014, posso fazer a maldade que for. A maldade mais elástica, mais impensável, mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada. Sabe por quê? Porque eu saio em 2015 [da presidência da CBF]. E aí, acabou", afirmou. Mesmo envolvido em escândalos, como de que teria pedido "favores" em troca do voto para a Inglaterra ser a sede da Copa do Mundo de 2018, Ricardo Teixeira é cogitado como o provável substituto de Joseph Blatter na presidência da Fifa, em 2015. O cartola esteve em Natal no último dia 17 de junho e, ao contrário da postura diante da matéria publicada na revista Piauí, fugiu dos repórteres e não falou sobre as denúncias de corrupção atribuídas a ele.
Mesmo envolvido em escândalos, como de que teria pedido "favores" em troca do voto para a Inglaterra ser a sede da Copa do Mundo de 2018, Ricardo Teixeira é cotado como o provável substituto de Joseph Blatter na presidência da Fifa, em 2015.
Os riscos para a Presidente Dilma
Agnelo Alves
Não precisava ser "dilmista de carteirinha" ou desde "criancinha". Bastava ser um assessor ético, correto, honesto, compromissado com o cargo que exerce, com a presidente Dilma e principalmente com os pagadores de impostos para aconselhar à presidente da República o veto total a o quê o Congresso Nacional aprovou: o regime especial que dispensa a licitação e mantêm o sigilo para os custos das obras da Copa de 2014.
E não precisava de argumento maior, mais convincente, do que a demissão de dois ministros do atual governo por denúncia de corrupção. Se com toda transparência e fiscalização de órgãos fiscalizadores como o Tribunal de Contas da União, a Controladoria Geral da União, a imprensa livre - autora das denúncias que motivaram a demissão dos dois ministros - não foi possível evitar os atos desabonadores, o quê a sociedade brasileira pode esperar das obras da Copa, sem concorrência pública e de custos secretos?
Ninguém pode por em dúvida a honestidade pessoal e o espírito público da presidente Dilma Rousseff, cuja conduta na vida pública merece respeito, reconhecimento e aplausos. Acreditamos mesmo que a sua mensagem ao Congresso, aprovada pela Câmara e pelo Senado, terá tido a intenção única de dar velocidade às obras para viabilização da Copa Mundial de Futebol, em 2014. Mas, a sociedade brasileira aplaudiria, com toda ênfase, qualquer atraso, até mesmo a perda do magno evento do esporte mundial, com a condição de se preservar o mínimo de garantia dos princípios básicos no uso do dinheiro público, com a total e devida transparência.
E o exemplo deixado como marca indelével da conduta dos dois ministros demitidos é o que Vulgo da Silva chama de "prova das provas". Como é que o próprio governo vai entregar essas obras? A quais empreiteiras? Como irá fiscalizá-las, quanto aos custos? Não tem Copa, nem nada desse mundo, que valha o quê os dois ministros devem estar passando com o governo, pagando caro, um preço que não vale a pena. Ai está o "Mensalão" como exemplo vivo.
Obras com custos secretos e sem concorrência poderão fazer Palocci e Alfredo Nascimento rirem do mal estar que causaram e ainda não curaram e, provavelmente, nem o tempo como remédio vai curar.
Construtora da Arena das Dunas é investigada em 282 processos
Quem é a empresa que vai receber do Estado R$ 1,3 bi para construir a Arena das Dunas e por que ela é investigada em centenas de processos.
Por Dinarte Assunção
Foto: Cedida
Projeto da Arena das Dunas.
Natal, 14h35 de sexta-feira (8). Uma consulta ao site do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a Construtora OAS revela que, até essa data, há 282 processos de investigação – entre encerrados e em andamento – por indícios de uso inapropriado de recursos públicos em obras estruturantes em todo o País.
A lupa dos órgãos de controle revela pouco, mas suficientemente estarrecedor, sobre a construtora que venceu a licitação – da qual foi a única a participar – para a construção da arena que vai colocar o Rio Grande do Norte na rota do desenvolvimento, a exemplo da Ponte de Todos, a qual ainda não mostrou a que veio.
Forjada no império de Antonio Carlos Magalhães, a OAS integra o patrimônio de César Mata Pires, um dos homens mais ricos do Brasil. Ele é casado com Tereza Mata, filha de Magalhães, que até a morte manteve a Bahia como propriedade particular.
A receita da construtora, uma das quatro maiores do país, se equipara ao PIB de Mossoró, são mais de R$ 3 bi. Parte do sucesso financeiro deve ser reputado ao falecido ACM, que facilitou a participação da OAS em vários governos.
O estádio Arena das Dunas não vai ser o primeiro empreendimento da construtora em solo potiguar. O último foram as obras do cais do Porto de Natal, cujas contas o TCU julgou inidôneas. Trocando em miúdos, a OAS manobrou nos gastos.
Foto: Elpídio Júnior
O Acórdão 538/2008 determinou que a construtora devolvesse aos cofres da Codern a quantia de R$ R$ 335.530,22 por majoração indevida do BDI (índice que norteia as despesas e os lucros de um empreendimento).
Consta ainda outro processo no TCU (016.905/2002-3) no qual a OAS é recorrente da Codern. Em face das irregularidades, o Tribunal de Contas da União recomendou ao BNDES que não liberasse empréstimo ao Estado para obras da Copa até que as irregularidades fossem sanadas.
Protagonista de escândalos
Com frequência, a construtora figura em escândalos. Nos mais recentes, esteve envolvida na fraude às linhas do metrô de São Paulo, no qual um conjunto de construtoras combinou quais trechos iriam ser “sorteados” em seu favor. O escândalo foi revelado pelo jornal Folha de São Paulo no ano passado.
Anteriormente, a construtora apareceu como coadjuvante no curto período em que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, teve seu mandato cassado por receber doações ilegais de campanha. A OAS foi uma das doadoras.
Também em 2010, a empresa e outras empreiteiras foram apontadas pela Polícia Federal como as responsáveis pelo superfaturamento de quase R$ 1 bi em obras de aeroportos Brasil afora.
Em 2009, para baratear os custos das despesas do Rodoanel, em São Paulo, a construtora, então integrante de um consórcio, usou vigas pré-moldadas não previstas no projeto básico. A manobra culminou no desabamento de três vigas em 2009. Dois engenheiros foram indiciados.
Filantrópica política
Se por um lado a OAS figura com frequência na lista de escândalos, por outro não leva falta nas listas (legais) de doações de campanhas. A empresa foi uma das principais patrocinadoras da campanha de Lula em 2002, e até o ex-presidente deixar o Planalto, a construtora tinha obras no PAC garantidas para executar.
Nas eleições do ano passado, foram empregados pouco mais que R$ 16 milhões em campanhas vitoriosas, a maioria do Partido dos Trabalhadores. Na Bahia em especial, doou R$ 1,5 milhão para a campanha de Jaques Wagner, eleito governador. A OAS, a propósito, ganhou a licitação para construir a Fonte Nova, estádio de Salvador para a Copa.
No Rio, ela doou R$ 1 mi à campanha do hoje governador Sérgio Cabral. As obras do Maracanã não ficaram com a OAS porque uma “merreca” de R$ 7 mi, diferença entre a proposta dela e a do consórcio vencedor, a tirara da corrida. Mas foi a OAS quem construiu o estádio do Panamericano, hoje sede do Bota-Fogo, o Engenhão.
Mesmo sendo baiana por natureza, a OAS tem especial interesse em patrocinar campanhas de congressistas do eixo São Paulo-Rio. A maioria é do PT e PMDB e logrou êxito nas urnas.
Governo do Estado tem ignorado recomendações do órgãos de controle
A primeira licitação para contratação de empresa para construção do estádio Arena das Dunas foi deserta, no fim do ano passado, e de imediato os órgãos de controle acionaram seus radares.
Uma análise do Tribunal de Contas da União, a pedido da Procuradoria Geral da República no Rio Grande do Norte, concluiu basicamente três pontos: não estava claro quem assumiria o prejuízo caso o contrato falhasse; não foi adotado parâmetro para aferir o equilíbrio econômico e financeiro do contrato e não houve comprovação da viabilidade econômica do projeto.
Foi quando em dezembro do ano passado, conjuntamente, os Ministérios Públicos Estadual e Federal expediram recomendação ao Governo do Estado, a segunda até então, para evitar que os vícios do primeiro processo licitatório não se repetissem no segundo, do qual a OAS saiu vitoriosa. O Governo não atendeu ao pedido.
Em resposta, o Estado apenas apresentou respostas rasantes: plantas e cortes de engenharia em e que não permitiam aferir ou avaliar os quantitativos e valores unitários para a execução dos serviços de engenharia.
Além disso, despertou a descofiança do Ministério Público, o Governo ter enviado uma planilha de custos em formato PDF e não planilha de dados, onde se permite avaliar a consistência dos dados e fórmulas apresentadas.
O Nominuto teve acesso a um trecho do contrato celebrado entre o Governo do Estado e a OAS e que versa sobre o equilíbrio econômico-financeiro. A imprecisão justifica a preocupação dos órgãos de controle.
“As PARTES terão direito à recomposição do equilíbrio econômico-financeiro do
CONTRATO, quando este for afetado, se houver [...] alterações legais, relativas ou não ao setor, que tenham impacto significativo e direto sobre as receitas ou sobre os custos dos serviços pertinentes às atividades abrangidas pela CONCESSÃO ADMINISTRATIVA, para mais ou para menos”, diz parte do contrato, sem especificar mais nada.
Outras trechos garantem que as partes terão recomposição econômica e financeira no caso de haver alteração dos preços públicos, atos de vandalismos ou instabilidades que alterem o mercado cambial. Um leque de possibilidades para majoração de lucros.
É previsto, no mínimo, um gasto de R$ 1,3 bi na construção da Arena das Dunas. O Governo do Estado vai pagar à OAS de três formas.
Foto: Cedida
O pagamento começa em 2014, quando o Estádio for entregue. Serão R$ 9 mi por mês durante onze anos. Consecutivamente, o Estado despenderá R$ 2,7 milhões nos três anos seguintes. No triênio final, serão parcelas mensais de 90 mil. Serão 17 anos pagando à construtora.
Recorde-se que no ano passado, o Governo do Estado cogitou, com parecer da PGE, contratação direta da construtora que ergueria a Arena das Dunas. Uma empresa, a Populous Arquitetura LTDA, escritório internacional de arquitetura, foi contratada. O argumento: ninguém no Estado poderia fazer trabalho semelhante ao dela.
A Construtora OAS
Fundada em dezembro de 1976, a construtora OAS Ltda. desenvolveu-se rapidamente. Até a primeira metade da década de 1980 atuava apenas na Bahia e partes do Nordeste.
No início da década de 1990, anabolizada pela influência de Antonio Carlos Magalhães, a OAS já era presente em todo o território nacional. A partir de 1994 passou a atuar na construção pesada, incorporando concorrentes menores e se expandindo.
Desde 2003, o foco da empresa é a participação nos investimentos estatais, na área de Petróleo e Gás e Energia, "em grandes empresas privadas e em obras vinculadas aos Programas Estruturais do Governo Federal", informa o site da construtora.
A OAS hoje está se internacionalizando. Poderosa, já deu sinais de que não sai perdendo de qualquer negócio de que participe.
Observatóriodn
Juliska Azevedo // juliskaazevedo.rn@dabr.com.br
O Walfredo Gurgel e Copa
A reportagem da jornalista Maiara Felipe publicada na edição deste O Poti, sobre a situação calamitosa instalada no Hospital Walfredo Gurgel, traz informações dignas de uma dedicada reflexão, e o pior, de muita indignação.
Depois de um período de 12 horas dentro do maior pronto-socorro do estado, a repórter produziu um relato dos acontecimentos e fatos que presenciou em um local onde se tornou cotidiano internar pacientes em corredores, decidir quem vive ou morre na disputa por um leito de UTI e se deparar com a falta de materiais básicos para os procedimentos médicos.
O primeiro questionamento que me ocorre é: esse hospital está localizado na mesma cidade e a poucos quilômetros de onde se pretende erguer um estádio de futebol ao custo de R$ 400 milhões? Onde será derrubado, demolido, um estádio onde até pouco tempo atrás eram realizados os jogos de um campeonato estadual de poucos pagantes, para se construir o sonho de uma Copa?
Parece difícil de acreditar.
Nada contra o sonho do mundial de futebol.
Mas tudo, tudo contra o descaso com que a situação calamitosa da saúde pública é tratada há décadas, por todos os governantes potiguares. Nenhum deles conseguiu resolver o caos do Walfredo.
Ao que parece, ninguém comprou de verdade essa briga nem quis posar de "pai da saúde". Já de "pai da Copa"...
Não vai faltar gente para justificar que o problema enfrentado pela unidade de emergência médica é reflexo de um caos nacional e etc.
É fácil justificar, quando até para fazer um simples check up se pode pegar um avião para São Paulo e se consultar num dos mais caros hospitais particulares do país.
Mais difícil é explicar qual é a "burrocracia" responsável pela falta de um anestésico com prazo de validade para realizar a cirurgia em uma criança que corre risco de morte. Pela falta de luvas de atendimento médico, pela falta de algodão. Pela falta de solidariedade aos profissionais de saúde que lá atuam.
Ao que parece, as autoridades, mesmo as da área de saúde, perderam a capacidade de se indignar ou se envergonhar com o quadro. Viram a página e "vamos em frente", que a Copa do Mundo vem aí com seus milhões em investimentos.
Está quase chegando.
No mundo da bola
por Woden Madruga
Tribuna do Norte, 10 de julho de 2011
Na semana que findou, o mundo da bola teve um desempenho exemplar em alta velocidade. Muitas emoções nas curvas de Brasília. Culminou com a queda do ministro dos Transportes. Pelo que se lê nos jornais, pelo que mostra a televisão, pelo pipocar na internet, comparando-se as cifras vultosas que enfeitam o novo escândalo de Brasília a tropa do ex-ministro Antônio Palocci não pega o time juvenil do colega Alfredo Nascimento. O filho do ex-ministro dos Transportes, de apenas 27 anos, venturoso arquiteto, teve o seu patrimônio aumentado em mais de 80 mil por cento. Cauteloso, o rapaz montou o seu balcão na sede do Dnit, em São Paulo, certamente com varanda gurmê aberta para o Viaduto do Chá.
O cronista remoía esses acontecimentos federais quando percebeu na sua bacia das almas, boas novas vindas das cerrados de Tocantins. Mestre Florentino Vereda, de olho nas bolas (como tem bola!) na Copa do Mundo, made in Fifa e made in CBF, usa sua lupa para descobrir os mistérios da Geometria, tentando, a partir dessa configuração, arrumar metáforas que o levam a encaixar o grande acontecimento esportivo internacional com o mundo real que se estrebucha entre as dunas de Natal, a aldeia de Poti mais tola. Confira o sutil toque de bola de Vereda, nosso ilustre botânico acampado há anos nas matas ralas do Jalapão, onde desenvolve um trabalho sobre o DNA da mangabeira (Hancornia speciosa Gomes):
Ora bolas
Depois do triângulo das bermudas, a figura geométrica que mais fascina os homens é a esfera. Desde quando, olhando o céu, imaginava que seria aquela bola luminosa que surgia em espaços regulares de tempo, acordava os pássaros, desfazia a neblina e afastava as sombras para, algum tempo depois, descambar pelo outro lado e sumir, como acontecia cotidiariamente. Jovens enamorados, à luz prateada de outra bola espacial, diziam loas às suas amadas tentando levá-las ao leito de prazeres. Elas, por sua vez, nem lhes davam bolas.
Ainda hoje vivemos sob o domínio da bola. Alguns dos mais populares esportes jamais poderiam ser disputados sem a bola. Tênis, golf, beisebol, voleibol, basquete e, para nós brasileiros, o maior de todos: o FUTEBOL. Tão importante é o esporte bretão na nossa cultura, que até mesmo a bandeira reveste-se de simbolismos alheios à percepção dos leigos. Em recente trabalho - ainda não publicado - o professor Axel Geburt faz uma releitura do nosso estandarte, decompondo-o em figuras, cores e palavras.
Para o ilustre filósofo, o retângulo verde simboliza o gramado onde a bola é rolada pelos jogadores em busca do gol. O losango amarelo, os gabinetes, onde a bola banhada a ouro rola em busca dos bolsos e do aconchego das contas bancárias com ou sem sotaque. Amarelo também é o riso encabulado dos que tentam esconder acordos impublicáveis e explicar o inexplicável. O azul é o céu, que não tem limites para quem a ordem é o progresso de uns poucos felizardos. Vinte e sete são os atores, representados por estrelas colocadas estrategicamente dentro da bola ao centro da flâmula: 22 jogadores, 1 juiz, 2 bandeirinhas, o presidente da CBF e, em destaque - acima da tal “ORDEM e PROGRESSO"- o presidente da FIFA. “Ao povo, as batatas" Nada que os represente. Nada que eles decidam ou de que participem, a não ser opiniões sobre penteados e coisas insignificantes, como insignificante são os torcedores para os cartolas.
No Brasil, portanto, a bola reina absoluta. Nos campos e fora deles. A Copa de 2014 - mera disputa esportiva - é tratada nos mais altos escalões da República com o sigilo característico dos assuntos de segurança nacional, como se fosse uma guerra de verdade. Grana alta que poderia ser empregada na construção de escolas, hospitais e estradas, será aplicada em obras faraônicas e supérfluas, se não forem desviadas para fins menos nobres. Somente com o dinheiro que se gastará na ARENA DAS DUNAS poderiam ser construídos mais de 80 hospitais de primeira linha, ou mais de 3.000 apartamentos de 120 m², com varanda gourmet, tão em moda entre a sociedade do tal Plano Palumbo. Se preferisse, o governo poderia asfaltar 700 quilômetros de estradas. Isto só no Rio Grande do Norte.
“A nível de Brasil", o custo da Copa 2014 ultrapassará um ano de arrecadação da famigerada e falecida CPMF. Prédios serão demolidos sem que se atente para a necessidade de preservação do patrimônio histórico e arquitetônico. Leis serão alteradas, princípios basilares das licitações desprezados, tudo em prol de um evento que haverá de mudar a história da Nação, no dizer de autoridades interessadas, os suspeitos de sempre. No fim, a culpa será do gandula, já que os mordomos estarão trancados nos gabinetes de luxo, servindo champanhes e uísques tão envelhecidos quanto velhos são os truques e desculpas esfarrapadas dos seus patrões.
Mas, ora bolas... De que serve minha indignação? O futebol é o ópio do povo. E o dinheiro é a mola (ou seria a bola?) do mundo. Taí Pelé - com seu paletó vermelho de cobrador do Santander - que não me deixa mentir. Então, deixemos correr a bola. A grama do Machadão já foi arrancada. E a grana já está brotando há muito tempo e haverá de dar belas notas verdes, embora manchadas de sangue dos tolos contribuintes a quem se negam educação, saúde e segurança, em troca de noventa minutos de embriaguez e alienação.
Tudo a custo zero para o Estado, nadicas de dinheiro público.
Vai dar certo, Zé? Eduardo Alexandre
Quando a estória de Copa chegou a Natal pra valer, com aquele projeto megalômano de novo estádio, hotéis, shopping center, centros administrativos novos para governo e prefeitura, lago artificial, tudo a custo zero para o Estado, nadicas de dinheiro público, o natalense se preparou para testemunhar o espetáculo da mega-implosão de Machadão, Machadinho, todos os prédios do centro administrativo, mais o Papódromo.
BRUUUUUUUUUUUUUUUUUUM!
E a fumaça branca cobrindo tudo: Candelária, Lagoa Nova, Potilândia.
Até que a Tribuna do Norte publicou no dia 03 de março do ano passado matéria com o engenheiro José Pereira da Silva, "responsável pela segurança da estrutura do Machadão", na qual ele assegurou que a implosão do estádio seria impossível, impraticável: "José Pereira afirma que a implosão do estádio é 'inviável' e que outras formas de demolição são caras e demoradas" noticiou a TN.
"A implosão é um dos métodos mais modernos para se demolir, contudo só é utilizada em estruturas fechadas", aponta. Como o estádio é "aberto", não seria uma implosão, mas uma explosão, que é desaconselhada pelo engenheiro. "Numa área densamente habitada como aquela, não há como explodir o estádio".
Mais de um ano se passou sem que nada evoluísse em obras ou novas notícias de como o estádio iria abaixo, o natalense já conformado com a perda do espetáculo da demolição imediata e bombástica do poema de concreto, até que os jornais de 21 de junho próximo passado trouxeram a notícia, através do porta-voz do governo Rosalba Ciarlini: "A implosão do ginásio Machadinho e da parte superior do estádio Machadão – complexo esportivo que se localiza na área onde será erguida a nova praça de esporte – deve acontecer em agosto", disse Alexandre Mulatinho, secretário de Comunicação do Governo, ao RN TV, da Intertv Cabugi.
De tão explosiva a notícia, ninguém se preocupou em ouvir o profeta da implosão "inviável", o engenheiro José Pereira:
"Minha opinião pessoal não vale de nada." Demétrio Torres Muito / O Poti
Edição de domingo, 3 de julho de 2011
Modernidade sem memória
Estudiosos defendem que Natal deveria unir desenvolvimento ao respeito com seu patrimônio arquitetônico
Sérgio Vilar // sergiovilar.rn@dabr.com.br
O diálogo entre o velho e o novo foi marcado por desavenças ao longo da história. Quando a vivacidade do progresso brilha sobre as cores desbotadas da tradição, a sensação é de desenvolvimento, evolução. E na esteira dessas transformações, a identidade cultural construída junto a cada tijolo colocado na edificação se desmorona para ceder lugar a uma nova vida, sem personalidade ou memória. Nas últimas décadas Natal tem destruído sua história. E o obituário da arquitetura moderna da cidade está em vias de registrar mais um "arquiticídio": a demolição do estádio João Cláudio de Vasconcelos Machado, o Machadão.
Natal segue o exemplo de metrópoles espalhadas pelo mundo Ocidental. Nelas, o caos urbano impera: concentração demográfica, congestionamentos, poluição sonora e visual... Se há peculiaridade na chamada Aldeia de Poti, é a característica de cidade em desenvolvimento. Ou seja: ao contrário das metrópoles onde o "progresso" se instalou sem aviso prévio, ainda há tempo para planejar Natal. Mas a inércia, incompetência ou desapego cultural do poder público tem virado as costas para esse planejamento. É o que apontam alguns dos principais arquitetos da cidade. E um exemplo é o histórico e atual desleixo com seu patrimônio material.
O desafio imposto a Natal é unir o desenvolvimento sustentável ao respeito com seu patrimônio arquitetônico. Este é o mote de artigo escrito pelos professores Maisa Veloso, Natália Miranda Vieira e Marizo Vitor Pereira, intitulado Crônica de uma morte anunciada: Arquitetura moderna em Natal x Copa de 2014. No trabalho, eles frisam: "Preservar o patrimônio arquitetônico não significa congelá-lo, transformá-lo em coisa imutável. Nem tão pouco exercitar 'meia preservação', acarretando prejuízo para a proposta arquitetônica original, em nome de uma pretensa requalificação". Não é o que se tem visto nas últimas décadas.
Os professores - todos eles membros do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFRN e do programa de pós-gradução - comentam que o acervo natalense da arquitetura moderna começa a surgir na década de 1950 influenciado pela "Escola Pernambucana" e de influências externas, a exemplo da "Escola Carioca". "Nesse cenário, destacam-se os arquitetos potiguares Ubirajara Galvão, Daniel Hollanda e Raimundo Gomes, formados pela UFPE; João Maurício Fernandes de Miranda e Moacyr Gomes, formados pela Faculdade Nacional de Arquitetura, então Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro". Mas a obra desses arquitetos, em maioria, foi demolida, desfigurada ou está abandonada.
Sociedade sem voz
O Machadão hoje é considerado descartável pelo governo, sem discussão sobre sua importância simbólica e patrimonial. Em seu lugar será construído um complexo multiuso, contendo uma nova arena esportiva. Na versão inicial, estavam incluídos hotéis, teatro, estacionamentos subterrâneos, prédios comerciais, shopping center e os centros administrativos do governo do Estado e da Prefeitura de Natal.
Como afirma a tese dos professores da UFRN, "o caso do Machadão é apenas um exemplo dentre muitas outras mortes que não foram sequer anunciadas, ou apenas comunicadas em breves 'notas de falecimento', em rodapés de um novo texto que está sendo escrito, de uma cidade historicamente ansiosa pelo novo e pela novidade".
E pergunta, após decisão de que não seria possível realizar a adaptação do estádio para a Copa. "Mas, como se chegou a esta decisão? Qual o seu fundamento? Que aspectos foram considerados? Que atores sociais foram consultados para uma tomada de decisão tão séria como esta?".
Arquitetura abandonada
A história é um livro aberto. E no capítulo de Natal, algumas folhas têm sido arrancadas, destruídas. O arquiteto Haroldo Maranhão aponta total desprezo na cidade. "Basta comparar com capitais vizinhas. Mesmo Fortaleza, mais jovem, preserva seu centro histórico. Recife, nem se fala. Aqui, a todo momento arrancamos a lembrança marcada em nosso álbum de família". E cita a má conservação dos prédios tombados ou mesmo os sem legislação que assegurem sua integridade.
"Falta política de preservação. A primeira intervação se deu na Rua Chile, em 1995. Depois voltou o abandono. Em 1999 a prefeitura promoveu concurso para revitalização da praça André de Albuquerque. E veja hoje como está. É preciso inserir na agenda da cidade a questão ambiental e cultural. Extinguir o conflito entre capital financeiro e capital cultural. Progresso é a harmonia entre desenvolvimento econômico, cultural e social", ressaltou.
Para ele, falta incentivo aos proprietários de prédios tombados, já que a edificação se desvaloriza pela proibição de reformas radicais, a exemplo da demolição para construção de espigões. Cita o prédio do antigo Arpege, cujo teto desabou pelo abandono. "A história não é só o que foi feito há séculos. A arquitetura moderna vem sendo destruída ou descaracterizada", alerta.
"Natal tem mania de construir em cima do já feito"
Superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Jeanne Nesi disse enfrentar dficuldades para conservar prédios tombados no bairro da Ribeira e Cidade Alta. "Proprietários são responsáveis pela conservação. Muitos estão abandonados e a fiscalização do Iphan não consegue encontrar os donos para um diálogo amistoso. O prédio do Arpege é um exemplo. Partiremos pra ação judicial".
Não é o caso de outras áreas da cidade, a exemplo de Tirol e Petrópolis, repletos de prédios da arquitetura moderna, sem tombamento e passíveis de demolição. "Em São Paulo também é assim: casarões históricos dão lugar a espigões. Na Europa antiga se preserva; há sentimento preservacionista, iniciado com a Revolução Francesa, quando o povo tomou os monumentos do clero e preservaram. Surgiu ali o tombamento".
Em relação ao Machadão, o Iphan nada pode fazer a respeito. "Os estádios Machadão e Machadinho estão fora da área de tombamento do Iphan, assim como a maioria dos prédios de arquitetura moderna da cidade", comentou Jeanne Nesi, nora de Humberto Nesi, nome do chamado Machadinho. "É um desrespeito. Lamento essas demolições, sem respeito ao patrimônio e a seus criadores, sem qualquer compensação".
Jeanne Nesi ressalta que fala como cidadã e arquiteta. "É uma cultura nossa. Natal tem mania de construir sobre o já feito. O projeto em Recife é de um estádio novo, belíssimo, mais afastado da cidade e sem mexer nos três estádios tradicionais. Não falta espaço nos arredores de Natal. O entorno do novo aeroporto de São Gonçalo do Amarante seria uma ideia", sugere.
AMARGURA
Precursor da arquitetura moderna em Natal, Moacyr Gomes vive hoje amargurado aos 84 anos. Desistiu das entrevistas à imprensa que só o procurou após sacramentada a demolição da sua "menina dos olhos" e lhe renegou atenção quando alertou para o "arquiticídio" da ação quando o assunto começava a ser discutido, há três anos. "O Brasil está sendo assaltado pela Fifa, como foi feito na África do Sul. E a Assembleia Legislativa ainda dará título de cidadão potiguar ao gangster Ricardo Teixeira (presidente da CBF). Não vi legado em 16 copas que aconteceram. Mas meu esforço é inútil. Não vou mais me expor ao ridículo para riso alheio".
Para Moacyr Gomes, o Machadão é consequência de uma série de equívocos vividos há 20 anos na cidade. O "massacre" provocado pelo mercado imobiliário tem como carro-chefe espigões construídos sem planejamento urbano ou respeito aos bens culturais. "Hoje somos uma cidade ingovernável. Quero viver bastante para ver esse milagre de mobilidade urbana. Hoje às 9 horas não se passa pelas principais avenidas, todas congestionadas. Natal será uma cidade infernal como São Paulo, Recife, porque a cidade não se planejou. Não tem mais jeito. Infelizmente o natalense não tem bairrismo, não ama sua cidade".
A solução apontada pelo arquiteto para evitar a verticalização exacerbada encontrada em cidades do mundo com mais de 400 mil habitantes seria dotar as cidades vizinhas de melhor estrutura para atrair o cidadão e evitar a concentração urbana em pequenos espaços e bairros antigos. "Foi o que aconteceu em Petrópolis e Tirol. Já chegou em Lagoa Nova e está indo para Neópolis". E aponta: "No meu tempo de menino, Natal tinha 25 a 30 mil pessoas. Hoje está perto de 1 milhão. Temos prédios enormes, com densidade demográfica exagerada, sem qualidade de vida".
Entrevista: Demétrio Torres
Demétrio Torres preferiu omitir opiniões e encerrar o assunto quando o tema da importância do patrimônio cultural para a cidade foi abordado. Ainda assim, confessou o motivo para a demolição do Machadão: aspectos técnicos, sem consulta à sociedade ou consideração pelo patrimônio cultural àquele que já foi considerado o "poema de concreto" da cidade. O diretor do Departamento de Estradas e Rodagens (DER) acumula também a função de secretário da Copa no novo governo estadual, desde 1º de janeiro. Também participou da atual gestão municipal como secretário de Obras e Viação. Tem longo currículo na área da engenharia e na administração pública.
Quais aspectos foram considerados para decidir-se pela demolição do Machadão?
Todos os aspectos foram técnicos: a localização (região central da cidade onde passam 70% das linhas de transporte), a fácil acesso ao aeroporto, aos hoteis, à rede hospitalar de alta complexidade.
A cidade perde parte de sua memória cultural com essa decisão?
Como é uma obra ultrapassada se comparada aos grandes estádios do mundo, penso que o Machadão já cumpriu seu papel.
Quais atores sociais foram consultados para esta decisão?
Olha, a opção foi feita no ano passado. Assumimos o governo e já não cabia mais esse tipo de discussão (a reportagem não conseguiu contato com o primeiro secretário da Copa, Fernando Fernandes).
Qual seria a opinião do senhor se ainda coubesse?
Minha opinião pessoal não vale de nada. A obra já está em andamento.
Se outro patrimônio da arquitetura moderna, a exemplo do prédio do DER, estivesse passível de demolição, o senhor seria a favor?
Como é, homem? Você não disse que o assunto seria o Machadão?
Disse que o tema seria a arquitetura moderna de Natal e o Machadão seria um exemplo.
Bom, pra mim o assunto está encerrado.
Saiba mais
Arquitetura moderna surgida na década de 50 em Natal
Faculdade de Odontologia
Terminal Rodoviário Presidente Kennedy
Clube da Assem
Edifício Sede do Tribunal Regional Eleitoral
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Edifício do INSS/Ribeira
Arquitetura moderna surgida na década de 70 em Natal
Hospital Geral e Pronto Socorro (atual Walfredo Gurgel)
Estádio Machadão
Edifício da Cosern
Capela do Campus Central da UFRN
Catedral Metropolitana de Natal
AABB
Patrimônio arquitetônico moderno demolido
Sede do ABC Futebol Clube
Hotel Tirol
Patrimônio abandonado ou desfigurado
Hotel Reis Magos
Edifício Sede do Saneamento
Cine Nordeste
Cinema Rio Grande