Foto: Rh Bezerra
A pressaFrancisco Sales Felipe - advogado
Ao Dr. Moacir – arquiteto do “Poema de Concreto”
Artigos
Tribuna do Norte
20 de Maio de 2011
É o açodamento da correnteza do rio que leva o canoeiro ao infortúnio. A jararaca-do-tabuleiro no sertão quando corre é certeza de picada. A pressa não só frustra a possibilidade da busca pelo perfeito, mas esconde nas suas entranhas a forma silenciosa dos vícios.
Há pressa! Espera-se por três partidas e isto justifica a pressa. O corpo doente estirado no corredor dos hospitais pode esperar por mais um drible no jogo de interesses. A vida não tem qualquer importância para os jogadores de marreta em punho.
Vai começar o jogo. Quanto pagarei por esse ingresso?
O valor da entrada para assistir a três partidas é a soma de um empréstimo contraído perante o BNDES. E qual a garantia? Imóveis do patrimônio do Estado e direito deste sobre royalities de petróleo. A fonte de todos os recursos – empréstimo e garantia – é sempre a mesma: o patrimônio público.
Não tenha dúvida. Depois dos três espetáculos, o BNDES irá buscar os meios jurídicos para receber os seus créditos. Nesta hora, será o patrimônio do Estado do RN que irá responder pela dívida, visto que foi o Estado que prestou a fiança e renunciou o benefício de ordem.
E a pressa, por quê? A pressa vai servir para atropelar as exigências previstas na lei das licitações.
E qual a participação do Privado neste empreendimento? A certeza do lucro sem qualquer risco, vez que é o fundo garantidor (formado por patrimônio tão somente público) que irá garantir o pagamento do empréstimo.
E qual o retorno para investimento de tal monta? O que se contempla depois de uma partida de futebol: redemoinho de latas vazias e de bagaços de cana, sob a reflexão de uma possível onda acústica: goooooool!
E depois? Alguém poderia afirmar que a bilheteria dos jogos entre ABC, América, Alecrim e Santa Cruz será suficiente para cobrir as despesas com a manutenção do “Arena das Dunas”? Talvez alguém esteja contando com a vinda do U2 para ajudar na manutenção dessa soberba.
E a dívida? Esta é nossa. Some-se, ainda, a esta a circunstância agravante o fato de o tempo não devolver ao homem a oportunidade para correção de seus equívocos.
Caríssimo leitor, no alcance do nosso olhar, o Machadão (patrimônio público) será destruído e no seu lugar erguido o “Arena das Dunas”. O Estado irá despender mais de um bilhão de reais para pôr em execução esta mediocridade. A despeito de a educação pública no nosso Estado ser um barraco de taipa que recebe sobejo orçamentário - e só quando a súplica não desiste de ficar à porta do senhor orçamento.
Se nada fizermos para impedir essa vaidade de fundo-de-quintal, que constrói a inutilidade para auferir os votos depositados na urna destinatária de tantos desencantos, em breve a história contará as contas da nossa omissão. E a ignorância estará em todo canto expondo as contradições de quem deveria, por ofício e por liderança, indicar outro norte para o nosso Rio Grande do Norte.
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