terça-feira, 21 de junho de 2011

CÚMPLICE PASSIVA DO CHEFÃO

Foto: George Fernandes
O OLÉ DE ‘IL PADRINO’ NA IMPRENSA
Adriano de Souza
Novo Jornal, 21 de junho de 2011

A imprensa potiguar foi reprovada no primeiro teste crítico de cobertura da Copa do Mundo de 2014. Portou-se como cúmplice passiva do chefão do futebol brasileiro, durante a visita de Ricardo Teixeira a Natal para mais uma picaretagem que a camelagem chapabranca vende por estratégia de divulgação da cidade e do Matutão da FIFA.

Nenhum veículo ousou puxar o tapete vermelho que cartolas, políticos e gestores públicos estenderam, em coreográfica genuflexão, para os sapatos enlameados do Ricardão I e Único.

O noticiário pautou-se pelo viés mundano, com uma cobertura típica do colunismo social, previamente censurada e restrita aos temas tolerados pelo entrevistado. Chancelouse a “omertà” imposta pela assessoria da Confederação Brasileira de Futebol para impedir qualquer abordagem sobre as propinas que a criatura (e o criador João Havelange, seu ex-sogro) teria recebido da extinta empresa ISL para favorecê-la com direitos de transmissão de eventos esportivos.

Inquéritos que correm na Suíça documentam as negociatas deles e de outros “capos” do ludopédio, bem como o acordo judicial feito pela dupla, que devolveu parte do ervanário em troca do sigilo processual sobre os malfeitos, até o julgamento definitivo.

Como o mundo não é um vasto Rio Grande do Norte, a imprensa européia descobriu e noticiou essa e outras gatunagens, amplificadas pelo livro “Foul! – The Secret World of FIFA: Bribes Vote
Rigging and Ticket Scandals”, do jornalista escocês Andrew Jennings.

A edição brasileira é da Panda Books e pode ser encontrada nas livrarias da aldeia, com o didático título de “Jogo Sujo – O Mundo Secreto da FIFA: Compra de Votos e Escândalo de Ingressos”.

A leitura do livro bastaria para qualquer foca dinamitar a blindagem de Teixeira durante o tal seminário sobre a Copa.

E se o caso era não desperdiçar os minguados reais e as internáuticas pupilas com letras postas sobre papel encadernado, bastaria pedir a São Google a graça de uma busca, e choveriam informações milagrosas que explicassem ao distinto público de quais embaraços “Il padrino” estava a fugir quando proibiu a imprensa de fazer o trabalho dela.

A atuação de Ricardo Teixeira no submundo do ludopédio é tão intensa e extensa quanto o seu reinado (22 anos) na CBF. Ele ainda não foi condenado porque, no Brasil, não basta cometer
crimes para ir à jaula; é necessário ser delinqüente sem cobres e sem conexões com os tubarões da alta phynança e da baixa política, ou seja, com governos de qualquer envergadura moral.

As ações e ligações escabrosas reveladas pelo repórter escocês já haviam aflorado na CPI do Futebol, que o Senado enterrou por conveniência, com o aval de parlamentares alinhados na
“bancada da bola”. A expressão é auto-explicativa e dá notícia, na sua preciosa ambigüidade, do nível das chuteiras que pisam aqueles carpetes macios, nos pés indistintos de senadores e de deputados.

É uma autêntico escrete canarinho de “pais-véios” nos esquemas teixeirizados, vários deles aquinhoados com doações de campanha, assentos nobres nos estádios mundo afora e outros mimos de extração duvidosa.

Outro episódio pedagógico sobre Teixeira e seus métodos foi o chamado “Vôo da Muamba”, que trouxe ao Brasil a taça do tetracampeonato da Copa do Mundo e mais uma série de brinquedinhos adquiridos por jogadores, membros da comissão técnica e cartolas nas lojas de Miami e New York.

Ao perceber o tesouro de Ali Babá que lotava os porões do avião, um consciencioso auditor da Receita Federal reteve as mercadorias para cobrar as taxas de importação regulamentares.

Entre as quinquilharias retidas, destacava-se um conjunto de equipamentos destinados ao restaurante e choperia El Turfe, que Ricardo Teixeira abriria no Jóquei Clube do Rio de Janeiro.

Não demorou muito para o incauto fiscal descobrir os ilimitados poderes do homão. Ricardo fez alguns telefonemas para cabeças coroadas, ameaçando (com o apoio dos jogadores) não levar
o escrete para o encontro de praxe com o presidente da República e o desfile em carro aberto nas ruas de Brasília, se a muamba não fosse liberada sem taxação. Adivinhem o que aconteceu às
mercadorias e ao funcionário da Receita Federal.

Se isso não basta para defi nir o retrato sem retoques de Ricardo Teixeira, ainda é possível pintar o leão a partir da pata, com os traços de uma nota pinçada do noticiário flozô sobre a passagem
dele por Natalópolis.

De acordo com um dos relatos publicados por nossa acabrunhada imprensa, um dos pontos altos do périplo natalense de Teixeira foi o entusiasmo desmedido (e recíproco) no reencontro com um cartola de longuíssimo curso nos mares opacos do futebol potiguar: o indefectível Pio Marinheiro, descrito nas folhas como o melhor amigo de ‘Il padrino’ nas terras de Poti-mais-néscio.

Eu bem que tentei entrevistar Ricardão; não deram nenhuma resposta

Edmo Sinedino


Site da cidade de São Paulo
O staff de Ricardão não deixa ninguém chegar perto sem um acerto prévio

A questão não é ter ou não ter coragem de inquirir Ricardão.

Eu tentei, de todas as maneiras. Chegar nele, tentei por meio de assessoria e até utilizei pessoas do convívio dele (não foi Pio Marinheiro) e não consegui.

Ricardo Teixeira dá entrevista a quem quer.

O absurdo maior é esse. E quem o questiona se sente ameaçado. Primeiro pelos bajuladores sebosos, sempre muitos em todos os locais; depois pelos jagunços que o acompanham.

A ESPN não consegue. Imagine a imprensa do RN.

Não recebi sequer convite para a pallhaçada de TP. E fiquei feliz com isso.

Realmente não fui lá. Não tenho mais estômago para aquele tipo de pantomima.

Mas tentei uma entrevista com ele. Mandei perguntas, todas relacionadas às acusações de Jenings.

Perguntei sobre o “voo da muamba” e da influência de empresários nas convocações.

Inquiri sobre o livro “Jogo Sujo”, os últimos escândalos Fifa.

Perguntei porque ele foge de Jenings da Carta Capital, da BBC de Londres, de Juca Kfouri.

Perguntei sobre a Copa, os gastos da Copa. Suas empresas que lucram com a Copa.

Sobre a atuação da sua filha na Copa do Mundo.

Tudo, tudo que se possa imaginar.

Não tive acesso para fazer as perguntas frente à frente. E nem o meu e-mail questionário foi respondido.

Nem me disseram o motivo de não ter respondido.

Enfim, garanto que fiz minha parte.

Só não tentei chegar a ele por intermédio de Pio Marinheiro. Eu sabia que o próprio Pio se encarregaria de me “queimar”.

Bom, foi isso.

A Imprensa brasileira, a Justiça brasileira, no caso CBF, Ricardão, passa vergonha.

Faz vergonha.

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