domingo, 13 de janeiro de 2008

PUXANDO CARRINHOS DE GOLFE

Redinha vista da Ponte Newton Navarro

Sucessão na Intendência

Hermano: minha candidatura é independente
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Micarla espera que Wilma não favoreça nenhum candidato
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Tumulto no mar
"Um cruzeiro de sete dias entre Fortaleza e Natal (RN), passando por Fernando de Noronha e Recife (PE), terminou em clima de tumulto." Aqui



Desabafo na Abelhinha
Um apaixonado por estas terras potiguares desabafa em torno das tantas grandiosidades anunciadas para o ‘desenvolvimento’ do Estado: - Não sou contra esses mega-empreendimentos que priorizam turismo de segunda residência para europeus; mas o que isso realmente significa?

Significa que estamos vendendo barato pedaços significativos do território brasileiro, que se tornarão enclaves de outros países aqui dentro. Ou você acha que brasileiros poderão circular livremente por esses condomínios? Só se for puxando carrinhos com tacos de golfe....
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Ponto Contra Ponto, n’O Poti: Estação Turística
A alta estação de 2008 será melhor que a de 2007?

“A alta estação deste ano tem tudo para receber mais turistas que 2007”, Fernando Fernandes, Secretário Estadual de Turismo.


“Entre as principais causas desse declínio no turismo eu posso citar o problema cambial. Mas tem outro fator importante a ser discutido: o problema de infra-estrutura aeroportuária, que é bastante acentuado em Natal. O aeroporto Augusto Severo é uma prova visível da capacidade administrativa da Infraero. A atual situação desse aeroporto é um absurdo”, Mário Barreto, hoteleiro.
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O carnaval e um pierrot

Cláudio Galvão

O carnaval passara da avenida Rio Branco para a Deodoro. O Grande Ponto estava apequenando, mas, para se chegar ao desfile, passava-se por ele. Por ali, circulava-se, indo ou voltando.

Esquina da Princesa Isabel com João Pessoa. Pausa para tomar um sorvete na Sorveteria Cruzeiro. Pessoas vão e voltam, fantasias e mascarados. Há restos de sambas e marchinhas pelo ar e um delicioso perfume das “lanças”, inocentes e permitidas.

No meio da rua, um pierrot de branco parou em frente à porta. Tira do bolso um lança-perfume e ensopa um lenço que leva ao nariz. Logo seus braços pendem e o lenço se desprende. O pierrot hesita, vacila e começa a cair devagar. Flutua, como que paira, leve, descendo aos poucos até o chão.

Acodem pessoas a socorrê-lo, levam-no não sei para onde.

“Era Newton Navarro”, alguém disse

Natal antiga
À frente da torre, o prédio da Intendência, hoje Prefeitura Municipal do Natal


Ficção Científica em extinção?
Aonde vai o bonde da Ficção Científica?

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A Tenda do Cigano
Chagas Lourenço

Descia pela Ladeira do Sol numa sexta-feira em busca de aventuras nos bares da orla. Pegou a direita no Clube Bandern e seguiu por Areia Preta, passando pelo bar Bate Papo, dirigindo-se depois até o É Nosso. Por fim, encostou no Iara Bar.

Pediu uma cerveja estupidamente gelada para lavar o peritônio.

Nas mesas, algumas pessoas bebiam e fumavam, mas não viu ninguém conhecido. Pagou a cerveja e voltou para a orla, seguindo pela Avenida Circular.

Chegando no girador da rua, sentiu vontade de ir ao puteiro, logo à esquerda, vizinho ao bar Castanhola, mas preferiu encostar no Chaplim, que era o bar mais badalado.

O bar estava cheio de gente e, numa mesa de canto, estavam Paulo e Roberto, dois amigos das freqüentes noitadas.

A mesa ficava encostada à sacada, do lado do mar, e, às vezes, salpicos das brumas batiam em todos. O clima, muito agradável e um pouco frio por causa do vento marinho que soprava, convidava para tomar uma bebida mais quente, destilada.

- Garçon, traz um Teacher’s duplo, por favor!

Foi quando chegou Neuza, uma velha amiga, já dando dois beijinhos em todo mundo, para depois sentar à mesa.

- Alguém tá afim de um baseado?

- Calma menina, acabamos de chegar.

- E daí? Garçom, me traz uma Cerpinha! Vocês sabem que tomando minha cervejinha sou pau pra toda obra, não sabem? Vamos pra boate hoje? Arriscou.

Neuza era uma jovem de 23 anos, universitária, fazia sociologia na UFRN, inteligente, culta, mas, como se costuma falar, meio porra-louca. Tinha mania de dizer que topava tudo, que era pau pra toda obra e, quando embriagada, dizia sempre: sou obra pra todo pau.

Resolveram, logo depois, ir para a Royal Salute. Tina Turner, Barry White eram os sons que rolavam. No pedestal do DJ, Black Zé dançava a noite inteira, sozinho.

Dançaram e beberam até às quatro da manhã.

- E agora, pra onde vamos?

- Tenda do Cigano, gritou Neuza.

- Que tal uma ginga frita no Jangadeiro?

- Você quer ir ver as putas? Francisca, Carioca, Maria Perna Grossa, aquela que vende calcinha na praia?

- Vamos para a Tenda, tomar caldo a cavalo com batida de amendoim!

Encharcaram-se e saíram da Tenda por volta das cinco e meia, o sol já subindo o mar como uma imensa bola de fogo avermelhada.

Cheia de desejos, Neuza perguntou:

- Você já foi ao Corujão?

- Já, mas agora quero mesmo é ir para casa dormir.

- E mais tarde ? Insistiu Neuza.

- Tenho um compromisso às duas da tarde. Vou jogar sinuca, disputando cerveja, lá no Pé do Gavião, na Redinha.

- Tô dentro! Respondeu ela despedindo-se.

O Corujão era o novo motel da cidade. Antes dele, só o Jóia, na Ribeira; a Boite Calango, na estrada de areia que levava à Ponta Negra, dentro do mato; a transamazônica, no mangue, ao lado do Forte, e as casas de recurso. Só depois surgiria o Tahiti.

Mais Chagas Lourenço, Aqui


UMA AULA INESQUECÍVEL COM MALBA TAHAN
(Ailton Salviano – Jornal de Hoje, 2006)

O ano era 1957. A escola, o Colégio Estadual do Atheneu norte-rio-grandense, então um prédio novíssimo e pujante situado na Avenida Campos Sales com a Rua Potengi no elegante bairro de Petrópolis em Natal. A minha turma do 2º ano ginasial, pelo seu bom desempenho em Matemática, matéria lecionada pelo jovem professor Evaldo, fora convidada pelo diretor do colégio, professor Protásio Melo para uma palestra. Na realidade, tratava-se de uma aula-demonstração ministrada pelo genial mestre, educador, pedagogo, escritor e conferencista brasileiro Júlio César de Mello e Souza. Esse professor de nome ignorado por muitos, tornar-se-ia deveras conhecido se fosse chamado pelo seu pseudônimo: Malba Tahan.

Após a turma reunir-se em uma sala especial, o professor Protásio fez a apresentação do palestrante. Dirigindo-se aos alunos, o professor Júlio apresentou-se como Malba Tahan (segundo ele, pronuncia-se "Tan") e disse que estava ali para fazer uma pequena demonstração de uma aula de matemática com a participação efetiva de todos, numa tentativa de quebrar o tabu dessa tão rejeitada e temida disciplina, tornando-a atrativa e interessante.

Perguntou então ao nosso professor de matemática, uma definição bem conhecida e perfeitamente dominada pela turma. Após pensar por um instante, o professor Evaldo respondeu sem hesitação: o quadrado da soma de dois números!

Bem, continuou o professor Tahan, vamos repetir pausadamente a tal definição: "o quadrado da soma de dois números é igual ao quadrado do primeiro número, mais duas vezes o produto do primeiro pelo segundo, mais o quadrado do segundo". Todos vocês dominam essa expressão?

Ao ouvir a resposta afirmativa da classe, o professor Tahan explicou os procedimentos da aula. Vou perguntar indiscriminadamente a cada um de vocês na seqüência, esta definição. Cada um responde apenas uma palavra. Aquele que errar a palavra da vez, levará uma “Cruz na Testa” feita com giz. Por exemplo: o primeiro a quem eu apontar diz: "O", o segundo apontado fala: "Quadrado", o terceiro complementa: "da" e assim por diante.

Quase meio século depois, jamais aquela aula apagou-se na minha memória, tampouco aquela definição. O mais engraçado foi que o primeiro aluno a levar a Cruz na Testa foi um colega que era gago e na sua vez, não disse a palavra por motivos óbvios.

A lembrança desses momentos com o professor Malba Tahan ressurgiu espontaneamente e por coincidência no trigésimo aniversário da sua morte ocorrida em junho de 1974 no Recife. Um dos escritores brasileiros de mente mais fecunda, o insuperável Júlio César de Mello e Souza, nasceu na cidade do Rio de Janeiro no dia 6 de maio de 1895. O personagem Malba Tahan, por ele criado, um exímio contador de histórias, nasceu em 1885 na aldeia de Muzalit na península arábica.

Júlio César escreveu 69 livros de contos e 51 de matemática. É simplesmente notável o seu "O Homem que Calculava". Apesar do nome e dos contos árabes, Júlio jamais esteve na Arábia.

Criador de uma didática própria e divertida, o professor Júlio César era inventivo e ousado, estando séculos-luz à frente do ensino teórico e expositivo da sua época. Crítico voraz da didática dos velhos tempos, encontrou quando estudante no Colégio Pedro II, uma forma inusitada de demonstrar a sua desaprovação pelos métodos de ensino da matemática, tirando notas vermelhas na disciplina que posteriormente, viria a se tornar um invejável mestre. Nos seus tempos de colégio, prenunciando a sua condição de escritor de inesgotável imaginação, para amealhar alguns trocados, fazia redações para os seus colegas e as vendia por 400 réis. Chegou a usar pseudônimos ingleses para ver seus artigos publicados nos jornais daquela época.

Esse mago da didática e dos exercícios matemáticos cultivou durante toda a sua vida uma preocupação e dedicou-se de corpo e alma à causa dos portadores de lepra (hansenianos). Durante 10 anos, editou a revista Damião que defendia o reajuste social desses enfermos. Tamanha era a sua dedicação a essa causa que constou do seu testamento um último pedido – a leitura de uma mensagem de solidariedade aos hansenianos. O seu sepultamento foi simples, não teve honrarias nem homenagens como ele próprio pediu, mas a sua memória atravessará muitas gerações tendo a minha, o privilégio de conhecer esse personagem inesquecível.



Um comentário:

  1. Fiquei conhecendo Julio Cesar ou Malba Tahan agora. Estou lendo "O homem que calculava" e estou fascinada com a inteligência e o "ser diferente" desse gênio. Apaixonei-me...

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