domingo, 8 de maio de 2011

JUSSIER: FOMOS VÍTIMAS DE ENGODO DA CBF

Eu só vejo isso como uma negociata. Essa caixa preta vai ter que ser aberta.
Por trás disso tem que ter alguém levando uma grande vantagem. Alguém ou um grupo levando uma grande vantagem. Esse grupo não é só de brasileiros e tem outra nacionalidade envolvida, que será descoberta.


NASEMANA
Segunda-feira, 12/10/2009 às 16h05

“Natal é vítima de engodo da CBF”

O ex-presidente do América, Jussier Santos, diz, nesta entrevista, porque é contra a demolição do Machadão para a construção da Arena das Dunas.

Por Artur Dantas
Fotos: Ricardo Júnior
O ex-presidente do América, Jussier Santos, compõe, em conjunto com professores e técnicos potiguares, um grupo de posição firme contra a demolição do Machadão e a construção do complexo da Arena das Dunas. O principal motivo apontado é a inadequação do local escolhido, de acordo com laudos técnicos expedidos pelo CREA

Nasemana - Houve uma audiência pública da Copa do Mundo na última segunda-feira (5) na Assembleia Legislativa. Qual a avaliação dela?

Jussier Santos -
Foi uma audiência bastante proveitosa onde nós tivemos um posicionamento definitivo. Estou me referindo em primeiro lugar a mim mesmo, mas tenho certeza que outros tomarão o mesmo posicionamento. Nós não somos contra, nunca poderíamos ser contra Natal ser sede da Copa do Mundo. Mas eu acho que em primeiro lugar fomos vítimas de um engodo da CBF.

Vamos para a matemática e rapidamente vamos ver isso. A Copa do Mundo de 2014 terá a participação de 32 países. Na realidade, o que a CBF quer é que o Brasil tenha oito sedes. Oito vezes quatro é igual a 32. Fechou a conta. A CBF, por ingestões políticas ou talvez por precaução, estendeu isso para dez sedes. E ai, sim, por pressão política, ela chegou a 12.

E se ela continuasse seriam 17 as cidades que pretendiam ser sede do Mundial. Essas cidades pagaram uma consultoria. Aqui no RN existe uma caixa preta porque já se falou em R$ 3,6 milhões e na audiência pública realizada na Assembleia Legislativa na segunda-feira (5) o secretário já diminuiu a conta para R$ 2,8 milhões.

Então, ninguém sabe, ninguém viu. Esse projeto é fantasma. É fácil de ser visto isso a partir de um documento do fórum que o CREA promoveu no dia três de agosto. Este é um documento técnico e todas as mesas foram unânimes em demonstrar a inadequação do local escolhido e na audiência pública foi dito isso.



Na ocasião, tivemos o desprazer de escutar que o local foi escolhido em um sobrevoo de helicóptero por consultores da CBF e um determinado arquiteto disse que aquele local onde está o Machadão, Papódromo, Ginásio Humberto Nesi (Machadinho) e Centro Administrativo foi amor à primeira vista.

Qual a sua principal objeção com relação ao projeto da Copa?

JS -
O que nós estamos sendo contra, como cidadãos em primeiro lugar, é o radicalismo do governo em dizer que não existe a possibilidade de mudança. Já houve alteração no projeto de São Paulo, está havendo mudança na Bahia. Por que é que só no RN não pode haver?

Anteriormente, existia um projeto de adequação do Machadão, feito pelo próprio Moacir Gomes, arquiteto que idealizou o Estádio.

Ou seja, tanto é possível ser feita sua adequação que ele fez. E se fosse só o Machadão a ser demolido, nós poderíamos contestar. Mas tinha o argumento de dizer que ia surgir um Estádio Moderno. Porém, será tudo demolido. Você tem o Papódromo que mais dia, menos dia, será o lugar oficial onde sua Santidade, o Papa João Paulo II marca sua presença em Natal.

É ali onde vão dizer no futuro que o Papa esteve. Todo o Centro Administrativo construído no governo Cortez Pereira também será demolido e não faz vergonha a nenhum estado. Há dois anos, foram gastos R$ 18 milhões em uma recuperação da parte estrutural do Machadão. Então, do mesmo jeito que existe o radicalismo do Estado, também existe o de um grupo de cidadãos que será contra Natal ser sede da Copa do Mundo. E não estamos contra o futebol, mas do abuso que querem fazer com a demolição do patrimônio público.



Nasemana - Quem forma o grupo de cidadão que são contra a demolição do Machadão?

JS -
Na audiência convocada por José Adécio, estavam presentes professores de arquitetura e engenheiros. O que me dei conta é que só quem estava defendendo a construção da Arena das Dunas são os componentes do Comitê da Copa. Não existia um grupo técnico, além deles, que defendesse a ideia.

Não é possível que as pessoas que têm uma massa pensante nessa cidade estejam erradas. Será que todos estão errados? Será que não existia um outro local em Natal ou na Grande Natal onde esse estádio pudesse ser construído? O que a FIFA pede é um estádio compatível como as exigências dela. O grupo de professores e engenheiros também é contra a demolição dos outros prédios.

Aquele é o nosso patrimônio do passado e vale muito dinheiro. O que o projeto atual contempla é algo como eu pegar uma casa própria demolisse, construísse uma nova e passasse ao antigo dono por aluguel por um período de 30 anos. A iniciativa privada vai se locupletar de uma área de 47 hectares. Eu só vejo isso como uma negociata. Essa caixa preta vai ter que ser aberta.

Para nossa tranquilidade, o Ministério Público Estadual já tomou uma série de precauções e providência absolutamente dentro da legalidade e da legislação vigente. Por enquanto, resolveram suspender, ainda que momentaneamente esse absurdo.

Nasemana - No início do projeto foi falado que as obras seriam realizadas através uma Parceria Público- Privada (PPP) e a verba pública não seria gasta. Depois que o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, disse que os Estados teriam que desembolsar valores para a construção foi anunciada que seria uma Parceria Privada, na qual lotes do terreno seriam vendidos à iniciativa privada. Em alguma capital escolhida será feito o mesmo projeto de Natal?

JS -
Na verdade, aquilo não é um projeto. É uma maquete eletrônica porque até agora o projeto ninguém viu. Bem, em nenhum Estado eu tive conhecimento que vão fazer algo semelhante ao que será feito aqui. O Amazonas é um Estado que vai construir a sua estrutura, não sei com quais recursos, mas vai construir porque é interesse do governo brasileiro fazer com que a Amazônia seja um produto conhecido.

O Ceará vai adequar o castelão. Pernambuco desenvolveu um projeto a 40 quilômetros de Recife que envolve muito mais do que o Estádio. Agrega uma linha de metrô de superfície de 40 quilômetros que contempla uma área residencial, uma área do distrito industrial e outros projetos que não tem como única finalidade o futebol. Salvador terá uma nova adequação da Fonte Nova, com demolição de parte da sua estrutura.

O Rio de Janeiro já está definido com o Maracanã, ainda mais depois do anúncio da cidade como as Olimpíadas de 2016. O que eu quero dizer que as olimpíadas trazem benefícios e obras definitivas para uma cidade. É o evento que tem todas as nações do mundo, que disputam os jogos naquela localidade. É muito diferente de um local que pode sediar dois jogos de países que não sabemos nem quais serão. Das 12 cidades, quatro serão prejudicadas. A FIFA só visa dinheiro.



Nasemana - Em uma conversa com o secretário da Semurb, Kalazans Bezerra, ele
disse que Natal não teria a possibilidade de Natal ser descartada como uma das sedes da Copa do Mundo porque aqui não tinha um descompasso entre gestores municipais e estaduais, diferentemente de outras cidades. O que Natal pode aguardar para os próximos meses?

JS -
Eu desconheço onde esteja havendo essa batida de cabeça. No RS está definido que o Estádio será o Beira Rio. Haverá uma parceria privada com o Internacional e evidentemente que o Estado vai entrar com recursos. O que o Governo Federal diz é que não haverá verba para a Copa, mas o Bndes terá uma linha de empréstimo, que eu estou entendendo que servirá caso alguma empresa privada queira construir alguma coisa.

Eu pergunto: qual a empresa privada que vai tomar R$ 400 milhões para construir um estádio em Natal para que sejam disputados do jeito que o nosso futebol está? Como ABC e América perigando cair para a série C? Eu não sou uma pitonisa, mas em política e futebol existe uma coisa chamada tendência. Creio que isso é um engodo da CBF. Esse projeto de Dubai para Natal é um verdadeiro engodo. A consultoria já custou o seu dinheiro e o meu.

Nasemana - A decisão do Ministério Público Estadual de suspender as atividades foi acertada?

JS -
Sim, porque não tem nada definido. Quem vai fazer? Quem vai investir? Onde serão colocados os entulhos? Alguém deu uma solução que parece coisa para menino escutar. Depois de passados num equipamento parecido com uma britadeira, vai servir para fazer estradas em Natal. Só se formos fazer a ponte de Miguel Mossoró, de Natal a Noronha. Isso é uma piada completa. Não se deram ao trabalho de prestar atenção aos pormenores legais, que colocou a licitação de chamamento no lugar da de concorrência.

Nasemena - Sua posição é de ser contra a Copa?

JS -
Não, mas sim contra a forma como está sendo feito. Ninguém é louco de dizer que é contra a Copa do Mundo. Porém, em 1972, na inauguração do Machadão, foi realizada aqui em Natal uma minicopa. Não trouxe nenhum benefício para a cidade, mas pelo menos marcou a inauguração do Machadão.

O governo não tem capacidade de concluir projetos. O projeto da Ponte que liga nada a coisa nenhuma, Forte-Redinha, é um exemplo. Há um estrangulamento quando você chega na Redinha porque faltou um viaduto. Você tem uma série de obras que começaram e não terminaram. Isso parece um hábito. O Machadinho nunca foi concluído, e foi na gestão da prefeita Wilma de Faria.

A cidade não tem condições de recuperar uma Cidade da Criança, que foi um projeto acertado. Um Estado que não consegue resolver problemas simples vai ter condições de fazer essa suntuosidade desse projeto de Dubai? Não temos idade para acreditar em Papai Noel nem em Saci Pererê. Dos projetos mais importantes, teríamos o porto para citar. O Estado não teve condições de remover a favela do Maruim para que pudéssemos ter aqui condição de receber transatlânticos de turismo.

O Estado nos engana até hoje com o Aeroporto de São Gonçalo, um equipamento da maior importância. Nós estamos nos acostumando a isso. Tem muita gente disposta a torpedear a construção naquela área do Machadão. Pode ter certeza que muita gente boa vai entrar com uma ação pública contra esse desmando. Se tivermos de pagar o preço de Natal não ser a sede da Copa do Mundo, vamos fazer. Ninguém vai morrer por causa disso. Morrendo estão pessoas que não tem segurança pública, remédios nem hospitais que atendam de forma digna os cidadãos.

Nasemana - Jussier Santos acredita que se o arquiteto que se apaixonou à primeira vista pela área do Machadão tivesse entrado no Walfredo Gurgel e visto melhor a cidade, o amor seria o mesmo?

JS -
Sim, ninguém é criança. Por trás disso existem muitos interesses escusos que não estão sendo divulgados. Se tivermos a infelicidade de ver esse projeto pelo menos iniciado, estaremos acabando com o futebol. O Machadão será demolido. Quem vai construir aquela Babilônia da Arena? Quem vai jogar aqui depois dos jogos da copa? Por trás disso tem que ter alguém levando uma grande vantagem. Alguém ou um grupo levando uma grande vantagem. Esse grupo não é só de brasileiros e tem outra nacionalidade envolvida, que será descoberta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário